CAPÍTULO 12: - Marina-

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- Marina -

-- Marina, eu preciso...opa! Desculpa eu não sabia...eu, me desculpa por entrar assim. - era Pablo que entrava em minha sala com a sua velha mania de entrar sem bater.
Juro que por muito pouco eu não voei no pescoço de Pablo e o esganei. Como ele podia entrar em minha sala daquele jeito? Não adiantava falar, pedir, implorar pra que ele só entrasse quando batesse na porta. Por mais que ela estivesse aberta, não custava nada bater antes. Aposto que ele fazia pra me irritar, ele costumava dizer "Sua tirania não cai sobre mim Doutora Presidente!". Por mais que estivesse um tanto quanto irritada por ter sido interrompida, estava tão feliz que eu não conseguia parar de sorrir. Um sentimento muito grande começou a me invadir no momento em que eu comecei a falar tudo o que sentia pra ela, quando expus toda a minha fragilidade e fiquei vulnerável, bem alí na sua frente, correndo o risco de ser rejeitada. Bem diferente do que eu pude imaginar ou do que pude esperar ouvir por parte dela, tudo o que ouvi foi o silêncio. O silêncio de nosso beijo. Era incrível sentir os lábios dela, o beijo era delicioso. Chegada a delirar naqueles lábios, e tudo o que eu menos queria era sair de seus braços. Ok, eu não conseguia parar de sorrir, Pablo já devia estar pensando absurdos, além de estar rindo de minha cara.
-- Como sabia que eu já estava na agência Pablo? - perguntei pra quebrar aquele silêncio.
-- Ei vi o seu carro lá embaixo. Preciso resolver logo isso com você.
Eu estava desconhecendo Pablo, desde de que ele entrou em minha sala e me pegou aos beijos com Giulia que ele não conseguia nos encarar, mantinha a cabeça baixa e falava comigo dessa maneira. Logo ele que sempre arrumava um jeito de fazer graça com em qualquer situação.
-- Ok, pode sentar-se.
-- Eu posso voltar depois.
-- Não precisa Pablo, podemos resolver agora. Sente-se. - disse sorrindo.
Eu olhava diretamente para Pablo, mas de soslaio eu olhava por alguns segundos Giulia que estava ao meu lado. Envergonhada, e levemente ruborizada, era assim que ela estava. Meu coração batia tranquilo em meu peito, em perfeita paz. Eu estava feliz, estava feliz por Pablo ter me pego aos beijos com Giulia, porque era assim que eu queria estar com ela sempre que a via, aos beijos, e eu não me importaria e nem pensaria duas vezes em beijá-la na frente dele, ou de qualquer um dos meus amigos. Ele não podia ter me pego em uma melhor situação. Era tudo bom demais!

Pablo sentou-se a nossa frente abrindo o seu paletó cinza e cruzando as pernas, logo depois veio aquele sorriso que eu sabia muito bem o que significava. O Pablo "cara de pau" estava de volta! Pra mim era esse o significado, apenas isso, já para outras mulheres se derreteriam diante dele. O sorriso dele era infalível, literalmente abria portar, e ele sabia aproveitar-se disso.
-- Bom já que invadi a sala e peguei vocês em uma situação inusitada vou resolver logo isso. E bom dia e nem vou dar porque pelo que vejo a manhã de vocês está sendo ótima. - entrelacei meus dedos ao dela e sorri para ela. "Isso é mesmo realidade!"
-- Deixa de enrolar Pablo. - voltei minha atenção para ele.
Pablo me olhou de um jeito que fiquei na dúvida se ele estava me recriminando ou me parabenizando. Ele olhou para mim e em seguida olhou para ela balançando a cabeça de um lado para o outro. Era uma negativa, só não sabia se era uma ironia ou era sério. Segundos depois ele continuou.
-- Tá certo, vou direto ao assunto. Uma das empresas que estamos representando quebrou o contrato conosco. E sabe-se lá por qual motivo eles nos processaram por danos morais. Vi toda uma defesa com o advogado da agência, e ele me sugeriu que conversasse com os outros sócios. Já falei com Juliano e já tenho uma resposta por parte dele. Então, a pergunta é: caso precise, entraremos em acordo?
Nunca gostei da ideia de dificultar a vida de alguém somente para o meu bem, eu era a favor de que as coisas fossem resolvidas da melhor maneira para ambos os envolvidos. Porém eu não estava apar de toda a situação, Pablo sim, e eu confiava completamente em meu amigo.
-- Pablo eu não sei bem o que está acontecendo e por qual motivo eles estão nos processando ou até mesmo o que gerou a quebra de contrato. Sou a favor que tudo se resolva da melhor maneira. E como você é o que está mais a par da situação, eu te dou o livre arbítrio pra resolver isso, sei que você saberá discernir o que for melhor para as duas partes.
-- Obrigada pela confiança!
-- Eu conheço os meus sócios e ainda mais os meus amigos. - sorri.
-- Sendo assim se for preciso entrarei em acordo com eles, mas apenas se as duas partes saírem ilesas e sem serem prejudicadas. Mas não tomarei nenhuma decisão sem o seu conhecimento.
-- Tudo bem.
-- Primeiro assunto resolvido! Agora...será que eu posso saber o que estava acontecendo dentro dessa sala? - ele perguntou com o seu olhar mais sério, especulador.
Pablo perguntou e eu fiquei na dúvida se devia falar ou não, por mim eu falaria. Diria que eu estou me apaixonando por aquela mulher linda ao meu lado, diria que pedi uma chance pra nos conhecermos e diria que estou disposta a tudo pra que ela nos dê realmente uma chance, para tentarmos. Mas Giulia também estava envolvida, e eu não queria tomar a sua frente e contar o que me entusiasmava sem que ela concordasse ou me permitisse. Eu não sabia ainda o que se passava em sua cabeça com relação a nós duas, se era vergonhoso estar com uma mulher mais velha, o que ela pensava do que todos na agência diriam com certeza ao descobrir nosso envolvimento. Eu nada sabia. Apertei a sua mão como um pedido de permissão pra falar, eu entenderia se ela preferisse não falar nada. Mas como resposta veio um aperto.
-- Um beijo oras. - tentei brincar.
-- Isso eu vi! O que eu quero saber é como isso aconteceu espertinha.
-- Estamos nos conhecendo Pablo. - eu disse e não consegui ficar quieta, a puxei para mais perto de mim, ficando quase colada. Confirmando o que eu havia dito.
-- Isso é maravilhoso! Que bom Marina. Meus parabéns as duas. E Giulia - disse olhando para ela - muito obrigada por tirar esse mulher de seu casulo de proteção. Eu desejo tudo de bom pre vocês duas.
Era só o que me faltava, alguém agradecer diretamente a pessoa que era motivo do meu sorriso e felicidade por tal coisa!
-- Muito obrigada Pablo - ela disse e eu não consegui deixar de sorrir.
-- Mas Marina acho que você tem que resolver um probleminha antes não?
Engoli a seco, parecia descer por minha garganta milhares de cacos de vidro. Desceu cortando minha garganta. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde Pablo falaria algo do tipo, mas eu rezava, pedia aos céus que eu conseguisse conversar com ele antes que ele falasse algo como o que acabou de falar. Eu sabia muito bem qual era o "probleminha" a qual ele se referia. Era de Verônica que ele falava. Desde que a minha estória com Verônica tinha chegado ao fim e ela passou a atormentar a minha vida que Pablo me dizia que antes de um dia me envolver com outra pessoa e a levar para a minha vida, eu tinha que tirar Verônica completamente dela, dar um basta para que ai sim eu pudesse ser feliz a fazer a pessoa que estivesse ao meu lado feliz também. Tenho certeza de que eu ainda ouviria muitas coisas, não só de Pablo, mas como de Juliano e Nanda. Eram a favor de minha felicidade, mas defendiam a ideia de que eu jamais seria feliz com Verônica no meio de qualquer relacionamento meu. Eu concordava em número e grau, mas não sabia como resolver a situação.
Pensei em mil soluções em milésimos de segundos. Nada encontrei! Apenas me angustiei por não saber como resolver e principalmente por saber que quando Verônica descobrisse qualquer coisa ela faria um escândalo, e a sua perseguição a mim jamais terminaria. Eu estava de uma maneira ou de outra arrastando Giulia para o meio dessa confusão. Era provável ela não aceitar a situação ou simplesmente cansar-se de tudo, inclusive de mim. Senti meu corpo endurecer, de repente um aperto no peito, um friozinho me percorrer. Não poderia falar nada agora, eu tentaria ao meu jeito, se não desse certo eu teria que conversar com Giulia. Mas por enquanto nada falaria.
