Capítulo 7 - Amitié

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Logo cedo, Malve retirou as ataduras de Dimitri, e, para espanto de Flora, todos os ferimentos já estavam cicatrizados. Todos, exceto aquele que ela lhe causara. Aparentava curado por fora, mas ainda estava dolorido por dentro.

- Esse é muito profundo, vai precisar de mais alguns dias - disse Malve, enquanto examinava.

- Não temos alguns dias. - Respondeu Dimitri, vestindo sua camisa e recolhendo suas espadas gêmeas. Flora permaneceu calada, com a pequena Aura em seu colo, enquanto os dois discutiam:

- Não está pensando em sair assim, está?

- Já estive pior.

- Você não pode, está debilitado! Como vai lutar sem o braço direito?

- Eu ainda tenho o esquerdo.

Com apenas uma das mãos, o príncipe de Datillion desencaixou a corrente que unia as duas espadas, e guardou-as nas bainhas presas ao cinto. Sem saber ao certo o que faria com a corrente, prendeu-a ao cinto também.

- Os exércitos inimigos batem à nossa porta e seus espiões espreitam através dos olhares mais amigáveis. Se eu não levar Flora agora, posso perder a chance para sempre.

Sem argumentos, Malve deu um abraço afetuoso em Dimitri, e, lançando-lhe um olhar de preocupação maternal, desejou-lhe boa viagem:

- Que Zyria esteja com vocês.

Pouco depois, Flora e Dimitri estavam novamente na estrada. Cavalgavam lentamente, porém apreensivos, pela estrada que levava a Amitié. Por um curto período, a jovem fora tola o suficiente para imaginar que poderiam ficar mais tempo na tranquilidade do lar de Malve, mas Dimitri lhe inspirou a seguir em frente. Precisavam concluir a missão antes de terem o privilégio do descanso.

Durante a viagem, os dois não encontraram obstáculos, mesmo assim, Dimitri sabia que havia algo errado. A estrada estava abandonada, e os campos próximos à capital mostravam-se silenciosos por demais. Inicialmente, não soube o motivo da desolação, mas descobriu ao entardecer, assim que avistou a cidade ao longe.

Amitié era uma cidade grande e barulhenta, que crescera durante centenas de anos, ao redor do poderoso Castelo do Vento. O castelo, formado por sólidas torres de pedra, remontava a uma era muito antiga, na qual o mundo ainda era jovem e os Homens da Neve caminhavam por entre os humanos. Os anciãos diziam que, mesmo naquela época, a Guerra Sem Fim já havia começado a atormentar a quietude de Hynneldor, e esse foi o motivo que levara à construção da fortificação.

Saindo do centro do castelo, uma única torre branca se destacava das demais, acinzentadas, e erguia-se até o céu. Todo o castelo era circundado por uma robusta muralha de pedra, entremeada de torres de vigia. Ao lado de fora, a grande cidade se estendia para todas as direções, onde milhares de pessoas corriam de lá para cá, aflitas. A cidade, por sua vez, era contornada por uma segunda muralha, ainda mais imponente que a primeira, e as pessoas que ainda estavam para fora do imenso portão corriam, desesperadas, para dentro.

Sem perder tempo, Dimitri pôs o cavalo a galope. Quase todos os camponeses já estavam seguros no interior da cidade, quando o gigantesco portão iniciou seu fechamento. Os poucos que ainda estavam para fora abandonaram toda a carga que levavam. Alimentos, equipamentos e até mesmo animais foram deixados para trás na correria, o mais importante para cada um era salvar-se e salvar sua família. Se o portão estava sendo fechado, o motivo era um só, o mesmo motivo que fazia com que todos os sinos tangessem e os tambores soassem: o ataque à cidade era iminente.

A Rainha da Primavera - 2ª EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora