Capítulo 1- Quem é a Pequena Ana?

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15 de Janeiro 2022

Querido Rodrigo,

Os meus pais estão lá fora e eu estou para aqui a escrever.

Penso em algo que não posso falar, penso na morte.

A mãe não me deixa falar disto porque diz que não se fala da morte. Simplesmente não se fala.

Para mim, a morte é simplesmente o centro da vida.

Ora pensem comigo...

A escuridão não existe porque a escuridão é simplesmente a ausência de luz.

Então, no meu entender, a vida é a ausência da morte. E não o contrario!

Podemos estar vivos mas estar mortos. Quer dizer, podemos viver sem sequer viver e isso é estar morto...

Que parva que eu sou!

Prometi que escreveria um livro de forma certa...

Devia ter começado a escrever da seguinte maneira:

"Olá eu sou a Ana,

Tenho 15 anos e sou feliz. Vivo numa quinta com os meus pais e a minha pequena irmã, numa urbanização. Há poucas urbanizações como a minha onde se pode estar integrado e ao mesmo tempo ter uma quinta.

Na minha quinta tenho os meus três cães, uma cadela, um galinheiro e uma horta.

Gostava de ter um porco como o meu vizinho do outro lado mas o meu pai não gosta da ideia. Talvez um dia o convença a comprar um novo animal, nem que seja uma ovelha..."

Se notares, é este o modo correto para uma simples menina de quinze anos escrever.

A Sociedade é que manda e nós limitamo-nos a obedecer. Bem, podemos criticar mas isso não lhes chega aos ouvidos.

Um dia escrevo-lhes uma carta!

Ai se não escrevo...

Sabes que me tens feito muita falta, não sabes?

Deixáste-me aqui sozinha sem ninguém com quem falar do que me passa pela cabeça, e sabes bem que se não o contar a alguém vou dar em doida!

Eras tão cuidadoso com a tua mota e mesmo assim deixás-te que ela te levasse...



29 de Janeiro 2022

Carta ao presidente,

Caro presidente,

Sou a Ana e tenho 15 anos.

Sei que não dá valor a nada do que o povo português fala ou critica, mas fico grata só se fizer o favor de ler esta carta pessoalmente e não simplesmente pedir ao lacaio do lado para ler e arquivar.

Estamos em crise desde que a minha mãe tinha a minha idade, mais ou menos.

Lembra-se de Salazar?

Os tempos não foram de alegrias para nós mas numa coisa estávamos bem.

A balança financeira estava equilibrada...

E agora não passamos de um plano para a Troika reaver o seu querido e amado dinheiro.

Sei que o senhor investe na educação, mas metade desses políticos que aí estão não devem ter nem o 9º ano. E nós, jovens portugueses, temos que fazer o mestrado numa porra qualquer para ter a escolaridade obrigatória.

Essa ministra da agricultura então é do pior. Se metêssemos uma couve e uma alface à frente ela dizia que são ambas um repolho!

Sem mais demoras, peço que pense neste caso dos seus ministros.



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