Capítulo 6 - Entre o orgulho e o medo

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Estúpida! Estúpida! Estúpida! Estúpida! Estúpida! Estúpida! Estúpida! Muito estúpida! Astronomicamente estúpida! Sou a pessoa mais estúpida da face da terra, com toda a certeza! É a única explicação para eu ter feito uma estupidez tão grande! Eu estava há dois minutos com o garoto dos meus sonhos em meus braços, na minha cama! Prestes a ter o que seria a minha primeira vez! O momento mais esperado na vida de uma adolescente! Apenas um momento mágico e perfeito! E que eu fiz?! Estraguei tudo da forma mais patética possível! Meus parabéns, Sadie Kane! Parabéns por estragar sua chance de uma noite perfeita ao lado do cara que você ama! E sim, todas as afirmações em minha cabeça estavam soando com uma exclamação bem grande no final!

Enquanto me xingava mentalmente andei até a cozinha. Por sorte já era bem tarde e não encontrei ninguém pelo caminho. Depois de convencer a mim mesma de que eu tinha sido realmente muito estúpida, mas que agora não tinha como voltar atrás, comecei a tentar entender o que havia acontecido. Por que, com todos os deuses do caos, eu havia agido daquela maneira? Eu sabia que também queria aquilo. Não só porque ele queria, mas porque eu também queria, eu o desejava. Assim que terminamos o jantar lá no museu eu já havia decidido que iria acontecer naquela noite. E depois que começamos a nos beijar senti que realmente ia acontecer. Então porque eu ficara com tanto medo na hora H? Porque eu tinha me afastado daquele jeito quando ele "avançara" para a segunda base? Ou seria a terceira? Eu já nem sabia mais que expressão usar. Só sabia que alguma coisa me travara e eu só consegui pensar em: "não posso fazer isso, tenho que sair daqui!"

Havia um lado meu que queria me dar uma boa sacudida, uns bons tapas e me obrigar a voltar para aquele quarto imediatamente para terminar o que eu havia começado. Esse lado era orgulhoso e impaciente, não dava a mínima pros meus sentimentos e receios. Ele sabia que eu queria transar com meu namorado, então era isso que eu tinha que fazer. Mas também havia outro lado de mim que estava tremendo de medo. Apavorado só com a ideia de ter que olhar para Anúbis de novo. Ele me dizia que íamos morrer de vergonha se falássemos com ele sobre aquilo ou qualquer outro assunto. E esse lado estava quase ganhando a briga que acontecia dentro de mim. Me sentei a mesa e encostei a testa sobre o mármore frio. Aquilo aliviou um pouco minha tensão e, como um antídoto mágico, me fez reagir.

Eu tinha que voltar pra lá, sabia que tinha. Cedo ou tarde teria que encará-lo de novo. Não podia fugir disso para sempre. Então meu lado medroso teria que aguentar as pontas. Ao mesmo tempo eu sabia que não ia conseguir voltar para o ponto onde paramos, muito menos "dormir" com ele aquela noite. Então meu lado orgulhoso teria que se contentar com isso e engolir o ego por enquanto. Tendo acertado as contas comigo mesma eu passei a colocar minha cabeça para funcionar. Decidi que eu precisava criar alguma distração para não ter que encarar o fato de que havia cortado completamente o clima e ao mesmo tempo manter Anúbis longe de mim. Daí tive uma brilhante ideia! Peguei uma bandeja de prata e comecei a enchê-la de comida. Algumas caixas de suco, sacos de salgadinho, pacotes de bolacha, frutas. De tudo um pouco. Um verdadeiro piquenique em plena madrugada.

Provavelmente era a distração mais ridícula que você já viu, mas ia ter que servir! Não achei que teria nenhuma outra ideia brilhante aquela noite. Respirei bem fundo então e voltei para o quarto. Empurrei a porta com as costas para poder abri-la enquanto segurava a bandeja. Anúbis estava sentado na cama, com o cabelo bagunçado e as roupas amarrotadas. Parecia estar exatamente na mesma posição que eu o deixara quando sai. Apesar do medo de ter que encará-lo eu me senti aliviada ao ver que ele não havia sumido. Estava cumprindo o que prometera afinal. Ele demorou para voltar os olhos na minha direção depois que entrei. Parecia estar com o raciocínio um pouco lento. Pobre deus da morte, ainda devia estar tentado entender o que havia acontecido. Mas eu não podia tentar explicar nada a ele ou reconforta-lo. No momento minha missão era: "fingir que estava tudo bem e agir naturalmente". Deixei a comida em cima da minha mesa de estudos e me sentei na cadeira de rodinhas que havia ali.

Os Encantos de AnúbisOnde histórias criam vida. Descubra agora