Capítulo 5 - Cai a Máscara

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O clima ruim na pequena caravana não se abrandou nos dias que se seguiram. Dimitri não conseguia compreender Flora. Se ele não a tivesse salvado no momento certo, coisas terríveis teriam acontecido. Aqueles sequestradores haviam recebido o que mereciam, mesmo assim, ela estava inconformada com as mortes deixadas pelo caminho.

Para Dimitri, o único arrependimento era de não tê-los interrogado antes de matá-los. Assim, poderia descobrir quem os enviara. Uma coisa era certa: ninguém pagaria para que matassem uma jovem indefesa sem um bom motivo. Quem quer que fosse o responsável, sabia que se tratava da princesa herdeira de Hynneldor, e se encarregaria de terminar o que começara.

Por sorte, Flora era jovem e bela. Devia sua vida a isso. E também ao fato de aqueles serem amadores, é claro. Um assassino experiente jamais se delongaria com uma vítima apenas para se aproveitar dela. Ao invés disso, concluiria o trabalho de forma rápida e eficiente. Com um suspiro, Dimitri interrompeu sua linha de raciocínio e olhou para as próprias mãos. Flora tinha razão, estavam manchadas de sangue. Para ele, presenciar a morte, ou até provocá-la, era algo natural. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se envergonhado.

Lá fora, a luz da lua adornava o céu noturno, enquanto Nathair e Flora dormiam profundamente na carruagem em movimento. Flora ainda usava seu vestido em farrapos, e Dimitri prometeu a si próprio que compraria roupas para ela na próxima cidade. Por sinal, seria uma ótima ideia que ela abandonasse o vestido da época em que vivia em Ashteria. Facilitaria a tarefa de ocultar sua identidade.

Assim, quando chegaram à cidade de Rivicour, Dimitri deixou Flora aos cuidados de Nathair enquanto saiu para comprar o vestido, além de mantimentos para o resto da viagem. Já estavam se aproximando do destino final, em apenas um dia chegariam a Amitié. Rivicour era uma cidade à beira do Rio Ruidoso, e Dimitri se aborreceu em retornar à carruagem sem ter conseguido um barco que os transportasse rio acima. Mas eles podiam prosseguir com a carruagem, não era problema. Nada poderia diminuir o prazer que Dimitri sentia com o iminente fim de sua jornada de uma vida inteira.

Ou, pelo menos, se atreveu a pensar isso por um instante.

Carregando nos braços as provisões e o vestido recém-comprado, sobressaltou-se ao descobrir que a carruagem não esperava onde deveria. Desaparecera. Irado, atirou ao chão tudo o que trazia consigo, amaldiçoando o momento em que se afastou de Flora mais uma vez. Ainda praguejando, começou a procurar marcas de batalha no chão, mas nada encontrou.

*

– Tem certeza de que quer fazer isso? – Nathair perguntou a Flora, não pela primeira vez. A carruagem movia-se a toda velocidade, seguindo a estrada que margeava o Rio Ruidoso.

– Eu não poderia fazer diferente, depois de tudo o que você me contou! Como pude confiar em Dimitri?!

– Não se preocupe, nós vamos cuidar de você agora.

– Muito obrigada, Nathair! O que seria de mim se não fosse você? Ainda bem que você tem esses amigos que podem nos ajudar! – Flora segurava as mãos dele, que lhe serviam como fonte de coragem.

Flora ouviu dele muitas histórias terríveis sobre Dimitri. Desde a vez em que massacrara a Vila das Crianças, no longínquo reino de Vulcannus, até o dia em que incendiara um acampamento de pescadores de seu próprio território, a mando da maligna sacerdotisa de Kantheria. Por fim, contou-lhe sobre como ele a venderia a seu irmão, Fausto Valaskes, em troca de uma recompensa que reergueria o nome da família Fahd. E, também, o que faria com ela, caso se provasse que não era, de fato, a princesa perdida.

A Rainha da Primavera - 2ª EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora