"A cor do som não se propaga no vácuo.
Sendo a vida um vácuo,
logo, não existe cor.
Não existindo cor, logo, não existe vida.
Não existindo vida, logo, não existe vácuo...
Então tudo não passa é de muito som,
sem cor, sem vida, e sem vácuo."
Visão Renesmee
O reflexo no espelho trazia agora a mulher que tinha se perdido durante aquele período. Faltava finalmente muito pouco para ela ser resgatada de si mesma e dessa vez não impediria ninguém de fazê-lo. Essa noite eu afogaria de vez as semanas que se arrastaram entre silêncios intermináveis de gritos. Tudo ficaria para trás e eu traria comigo somente este novo reflexo.
Meu corpo se encontrava intrigantemente nervoso. Ansioso. As borboletas que a tanto tempo ficaram adormecidas dentro de meu estômago voltaram finalmente a dançar. E nessa noite elas estavam demasiadamente intimidantes e inquietas.
Soltei o coque que havia feito em meu cabelo durante o banho, deixando que os fios deslizassem e caíssem ajeitando-se sozinhos em suas ondulações naturais. Respirei fundo, tocando a maçaneta e sentindo as borboletas saírem de controle. Me desfiz de qualquer luz que não fosse natural a cada cômodo da casa e a escuridão seguiu cada passo que dei.
O fulgor irradiante da lareira misturava-se com a do meu eterno sol particular. Embora os raios que atravessavam a sala - vindos dele -, chamassem muito mais minha atenção que as do próprio fogo. A lareira de pedras formava um arco em volta do balançar vivo das chamas, enquanto Jacob as analisava em silêncio.
O assisti absorver o ar por curtos segundos, virando o rosto em seguida para me olhar. A intensidade nunca abandonava aqueles olhos tão negros e expressivos, e desta vez a única diferença estava na amplitude que tinha ganhado aquele analisar. Talvez pelo simples fato daquela troca silenciosa de vivacidade estar sendo novamente recíproca, como ele sempre mereceu que fosse.
Meus pés descalços tocaram o chão frio em direção ao calor de Jacob. Eu sentia como se estivesse caminhando rumo a nossa primeira vez. Talvez porque realmente seria, de certa forma. Era um recomeço. Um reconstruir após uma longa linha destroçada. Seria a primeira vez desse novo eu, tão próximo de se tornar novamente nós.
Ajoelhei-me a sua frente, sentando-me. Fiquei aliviada ao perceber que o conforto que eu sempre senti com a sua presença não me abandonou naquele instante. Qualquer memória ou dor que não dissesse respeito direto a pessoa que eu não conseguia despregar os olhos agora, não faria parte dessa noite. Eu não seria mais a principal peça a impedir que os cacos fossem recolhidos. Porque agora tudo retornava a ser somente Jacob eu, presos pelo olhar, apenas.
Uma sensação conhecida se apoderou de mim. Como se eu fosse mais uma vez aquela menina inexperiente e ruborizada sentada em uma pedra, com os pés na água e a vontade curiosa de receber o primeiro beijo. Sorri, abaixando a cabeça por voltar a me sentir tão estranhamente retardada.
- Qual a piada? – os dedos de Jacob foram suaves ao levantarem meu rosto. – Você está diferente hoje. – sondou não conseguindo esconder uma linha curiosa em sua voz.
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Nessie & Jacob. Ardentemente.
RomanceNessie irá aprender com a imprevisibilidade da vida que maturidade é algo que vai muito além de um crescimento e uma mente avançada. Onde ela e Jacob terão de lutar eventualmente contra forças maiores para poderem continuar unidos, mas que descobrem...