(À Marcelle Facundo)
Esta alma velha, empoeirada
que eu abrigo neste corpo
Tão pequeno, quase nada
tem a ver com a aparência
do meu rosto,
que inocência
inspira em algumas pessoas.
No afã de coisas boas
- honestidade e decência -,
encontrei mais do oposto:
crueldade.
E, na minha idade,
os anos que eu conto,
talvez quase com desgosto,
desaparecem do meu rosto
e se revelam na essência
da minh'alma calejada,
carregada de um fardo
nunca leve, sempre árduo,
que se diz experiência.
Pobre alma despojada
da simplicidade
com que tantos levam a vida...
E pela vida é levada...
Esqueceu de ser criança?
Ou foi criança abandonada?
Algumas vezes foi achada...
tantas outras foi perdida.
Alma velha, empoeirada...
Terá vindo de outros tempos?
Ao meu rosto é comparada,
com meu corpo confudida.
Sei apenas, na verdade,
que, seja qual for a sua idade,
longe está de ser medida.