-- Depois falos disso Pablo, em outro momento.
-- Bom, pois eu vou indo porque daqui a pouquinho tenho mais uma chata e tediosa reunião com o nosso querido advogado. - disse levantando-se e encaminhando-se a porta - Ah meninas! Uma dica: tranquem a porta antes tá? Tenham um ótimo dia.
Eu devia mesmo ter fechado a porta, teria evitado que Pablo tivesse entrado em minha sala e adiantado, soltado aquele papo de "probleminha" na frente de Giulia. O que eu diria a ela se ela me perguntasse a que Pablo se referia. Não queria ter que mentir pra ela. Com certeza eu deveria ter fechado a porta, e se fosse outra pessoa a entrar ao invés dele, como por exemplo a própria Verônica? Não quero nem pensar.
Quando Pablo saiu trancando a porta o silêncio tomou conta do lugar. Eu não conseguia parar de imaginar uma solução, em um jeito de "arrumar" a minha vida. Giulia também permanecia calada, nossas mãos estavam unidas, os dedos entrelaçados. Eu podia sentir o calor do corpo dela ao meu lado, de sua mão na minha, mas não conseguia voltar para meu corpo, minha mente voava bem longe dali.
-- Acho que já vou indo para minha sala. - ela disse soltando minha mão e levantando rapidamente.
-- Não precisa, fica mais um pouquinho, por favor.
-- O expediente daqui a pouco começa. - me senti estranhamente triste - E além do mais, eu tenho que resolver um probleminha. Por falar nisso, é vetado o uso de aparelhos celulares dentro da agência?
Estranhei a pergunta.
-- Não. Até porque muita gente precisa deles pra manter contato com clientes, receber e-mails, e usam no dia a dia do trabalho mesmo. Mas porque a pergunta?
-- Por nada. Então...eu vou indo. - ela disse me olhando fixamente.
-- Espera.
Só então lembrei-me do buquê de cravos, eu não havia lhe dado, e pra mim ele era uma das partes mais importantes do que planejei para aquela manhã. Seria algo palpável de minha confissão. Fui até a minha mesa, peguei sua bolsa e o buquê. A mão em que eu levava o buquê mantive atrás de mim em minhas costas, escondendo-o. Voltei a sorrir com a lembrança do beijos que ganhei ao me declarar apaixonada por ela, e por ver que ela está me correspondendo da melhor maneira possível. Ela estava me permitindo conhecê-la, viver momentos com ela. Caminhei até ela sorrindo, e como resposta ela também me sorria lindamente. Parei a sua frente e lhe entreguei somente a sua bolsa.
-- Eu queria te presentear com algo singelo, que representasse um pouquinho do que sinto. Que quando você olhasse lembrasse que estou me apaixonando por você. Não sei se vou conseguir alcançar o meu objetivo, mas, o que eu quero te dizer é isso Giulia: "Estou me apaixonando por você!". - disse olhando em seus olhos e os vi encherem-se d'água enquanto ela sorria - Pra você! - entendi o buquê em sua direção.
Ela recebeu o buquê com suaves lágrimas molhando seu delicado rosto, as mãos tremiam, e eu simplesmente senti necessidade de abraçá-la, mesmo sem nenhuma permissão. Precisava senti-la pertinho de mim, e impedir que ela chorasse. Não esperava e nem tinha a intenção de fazê-la chorar. Senti que ela me abraçou de volta, um abraço apertado, reconfortante e cheio de significados pra mim. Não queria mais soltá-la, o tempo podia parar naquele momento.
-- Obrigada! - ela sussurrou em meu ouvido e meu corpo reagiu ficando arrepiado.
-- Não precisa agradecer.
-- Você é incrível Marina.
Não sei explica, mas ela falar daquele jeito mexeu ainda mais comigo. Me despertava uma vontade de querer ser sempre o melhor pra ela, de surpreendê-la sempre. Como eu queria essa mulher com cara de menina do meu lado. Por Deus!
