Capítulo 20- "Como assim Moisés?"

31 3 0
                                    

  Ele entra apenas de toalha na cintura, interrompendo-me os pensamentos mas nem me dirige o olhar. 

-"Uau, que bom e agradável silêncio - ironizo

-O quê que queres que eu diga Ana?- ao dizer isto ele vem até mim com uma rapidez que faz parecer que me vai atropelar.
Sento--me de joelhos na cama e fico apenas a olhar para a janela.

-Tu desiludiste-me Ana!- ele rosna

-E tu a mim, PORRA!

-Quando?- ele bufa- Explicas-me quando?

-Primeiro quando paraste. Segundo quando no dia seguinte estavas estranhissimo e mal olhavas para mim e ainda por cima achavas que não tinhas que me explicar essa tua atitudezinha! És sempre tu o perfeito não és?

-Oh sim, porque isso é muito pior do que receber mil e uma mensagens tuas sem sentido as 3 da manhã e depois encontrar-te deitada num carro com uma garrafa vazia na mão! E ainda por cima ameaças beijar o cabrão do Gonçalo!

-Não fales assim dele. Ele é muito boa pessoa!

-Ah pois.. Ele é muito muito boa pessoa- ele ridiculariza a minha frase- Boa pessoa quando quer comer alguém!

-Como é que é?- digo eu tão baixo que parece um sussurro.

-Ainda não notaste Ana? Como podes ser tão cega?- ele diz isso com uma convicção tão grande e fica simplesmente a andar de um lado para o outro do quarto enquanto olha para o chão contando os seus próprios passos.- Cada vez que tu te aproximas dele para me provocar- continua ele- dás-lhe confiança para avançar. A serio Ana, só não vê quem não quer...- Ele para da sua volta mecânica pelo quarto- Vou mas é vestir-me- e segue na direcção do armário onde tira uma t-shirt básica preta, umas calças cinzentas e, quando acabou, voltou-se para mim para ver o que estava a fazer.

Bem...
Não faz sentido estar aqui com ele a olhar para mim de toalha enquanto escolhe a roupa.

Vou-me embora.

Sim, isso  mesmo. Eu vou-me embora. Vou para casa.


                                                                      *

11:00h

Depois de um banho de meia hora e de conseguir acalmar tanto os pensamentos como a ressaca vim correr.

Não sei para onde vou mas agora, com os fones e no meio do nada, este parece-me o rumo mais correto.

Estou até com medo de estar aqui sozinha no meio do nada. Estou num campo de trigo enorme, literalmente no meio sem saber onde é o norte. 

Estou cansada, estou exausta.

Tenho vontade de gritar e é isso mesmo que faço.

Grito até me doer os pulmões, até ficar sem voz, até sentir o vazio em mim.

O sol esta tão forte. Sinto cada raio dele a tocar a minha pele branca que vai ficando avermelhada com o passar do tempo.

Vou.me deitar, vou me deitar aqui e deixar o meu corpo desaparecer no meio do trigo como se a minha alma fosse desaparecer também.

Quero fechar os olhos e desaparecer de verdade.

Talvez se fechar os olhos com muita força consiga o que quero. E talvez se rezar e fechar os meus olhos com toda a força que houver em mim.

Desta vez vai dar certo.

Desta vez é de vez.

Hoje é o fim

Ai não se não faço!Onde histórias criam vida. Descubra agora