Prólogo

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"Tudo flui e nada permanece, tudo dá forma e nada permanece fixo."

H e r á c l i t o



T r a s f o r m a z i o n e:

[It | s. f.] Ato ou efeito de transformar; metamorfose


"love is patience

love is kind"

M a r y L a m b e r t



Um dia desses, enquanto Summer dormia num sono tranquilo e preguiçoso no berço ao meu lado, eu estava sentada perto da janela, com um livro de filosofia aberto no colo, e vi o exato momento que uma folha caiu do galho. Ironicamente, assim que desviei o olhar da folha que rodopiava no ar, me deparei com um conceito filosófico que me deixou particularmente interessada. Falava sobre o devir, de Heráclito¹, e explicava que tudo no universo estava em constante mudança.

As folhas caem, as horas, os dias, os anos, e os milênios passam, as estações mudam e o céu explode em cores, conforme a necessidade das horas. Até galáxias mudam, comprovando que o universo não é um produto da equação inercial de Newton, e minha vida, que comparada ao universo inteiro era um mero grão de areia, não era uma exceção.

Passaram-se quase quatro anos desde o dia que Summer nasceu, e se eu achava que minha vida tinha mudado no momento em que soube da gravidez, que erro tão ingênuo eu tinha cometido! Ela só estava começando.

Pois bem, aqui vos conto a imensa volta de montanha russa, aquela mais louca que existe, que a minha vida tinha dado.

Quando tive alta do hospital, não tinha a mínima ideia de pra onde ir. Apesar de Erin me dizer que a casa dela era a minha casa, eu não queria ser um encosto e abusar ainda mais da boa vontade da família Peck. Isabel também insistiu para que eu fosse morar com ela em Jackson, mas, novamente, eu estava presa na minha teimosia de querer começar uma vida nova com minha filha e sem depender de ninguém.

Mas como eu iria começar uma vida nova com uma recém-nascida quando tudo o que eu tinha era dez dólares no bolso e uma mala cheia de roupa?

Apesar do meu desejo de independência, eu tinha que erguer a cabeça e aceitar que eu precisava de ajuda e de um teto, então meu próximo passo foi pedir ajuda - de novo! - a Isabel. Fomos morar com ela em Jackson, porque eu precisava sair de Laurel e dar uma nova direção pra minha vida, num apartamento de três quartos e com cinco pessoas. Seis se você contasse as visitas frequentes de Dean, namorado da minha irmã.

Foram anos apertados e de pouca grana, já que Summer era um bebê e precisava da minha inteira atenção, fora que eu não tinha com quem deixá-la, o que me deixou com pouquíssimas opções de emprego. Minha alternativa foi trabalhar de babá de quase todas as crianças do prédio quando os pais precisavam sair e não tinham com quem deixar seus filhos. Isabel também trabalhava e, entre pagar o aluguel, as contas e eventuais gastos, ela conseguia me ajudar com algum esforço. Eu ficava irritava e negava, mas só eu sabia o quanto era frustrante não ter dinheiro o suficiente pra não dar tudo o que eu queria pra minha filha e comprar o básico, porque tudo de bebê era caro demais. Todo o dinheiro que eu conseguia era todo pra Summer, nada pra Ana, mas nunca reclamei.

Mas mesmo com tão pouco dinheiro, tudo o que Summer fazia era motivo de festa. A primeira vez que ela conseguiu bater palmas, ou quando conseguiu fazer sons de besouro, quando engatinhou pela primeira vez, quando falou a primeira palavra - que foi algo parecido com mamãe e Isabel comprou um cupcake pra comemorar! - e quando caminhou com as próprias pernas e sem ajuda de ninguém. Qualquer coisa que ela fazia era motivo pra eu me derreter de felicidade e perceber que eu não precisava de nada além de sua companhia pra me fazer feliz e das suas bochechas rechonchudas pra apertar.

4 Years of StruggleOnde histórias criam vida. Descubra agora