Capítulo Nove

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COMO previra, o período não veio no dia marcado no calendário. Ela não se sentiu inchada ou dolorida, como normalmente se sentia naquele período do mês. O teste de gravidez caseiro deu positivo.

Estava nas nuvens. Sorrisos chegavam-lhe aos lábios com freqüência. Ela tinha desejado tanto um bebê e agora teria um. E que bebê! O filho de Spencer seria deslumbrante. Mal podia esperar para senti-lo dentro dela, vê-lo, segurá-lo. Um bebê em maio. Nove meses pareciam uma eternidade.

Naquela noite, parada, despida em frente ao espelho do banheiro, examinou o corpo com atenção. A gravidez não era visível. Os seios não estavam maiores do que antes; a barriga continuava lisinha. Presumiu que ainda demoraria várias semanas até detectar a primeira mudança.

Mais tarde, deitada na cama com o mesmo sorriso de encantamento que tinha ido e vindo o dia inteiro, pensou a respeito. Não tinha pressa de que em seu corpo a gravidez ficasse visível. Sempre tivera a intenção de manter sigilo sobre a gravidez, simplesmente porque era seu doce segredo pessoal e queria saboreá-lo. Pretendia esperar para contar aos diretores da empresa sobre o bebê no segundo trimestre e só quando a barriguinha começasse a aparecer. Alguns desaprovariam a decisão de ser mãe solteira, mas até então ela estaria num estágio avançado da gravidez e teria encontrado argumentos suficientes para acalmar as preocupações deles.

Então, a diretoria poderia esperar para saber da novidade. E as amigas idem. Mesmo Caroline. Mas e Spencer? Passou a noite agoniada, sem saber que atitude tomar. Ele tinha ligado na semana anterior para saber como ela estava - foi o ponto alto da semana - e perguntara para quando estava previsto o período menstrual. Ela tinha prolongado o prazo em um dia, pois queria ter certeza absoluta, antes de contar que estava grávida.

Agora já não tinha certeza se queria contar-lhe. Não queria lhe dar a oportunidade de dizer adeus e nunca mais telefonar. Queria outro final de semana com ele. Só mais um.

Que mal havia? Uma mentirinha inofensiva... Nem mesmo uma mentira, mas a omissão da verdade... Era assim tão horrível, levando-se em conta como ele a fazia se sentir mulher e quão pouco dessa sensação experimentara ao longo da vida?

Estava preparada para colocar a maternidade acima de tudo, mas, antes disso, um último encontro apaixonado seria tão terrível?

Achava que não, motivo pelo qual, quando ele ligou na noite seguinte, ela escolheu as palavras com cuidado.

- Já veio? - perguntou ele logo depois de ter dito "Oi".

Ele ia direto ao ponto, uma das características que amava em Spencer.
Não ficava fazendo rodeios como alguns dos homens que conhecia. Era um cara decidido.

Ela hesitou por algum tempo para sugerir sofrimento e disse numa voz bem baixa, soando como um pedido de desculpas:

- Acho que vamos precisar tentar novamente. - Ela não se estendeu sobre o assunto. Falar pouco era melhor; na verdade, melhor que isso só o silêncio.

- Meu anjo, sinto muito. Está muito triste?

- Não muito.

- Meu Deus, lamento. Tinha quase certeza de que acontecera em Washington. Quero dizer, fizemos sexo tantas vezes e ambos estávamos tão soltos. Tem idéia de qual possa ser o problema?

- Não deve haver problema nenhum - disse com firmeza. Não queria vê-lo preocupado, sentindo-se culpado ou julgando haver algo errado com ele. - Afinal, o que são dois meses? Nada, realmente.

- Não acredito que seja a posição. Fiquei em cima de você tantas vezes quanto por baixo... e me recuso a acreditar que isso aconteceu porque fizemos sexo demais. E nem comece a imaginar na possibilidade de ter funcionado se tivéssemos ido ao consultório do médico, porque não teria! E mesmo se tivesse - afirmou com veemência -, eu não teria me divertido. Foi tão bom.

A Aventura - Barbara DelinskyOnde histórias criam vida. Descubra agora