Dei-lhe um selinho e mais uma vez senti ao beijar seu pescoço o seu perfume. Era no lugar mais perfeito que eu poderia querer. Aquele perfume estava gravado em minha mente assim como a textura de sua pele e o gosto dos meus lábios. Mas bem melhor do que viver o que está em minha mente, é reviver cada momento com ela.
-- Ainda nos vemos hoje? - perguntei incerta.
-- Claro! Se você quiser nos veremos sim.
Sem sombra de dúvidas eu quero muito, e não vou esconder isso de você.

-- Eu quero, quero muito...
Eu não me aguentei. Saber que ela estava pra sair de minha sala e que talvez eu não pudesse beijá-la mais hoje me fez agir assim. Eu nem mesmo a deixei responder, dizer se ela queria ou não me ver, fui logo a calando com meus próprios lábios. Como eles eram doces, maravilhosos! A cada beijo eu sentia tudo ao meu redor parar, parecia que eu tinha engolido milhões de borboletas e pedras de gelo, algo remexia dentro de mim, vagava entre meu estômago e meu coração. Eu sentia um frio enorme na barriga. Ficava nervosa toda vida que ela chegava mais perto. Quando a beijava então quase tinha uma sensação de desmaio. Mais um pouco e ela poderia ouvir meu coração bater que nem um louco em meu peito.
-- Eu preciso ir. - ela disse contra meus lábios quando o ar nos faltou.
-- Eu sei. - infelizmente tinha que admitir isso. Selei nossos lábios suavemente. - Tenho uma reunião daqui a pouco, ainda tenho que me preparar. - "Acho que não deveria ter falado isso, ela irá apresar-se assim!"
-- Sendo assim vamos assumir nossos lados profissionais e nos vemos mais tarde. Tudo bem assim? - ela estava abraçada a mim e sua cabeça repousava em meu ombro.
Uma sensação gostosa e indescritível, eu me sentia totalmente diferente, não sei explicar. Sentimentos nunca antes experimentados agora que me acometiam com força total.
-- Tudo bem. - beijei seus cabelos que exalavam um suave cheiro floral.
Nos separamos e eu a olhei sem conseguir disfarçar a tristeza que eu estava sentindo por isso. Bobo isso né? Mas é que era tão bom ficar perto dela, sentir o cheiro dela,vê-la sorrir, ouvir a sua voz, tudo isso me acalmava de um jeito único, me fazia muito bem. Pude ver que em seus olhos também havia tristeza, e isso me deixou feliz. Não que fosse bom vê-la triste, mas sim porque aquilo acendeu em mim uma chama de que talvez ela também fosse sentir a minha falta, e era tão ruim pra ela nos separarmos quanto era pra mim.
A deixei ir, ela abriu a porta e antes dela sair da sala ela me presenteou com um enorme e lindo sorriso, capaz de iluminar o resto do meu dia.
-- Obrigada pelos cravos, eles são lindos! - logo após fechou a porta me deixando em pé no meio da sala com um sorriso bobo.
Como explicar tanto sentimento assim que surgiu do nada? Foi tão rápido! Eu quase já não tinha mais dúvidas eu estava mesmo me apaixonando por Giulia, e de uma forma que talvez fosse perigosa pra mim caso não déssemos certo. Eu queria estar com ela sempre que possível, um sorriso dela era o bastante pra me deixar bobamente feliz. Se isso não fosse paixão o que mais poderia ser? Nem mesmo com Larissa que foi minha noiva, que namorei por bastante tempo eu fui capaz de sentir o que estou sentindo por Giulia.
Saí de minha inércia e fui até a minha mesa, precisava me preparar para a reunião que teria logo mais. Olhei para o meu relógio, marcava 8:30hs, a reunião havia sido remarcada para as 9:30, teria um pequeno tempo para me organizar e não chegar despreparada na reunião. Olhei a minha volta, em minha mesa, perto de minha bolsa, e a pasta com os documentos não estava alí. Com certeza na pressa, e com tudo aquilo pra levar de meu carro até minha sala eu devo ter esquecido em meu carro. Tinha que buscá-la. Desci até o estacionamento praticamente saltitando de alegria, o cheiro e o gosto dos lábios de Giulia ainda estava em mim.
-- Você é louca?

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