A salvação

Capítulo 15

/FLAVIA/

Quando voltamos para casa tudo estava calmo. Pedi para que Fernanda fosse para o quarto e fui para o jardim, onde minha provavelmente estaria chorando.

-oi- me sentei do seu lado no banco.

-obrigada por ter tirado Fernanda.- disse com a voz embargada.

-ela ouviu tudo- suspirei- ela ja tinha me feito essa reclamação antes.

-eu sinto tanto- limpou o rosto.

-não posso impedir que isso aconteça mãe, mas vocês me prometeram que não iriam levantar a voz um para o outro, se Fernanda estivesse em casa.

-eu sei...

-ela é pequena e acha que tem a melhor familia do mundo. - me levantei- não acabe com o mundo colorido dela.

Sai do jardim, deixando minha mãe sozinha. Pode parecer que eu fui grossa, que não me interessei pelo o que aconteceu. Mas não é a primeira vez que acontece e eu sei exatamente o motivo. Cresci com os dois discutindo por tudo, resultado de um casamento arrajado pela familia. Me tornei modelo, para viajar direto e não ter que ver as brigas, mas depois que minha irmã nasceu e começou a entender as coisas, tive que intervir nessas brigas.

-Flavia?- um voz masculina veio da sala.

Respirei fundo e me virei para encarar meu pai.

- estou ocupada cuidando da minha irmã.- disse rude.

Eu os amava mais que tudo nessa vida, mas não aceitava as brigas e nem aceitava que minha irmã tivesse que presenciar tudo.

-só queria dizer que estou indo embora- olhei para a mala do seu lado- eu as amo muito e irei voltar. Cuida da sua irmã.

-eu não entendo- meus olhos ja estavam cheios de lagrimas- não pode fazer isso papai. Não pode destruir a vida de mais uma filha sua. Ja não basta ter me dado a pior infancia do mundo? Tem que fazer com que Fernanda sofra também.

-eu não posso mais ficar, sua mãe...

-se não a ama, nunca deveria ter tido filhos.- respirei fundo e me acalmei- você vai falar com Fernanda.

- vamos viajar?- Fernanda chegou na sala e andou até o homem que estava parado ao lado de sua mala.

-filha querida- ele me olhou por um instante e se abaixou- eu irei viajar, mas ligarei sempre pra falar com minha princesinha.

-mamãe vai também?- perguntou animada- quero um irmão. Não aguento mais a Flavia.

-não fale assim da sua irmã- passou a mão em seus cabelos- me promete que não vai deixar o Gabriel se aproximar dela?

-prometo- sorriu e me olhou- só quem pode é o Bernard.

-Fernanda- a repreendi e meu pai me olhou curiso e sorridente, mas eu estava séria demais, tentando segurar o choro.

Minha família estava desmanchando e eu não sabia como Fernanda ia encarar tudo isso. Ela não merece, nenhuma criança merece.

-ja vou indo- se aproximou e beijou minha testa- depois teremos uma conversa séria mocinha.

Ele se virou, pegou sua mala e caminhou até a porta.

-pai- choraminguei e corri até seus braços. - vocês sempre souberam contornar os problemas. Não pode nos deixar.