Capítulo 5 - O deus da morte se redime

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Não pude fazer nada além de rir. Rir com todas as minhas forças, enquanto ele me olhava sem entender nada. Anúbis havia apertado a campainha da Casa do Brooklyn. Tudo para atender ao meu pedido de não aparecer mais de surpresa e me dar um susto. Vê-lo parado ali na soleira da porta como se fosse um mero mortal era engraçado demais. Não pude me conter. Pensei em explicar porque aquilo era tão engraçado, mas não ia adiantar nada. Ele não entenderia a forma como eu via aquela sua atitude, que era ao mesmo tempo fofa, exagerada e inapropriada. Então apenas o convidei para entrar e fomos até a varanda onde ficava a piscina. Dentro dela Filipe da Macedônia, nosso crocodilo albino de estimação, nadava tranquilamente.

Eu ainda estava um pouco ressentida por Anúbis ter me deixado sozinha naquele momento tão difícil. Mas, não resisti a alegria de vê-lo de volta tão cedo. Fazia menos de um dia que Carter e eu tivemos aquela conversa e acertamos as coisas, fazendo a ordem reinar novamente no mundo. Mais do que brigar com ele, que queria arrumar um jeito de fazê-lo ficar. Tinha que ter uma forma de impedir que ele desaparecesse sem mais nem menos. Das últimas vezes tinha sido assim, ele mal chegava e logo já sumia. Não dava para manter uma relação assim. Teríamos que acertar isso. Mas antes, eu me permiti disfrutar um pouco da companhia dele. Nos sentamos em um dos bancos de mármore perto da piscina, de onde dá para ver boa parte de Manhattan.

- Me desculpe... - falou ele.

- Não, não vamos começar com isso, ok?! - o repreendi na mesma hora - Não quero que gaste o tempo que vai ficar aqui se desculpando de novo. Não sei quando você terá que desaparecer novamente, então melhor deixar as desculpas pra lá...

- Eu não vou mais fazer isso. Entenda, eu tive que fazer. Era preciso. Espero que você entenda agora que você e Carter fizeram as pazes...

- Espera, então você fez aquilo de propósito? - não podia ser verdade o que eu acabara de ouvir. Ou então eu havia entendido errado, era isso...

- O que? Ter sumido para que vocês fizessem as pazes?

- Não. Quero dizer você ter feito aquela cena toda como se fosse me deixar para sempre, só para eu ficar tão mal que Carter teria que ceder e falar comigo.

- Bem, eu não podia prever exatamente como tudo aconteceria. Mas de certa forma sim. Eu sabia que sabia que não ia ter que ficar longe muito tempo. Mas sabia também que tinha que pressionar vocês dois de alguma forma. Ou então não iriam se acertar...

- Como você pode? - perguntei indignada e muito magoada - Sabe o quanto eu sofri por te ver dizendo que ia me deixar? Sabe o quando me doeu? Eu chorei feito uma garotinha!

- Por isso eu pedi desculpas - exclamou ele um pouco afetado - Sadie não queria fazer aquilo, mas entenda, eu não tive escolha. Sei que pra você pe difícil entender, mas para nós deuses é difícil, ou melhor, impossível, não colocar o "bem maior" em primeiro lugar. Por mais que eu quisesse deixar o universo e o caos de lado e ficar do seu lado, eu precisava dar um jeito naquilo. O jeito era fazer vocês se darem bem de novo. E a forma que encontrei para isso foi fingir que eu estava indo embora. Me perdoe...

- Você é um idiota...

E foi só o que eu respondi antes de dar as costas a ele e entrar na casa, indo em direção ao meu quarto.

Ponto de Vista de Anúbis

Como podia existir uma criatura tão irritante e extraordinária ao mesmo tempo? Sadie movia coisas dentro de mim que eu nem sabia que existiam. Provocava sensações que eu nem sabia que eram possíveis para um deus. Bem, talvez fosse porque eu jamais havia amado de verdade. Com alguns milhares de anos nas costas eu ainda me considerava um deus jovem perto de todos os outros, mas já havia vivido o suficiente para ver todos os tipos e formas de mulheres. E acredite, nenhuma delas era nem parecida com Sadie. Tudo nela me intrigava e me interessava. E eu não me importaria de passar o resto da eternidade tentando entender cada mínimo aspecto de sua personalidade.

Os Encantos de AnúbisOnde histórias criam vida. Descubra agora