Capítulo 9 - Batalha no Salão dos Quadros

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Flora atravessou inúmeros corredores escuros da masmorra, até que, ao fim de um lance de escada, a luz da lua minguante cegou-a momentaneamente. Estava fora do calabouço, em um salão iluminado do castelo. Ali, tudo o que encontrou foi morte e destruição. Por onde quer que passasse, via corpos inertes, tanto dos guardas do castelo quanto do exército inimigo, o rico mobiliário do castelo transformado em fogueiras, e o assoalho coberto de cinzas.

Ao tentar retornar por onde viera, viu seu caminho barrado por uma intensa batalha que se desenrolava entre os atacantes que haviam invadido pela masmorra e os poucos defensores que tentavam se reorganizar após o ataque surpresa. Impedida de prosseguir, esgueirou-se pelos salões adjacentes por um longo tempo, até que finalmente alcançou uma entrada para o grande Salão dos Quadros.

Estava pronta para adentrá-lo, quando ouviu vozes. Então recuou, se espremeu no corredor lateral onde estava e se esforçou para ouvir e tentar descobrir quem estava lá dentro, mas ela não conhecia a maioria das vozes que ali se projetavam.

– Alteza, é inútil! Precisamos nos render, ou estaremos condenados! Brodderick Carnell já nos derrotou, a Sala do Trono está repleta de seus soldados. O próximo passo será riscar Amitié do mapa!

– Mas aonde nossa rendição nos levará? De um jeito ou de outro, ele nos matará a todos!

– O que ele realmente deseja é resistência! O único propósito dessa guerra é satisfazer seus caprichos de glória em campo de batalha, e não podemos mais lhe dar esse prazer!

– Calados, todos. – Flora reconheceu a voz de Fausto Valaskes. – Minha esposa já foi levada?

– Sim, Vossa Alteza. Ela conseguiu escapar com seus filhos. Estão se dirigindo à Fortaleza do Pico Nevado, nas Grandes Montanhas.

De onde estava, Flora conseguia ver os vitrais das portas que levavam a uma grande sacada e davam vista à guerra que se desenrolava. As defesas foram ineficazes e a cidade ardia, em inúmeros focos de incêndio que iluminavam a noite. Os poucos guerreiros remanescentes de Hynneldor caíam, um a um, enquanto os simples moradores da cidade eram presos a correntes de ferro e levados, em fila, para servirem como escravos.

– Senhores, este castelo resguarda o último Santuário do Céu. – Fausto voltou a falar. – Por mais que eu saiba que nossa resistência será ínfima, nós precisamos nos arriscar. Brodderick Carnell jamais poupará o santuário, e toda a esperança de Hynneldor depende disso. É por isso que repito: esse santuário não será profanado enquanto eu viver! Vocês estão comigo?

Flora ouviu inúmeras espadas serem desembainhadas e várias vozes, em uníssono, bradarem um grito de aprovação. No mesmo instante, duas portas duplas, uma em cada extremidade do salão, foram escancaradas ao mesmo tempo. Por uma delas, entrou um batalhão de soldados de Hynneldor. Pela outra, irrompeu um grande número de soldados de Vulcannus.

Homens armados preencheram o salão, e logo começaram a se digladiar. Mas um homem, em especial, prendeu a atenção de Flora. Brodderick Carnell era alto, forte, usava uma armadura negra imponente e bradava ordens e palavras de incentivo a seus comandados. Mas nada disso realmente importava. O que atraía o olhar de Flora era a cor de sua pele, escarlate, como Flora nunca vira antes.

Por um momento, ela se lembrou de sua vida na Ilha de Ashteria. Os sollaris com quem convivera possuíam orelhas pontudas e pele esverdeada. Que saudade! Lágrimas brotaram em seus olhos, mas Flora secou-as antes que escorressem. Se queria rever sua família algum dia, sabia que o primeiro passo seria sobreviver àquela guerra. Mas o homem de pele vermelha era cruel, com certeza não era humano e não tinha medo da morte.

A Rainha da Primavera - 2ª EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora