17º Capitulo

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"Irei fazê-lo agora, tenho assuntos importantes por fazer e gajas por comer" piscou os seus olhos claros.

Arregalei os meus olhos e engasguei-me com a minha bebida, ele disse mesmo aquilo? Um sentimento desconfortável e estranho, que era vagamente conhecido por mim habitava no meu corpo e mente.

Os seus olhos pousaram levemente em mim e pude observar toda a sua expressão irritadiça. A suas sobrancelhas franzidas e o seu rosto fechado eram um dos sinais mais evidentes. Girou em torno de si mesmo e abandonou duramente o parque, surpreendendo-me por não ter uma reação mais explosiva.

"Estas bem Ky?" diz enquanto pressiona levemente as suas mãos no topo das minhas costas.

Os meus olhos fecham-se, e pressiono levemente as minhas pestanas. Porque será que Louis tem um fascínio tão grande em tratar-me por Ky? Eu não consigo evitar lembrar-me de todos os momentos que passei com a minha mãe. Esse nome paira na minha mente e remete-me para os dias em que a minha vida parecia perfeita. Talvez agora esteja pronta para dar a conhecer esta parte de mim, talvez.

"Mamã, olha para mim" gritei com a intensidade máxima que os meus pulmões permitiam.

O seu corpo sai de trás da porta de madeira que inoportunamente a escondia. Os seus passos fizeram-se ouvir pelo soalho e quando dei por mim a sua figura estava levemente recostada sobre a parede cor-de-rosa do meu quartinho de brincar.

E lá estava ela. O seu sorriso incandescente agora complementado pela leve maquilhagem depositada na sua figura angélica. Ela era tão linda, tão bondosa.

"Estas linda amor" atirou de forma carinhosa, abaixando o seu corpo levemente.

Corri o máximo que pude, até sentir a minha pele colidir com a ganga das suas jeans. Os seus braços envolveram-me num abraço ternurento. 

"Tu sabes que a mãe gosta muito de ti, não sabes?" questiona, enquanto passa os seus dedos levemente pela minha bochecha rechonchuda.

Assenti com um sorriso de orelha a orelha no meu rosto.

"A mãe anda um pouco doentinha, mas não é nada que não se cure. Desculpa se não tenho estado perto de ti, mas a mãe não quer que fiques triste ou preocupada" confessa com um sorriso triste enquanto coloca uma mecha dos meus cabelos atrás da minha orelha.

Mal eu sabia o que estava para acontecer.

Uma ligeira dor percorre o meu braço direito e desperto dos meus pensamentos. Dirijo o meu olhar para Louis e ergo o cenho.

"Tu estavas tão envolvida nos teus pensamentos que nem me ouviste chamar por ti." ergue os seus braços em sinal de rendimento, soltado um sorriso de seguida.

"Eu estava apenas a pensar." engulo em seco e tento retribuir o sorriso, mas falho miseravelmente.

"Alguma coisa que me querias dizer? Podes contar comigo para tudo." o seu olhar preocupado sobrevoa toda a minha extensão corporal.

"Eu estou bem, podias apenas levar-me para casa?" indago, erguendo-me de seguida.

"O que é isto Sky?" inquere levantando-se enquanto passa os seus dedos pelo pequeno ferimento na minha testa.

"Bati com a cabeça na porta, nada demais." impeço-me de reavivar mais as memórias de ontem.

O dono dos olhos azuis assente e caminhando calmamente ao meu lado. O meu passo tornou-se apressado e Louis correspondeu rapidamente.

O caminho foi feito sem nenhum dos dois proferir uma única palavra. E para mim estava perfeito, neste momento eu estava triste e confusa demais para ter uma conversa com alguém.

Tudo o que seja relacionado com Harry Styles coloca toda a minha existência no limite. A maneira como ele me toca carinhosamente e depois ignora-me coloca o meu corpo em ebulição. Não quero pensar na possibilidade da sua rejeição ao beijo se deveu á existência de uma loira qualquer nos seus pensamentos. Este assunto é algo que me deixa terrivelmente esgotada.

E se já estava abalada, todas as minhas memórias do passado conseguiram abrir mais a ferida.

Na maior parte do tempo sou uma rapariga feliz e animada, mas quando algo embate em mim com esta intensidade é como se fossem farpas inacabáveis que se enterram dolorosamente no meu coração. Não gosto de me lembrar do meu passado, ele consigo traz várias sensações dolorosas e permanentes. Eu meio que penso que segui em frente. Mas é impossível quando teu anjo da guarda não está mais contigo.

Eu cresci cedo demais, eu aprendi coisas que uma criança não deveria ter conhecimento.

Poderá até parecer que vivi toda a minha vida na angústia de não ter quem mais preciso, mas na realidade eu fui e sou feliz. Apenas tenho de me conformar que irei para sempre viver com um vazio dentro de mim. Algo que posso dizer que me habituei devido á tenra idade mas que nunca irei entender o porquê de termos tal destino.

"Liga-me se precisares Sky. Adoro-te pequena" Louis murmura.

Retiro as chaves que dão acesso á minha casa, do bolso e introduzo-as na ranhura. Sinto um par de mãos quentes sobre os meus braços e logo de seguida uns lábios gretados contra a minha testa. Fecho os olhos extraindo todo o carinho que me é transmitido e de seguida entro dentro de casa trancando a porta sem soltar uma única palavra.

Numa tentativa de distração de tudo o que estou a sentir vou até á cozinha e retiro alguma fruta do frigorífico. Passo a mesma por água, livrando-me de todas as impurezas e de seguida coloco-a sobre uma taça branca.

Sigo até ao meu quarto e deixo o meu corpo cair na cama. Retiro alguns pedaços de maçã enquanto ouço algumas das minhas músicas favoritas.

Tombo a minha cabeça para o lado e observo carinhosamente a fotografia perto da minha cama. Foi tirada num almoço dos colegas de trabalho da minha progenitora. Estou a usar uma saia de ganga azul e uma camisola amarela enquanto ela usa umas jeans de ganga clara e um casaco preto, escondendo a sua camisola branca, se bem que me lembro. Ambas sentadas num banco, os sorrisos de felicidade eram o foco principal da fotografia, e as nossas parecenças eram inacreditáveis.

Solto uma lágrima solitária e um riso abafado quando me relembro que a foto foi tirada no dia em que ela me disse que estava doente e que iria ficar bem, por nós as duas. Eu sei que ela lutou e nem uma única vez ela pensou desistir. Ela era uma guerreira, mas ás vezes é inútil lutar quando já não existem forças.

Lights Out || H.S || (PT)Onde histórias criam vida. Descubra agora