17. A volta

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Visão Renesmee

     As patas do gigante lobo afundavam na neve, deixando inúmeros e enormes buracos pelo caminho. As árvores nada mais eram do que restos secos e cobertos de tufos brancos e gélidos. O lobo atravessou alguns troncos caídos que eram camuflados pela camada fofa da neve e saltou atrás do mais largo que havia ali.

     Enroscou-se em volta de vários pontinhos escuros que causavam grande contraste naquela imensidão branca. Ao aproximar-me, meus olhos captaram que aquele enorme animal não era um lobo, mas sim uma loba. Uma mãe loba. Que agora aninhava seus pequenos filhotes na tentativa de aquecê-los.

     O calor que aparentemente conseguia transmitir aos seus pequenos lobinhos, nada combinava com o ar congelante a sua volta. Tudo parecia tranquilo e extraordinariamente quieto. Podia-se ouvir apenas o cortar áspero do vento, que trazia leves e mínimos respingos de neve. Acompanhados do bater quente e baixinho de vários corações em sincronia com um bater mais alto e definido.

     O frio pareceu aumentar ao mesmo tempo em que a mãe loba ergueu-se em sobressalto, parecendo capturar alguma coisa no ar. Seus dentes afiados que se esporam deixaram claro o que aproximava-se dela e de seus filhotes. Perigo.

     Alarmada e precisamente ágil, ela acolheu dois dos pequenos lobos pela boca, levando-os a um lugar oculto e seguro, do qual ficava longe da vista de qualquer um que se aproximasse. Logo ela ressurgiu, repetindo a cena de resgate com outros dois filhotes. Deixando faltar apenas um deles.

     A presença obscura e sombria que se aproximava parecia ser quase palpável. Após um curto tempo, a mãe loba apareceu correndo para recolher seu pequeno e último filhote que sobrara, encolhido em uma minúscula bola de pelos.

     Ela acariciou o topo de sua cabeça com o focinho, antes de acolher-lhe pela boca. Mas antes que pudesse andar poucos metros, uma sombra os cobriu por inteiro ocultando-os. Rápido e inesperado, o uivo doloroso da loba ecoou na floresta coberta de neve tão forte quanto o estalar agudo de um chicote.

     O silêncio pareceu engolir tudo em seguida, e a sombra fantasmagórica os descobriu. A loba e seu filhote não encontravam-se mais lá. No lugar deles havia agora uma grande quantidade de sangue destacando-se na branquidão da neve.

     Eu acordei chorando.

     Olhei a minha volta, assimilando o balançar do navio e a leve claridade da lua que arrastava-se pelo quarto através das pequenas janelinhas. Minha respiração pesada e rápida confundia-se com os altos roncos de Jacob. Ele continuava dormindo tranquilo e pesadamente, como sempre costumava ser.

     Percebi que estava soando frio. Minha pele estava repletamente arrepiada, mas de uma forma estranha e incômoda. Não era como os arrepios prazerosos que Jacob sabia causar em mim com facilidade. Era um de congelar o dorso da espinha, causando uma sensação de mal estar.

     Levantei-me da cama e atravessei o quarto em direção ao banheiro. Ainda com a respiração razoavelmente pesada, levei minhas mãos levemente trêmulas até a torneira, abrindo-a para lavar meu rosto. A água fria pareceu intensificar meus arrepios e o embrulho que havia em meu estômago.

     Fechei a torneira e apoiei as mãos na pia, ainda com as cenas daquele pesadelo rodopiando em minha cabeça. Aquilo parecia tão real, e ao mesmo tempo tão confuso. O sangue vívido ocupando o lugar daquela doce mãe loba e seu inocente filhote... De forma incógnita, mas ainda assim cruel.

     Os roncos pararam de transbordar pelo ar, deixando o silêncio reinar no ambiente. Ouvi Jacob se remexendo entre os lençóis, até que sua voz ainda meio sonolenta finalmente murmurou.

Nessie & Jacob. Ardentemente.Onde histórias criam vida. Descubra agora