NÃO TINHA sido sua intenção despejar o que sentia dessa forma, mas ao ouvir as palavras, soube que não havia como retroceder. Não podia titubear. Não podia demonstrar hesitação. Se quisesse contar com a cooperação de Spencer, tinha que apresentar seu caso com propriedade.
Para isso, aprumou-se, baixou a voz e disse com calma e um toque de orgulho:- Quero um filho. Já queria, mas de repente estou com 35 anos e o tempo está
passando. O problema... é óbvio!... é não ter marido e não querer um - apressou-se em dizer, antes de Spencer imaginar que ela o queria assumindo o papel. - Sou solteira por opção. Não posso me casar apenas para ter um filho. Isso seria um absoluto desastre.Spencer parecia estarrecido, algo que ela nunca presenciara antes. Teria rido diante da expressão abismada de seu rosto, se a situação não fosse tão séria. Retirando lentamente a mão, colocou-a no colo, limpou a garganta e prosseguiu:
- Tenho pensado nisso há muito tempo. Examinei a situação sob todos os ângulos.
Examinei todas as possibilidades...
Spencer a interrompeu, o tom de voz tão confuso quanto a expressão. Parecia sem
ação:- Você quer minha ajuda para encontrar um bebê? Sei que está na moda adotar
crianças estrangeiras, mas caramba, Jenna, essa não é a minha. É verdade que viajo muito para o exterior, mas não há muitos bebês nos lugares por onde circulo.- Não é isso que quero.
Ele franziu a testa.
- Então o que é?Ela tinha ensaiado o discurso tantas vezes que o conhecia de cor. As interrupções de
Spencer podiam alterar a ordem das palavras, mas estava determinada a dizer tudo.
- A adoção é fantástica para pessoas que não podem ter filhos, mas não é o meu
caso. Sou perfeitamente saudável. Consultei um médico: afirmou que não terei problemas em engravidar.- Ele se ofereceu para ajudá-la?
- Isso mesmo - disse, pensando em termos médicos até o olhar malicioso de
Spencer paralisá-la. - Não nesse sentido. Ele está disposto a me ajudar fazendo a
inseminação artificial, sob meu ponto de vista, uma solução viável para o problema.- Inseminação artificial?
- Você sabe, quando...
- Eu sei o que é. Só não posso acreditar que queira se submeter a isso. Na verdade, não posso acreditar que esteja enfrentando este problema. Deve haver dúzias de homens dispostos a se casar com você.
- Eu sei - reconheceu, mantendo o rosto erguido.
- Mas?
- Já disse: casar apenas para ter um filho é absurdo. Eu me casaria por amor, mas já que o amor ainda não pintou...
- Você não namora?
- De vez em quando.
- E nunca se sentiu envolvida o suficiente com nenhum dos caras a ponto de
pensarem em ter um filho?- Nenhum deles se encaixava nos padrões exigidos para ser pai do meu filho.
- Ei, estamos falando de genes privilegiados?
- Privilegiados? - Desviou o olhar. - Suponho que sim. Seria uma tola se não
pensasse a respeito. Qual mulher não gostaria de ter como pai de seu filho alguém brilhante, bonito, saudável, alto e atlético?- Entendi a mensagem - cortou-a Spencer seco.
- Humm. - Ela recuperou o fôlego e se recompôs. Afastando o olhar em direção
ao som vindo do mar, bem mais confortante que o olhar acusador de Spencer, afirmou: - Quero o melhor para meu bebê. As crianças de hoje já enfrentam muitos problemas para ainda ter que me preocupar com deficiências congênitas. Andei pesquisando um banco de esperma.