Capítulo 14 - Tudo resolvido, ou quase isso...

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- Posso não poder fazer nada contra você. E você pode até me prender aqui pelo tempo que quiser. Mas não pode me obrigar a ajudá-la com nada – Me interrompeu a deusa ainda parecendo bem irritada. Pelo jeito não ia ser fácil convencê-la a colaborar – Então é melhor você ir desistindo e me mandando de volta agora mesmo!

- Não farei isso – retruquei, deixando o tom amigável de lado e adotando um mais sério e firme – Olha, não foi nada fácil encontrá-la, muito menos convocá-la até aqui. E acredite, eu não faria isso se não fosse realmente necessário. Claro que não posso obrigá-la a me ajudar, mas ao menos ouça a minha história.

- Não creio que consiga me convencer, qualquer que seja sua história, garota – desdenhou Seshat – Mas está bem, vá em frente.

- Ok – respirei fundo para não xingá-la naquele momento. Eu ainda precisava ser no mínimo educada se quisesse ter uma chance de contar com a ajuda dela – Andei pesquisando sobre você e vi que tem um histórico muito bom em convivência com os humanos. E eu conheço um deus que está tendo alguns problemas tentando viver como mortal. As emoções e sentimentos estão deixando-o confuso e perdido. Ele quer aprender a lidar com isso, mas está sendo mais difícil do que esperava. Então eu pensei que, como você já tem mais experiência no assunto, poderia tentar dar uns conselhos a ele, ou sei lá, pelo menos contar como você fez para se dar tão bem aqui entre os humanos...

- Tá, tá, já chega, não precisa terminar. Já entendi seu problema. Quer dizer, o problema desse tal deus aí...– me interrompeu de novo ela – E veja bem maga... como é mesmo que você disse que se chamava?

- Sadie...

- Sadie, claro. Veja bem, maga Sadie, como deve imaginar eu não saio por ai prestando favores a deuses. Como você bem disse, eu estou acostumada a lidar com humanos. E pra falar a verdade eu prefiro mil vezes eles do que os imortais. Aliás, faz um tempo que não falo com nenhum dos deuses egípcios, e não pretendo abrir uma exceção apenas para atendê-la – explicou Seshat acabando com minhas esperanças – Mas para que não diga que sou má vou te dar um conselho. Não deixe que nenhum deus metido a besta lhe diga o que fazer. Mande-o procurar ajuda em outro lugar.

- O problema é que ele não pediu para eu fazer nada – confessei – Na verdade ele nem sabe que estou aqui, nem que convoquei uma deusa para tentar ajudá-lo. Ele provavelmente não me deixaria fazer isso, se soubesse. Não ia deixar eu me expor ao perigo dessa maneira. Mas eu não me importo, porque nada é mais importante para mim do que a felicidade e o bem-estar dele – falar daquilo deve ter me deixado tão vulnerável que acabei soltando tudo, até coisas que talvez não devesse – E não sei como eu faria para viver sem ele, então estou fazendo isso por mim também...

- Espere, então está querendo dizer que você tem sentimentos por esse tal deus? - perguntou a deusa da escrita agora parecendo interessada no assunto.

- Eu o amo. E suponho que ele também me ame, já que está disposto a enfrentar tudo isso por mim – admiti, já que não fazia mais sentido esconder nada.

- Interessante – murmurou Seshat em minha cabeça, e ainda que eu não conseguisse vê-la fisicamente, podia sentir que estava com uma expressão pensativa naquele momento – Bem, maga Sadie, parece que hoje é o seu dia de sorte. Vamos lá, me leve até seu amado, vou fazer o que me pediu.

***

Não sei o que levou Seshat a decidir me ajudar. Pode ter sido minha melancolia que a deixou com pena. Pode ter sido que eu a tenha deixado tão entendiada que ela resolveu acabar logo com aquilo para eu poder mandá-la de volta. Pode ser também que ela simplesmente decidiu deixar a bondade tomar conta de seus atos. O mais provável, no entanto, é que ela tenha se identificado com minha história com Anúbis, já que, como eu havia lido naquele livro antigo, ela já tivera diversas histórias de amor com mortais. Mas sinceramente, eu estava alegre demais para me importar com aquilo. Seja por qual motivo fosse, eu ia conseguir o que eu queria. Ia conseguir dar um brilho de esperança ao meu amado, como havia dito Seshat.

Os Encantos de AnúbisOnde histórias criam vida. Descubra agora