13-Não sentia nada, parte 2

16 1 0
                                    

Senti algo gelado em meu corpo, abro meus olhos e ali estava Luccas limpando meus ferimentos. Não doía, não ardia, até porque eu não sentia nada.

-Quanto tempo ficará assim? - digo
-Assim o que?
-Desse jeito
-Não demorará muito

Luccas se afasta e fica me olhando de sua cama.

-Espero que isso não fique com marcas roxas - digo mais para mim do que para ele.
-Vai ficar

Eu sabia que ia ficar, assim também como sabia que ele não me agrediu por querer.

-Você sabe que a culpa é da Dulce não é? Graças a suas "substâncias"
-Sei.
-Eu não queria...
-Mas fez, eu não te culpo por isso, mas você fez...

A porta se abre e o sinal toca.
Eu esperei todos saírem para depois eu sair.

Eu não andava, eu me arrastava.
Vi algumas pessoas me olhando, mas não me importei.

-O que aconteceu com você? - diz alguém atrás de mim.
Era uns dos "ajudantes" da Dulce. -Vamos! Diga!
-Você não está vendo?
-Quero saber quem fez isso com você.

Contínuo me arrastando até achar alguma enfermeira,  mas não achei ninguém.

-Vem, deixa eu te ajudar. - diz o homem novamente em minha frente. - já te falei que meu nome é Ícaro?
-Não lembro-digo já de pé apoiada na cintura de Ícaro.
-Consegue mexer os pés ou quer que eu te leve no colo?
-Só me leve até uma enfermeira, ou até a...
-Até a?
-Até ninguém. - digo me soltando da cintura de Ícaro e indo de volta para o quarto me segurando nas paredes.

-Taylor, aonde você estava? - diz Dulce em minha frente.
-Procurando ajuda, mas lembrei que aqui ninguém ajuda ninguém
-Eu tentei te ajudar - diz Luccas e Ícaro ao mesmo tempo
-Como assim você tentou ajudar a minha amiga? - diz o Luccas
-Como você pode ser amigo dele, Taylor? - diz Ícaro quase gritando comigo.
-Venha comigo, Taylor. Preciso analisar seus ferimentos. - diz Dulce com um sorriso - Ícaro e Luccas ajudem a Taylor.

Só mais 25 dias, Taylor. - penso.

-Eu não. O Ícaro não quer ajudar ela? Então ele ajude. - diz o Luccas
-Ótimo! Vamos? - diz Ícaro
Dou uma última olhada para Leccas, e ele desvia seu olhar.  Ícaro me pegou no colo e me levou até a enfermaria juntamente ao lado de Dulce.

-Ela está com uma infecção nas costas - diz uma enfermeira
-É muito greve? - pergunto
-Não. Sobre seus hematomas pode ficar tranquila, não é nada grave. Você sente dores?
-Sinto só nas costas, fora isso não sinto nada.
Ela passou uns remédios em meus machucados e os enfaixou. Agradeço com um sorriso simpático.
-Se cuide e fique longe de coisas que podem te machucar.
-Ficarei - digo e volto para o quanto.

-Oi - digo para Luccas que estava em pé do lado de sua cama.
-Qual é a sua com o Ícaro?
-Como assim, qual é a minha? Eu não tenho nada com o Ícaro.
-Quando você sairá daqui?
-Daqui um mês
-E eu daqui uma semana
-O que?
-Eu irei sair daqui quando eu tiver vinte anos
-Então você fará vinte anos daqui uma semana?
-Sim, promete se cuidar?
-É.
-Desculpa, eu senti ciúmes.
Comecei a rir feito uma hiena
-Qual a graça?
Não respondi nada e continuei a rir
-Tudo bem! Se você acha isso engraçado tudo bem.
Paro de rir e vou abraçar o Luccas
-Vou sentir sua falta - digo
-Nós vamos se ver lá fora, né?
-Claro. - digo olhando em seus olhos.

Eu gostava do Luccas, sentia que podia confiar nele. Ele me lembrava o André. Ele parecia o André.
Ele havia comentando que eu parecia sua namorada, e que ele só tinha ela lá fora, mais ninguém. Seus pais morreram, não tem irmãos, tios ou avós. Era sozinho no mundo.

[...]

madrugada

Acordo com frio, olho em volta e ali estava eu com braceletes em meus pulsos e tornozeleiras em meus tornozelo nua. Eu estava nua!
-Puxem! - ouvi Dulce gritar

Ouvi barulhos de correntes se moverem e meus braços e pernas se esticarem.

-Vamos ver se eles sentem dor

Eles? Tinha mais alguém alí comigo passando a mesma dor que eu.

-Luccas - digo baixinho
-Ylô - diz ele.
Ele me chamou de Ylô.
As correntes se encurtam mais e meu corpo se estica mais.

Meu corpo não era feito de elástico, mas naquele momento parecia ser. Eu não era uma total humana, mas ali eu era. Fazia horas que eu não sentia nada, mas ali eu estava sentido. Eu não sentia vontade de morrer, eu queria viver, mas alí a morte era melhor. Eu desejava morrer, eu desejava que meu corpo se partisse logo.

Ouvi o grito de Luccas, ouvi as correntes se moverem mais.
Eu ouvi o riso da Dulce, eu ouvi meu choro.
Eu não queria ouvir. Eu não queria sentir.

Meu corpo se esticou mais uma vez, achei que dessa vez meus ossos se deslocaria. Mas não deslocaram ou quebraram.
Eu estava mais de um metro de altura do chão. Olhei para o lado e em uma parede marcava que eu estava três metros de comprimento do chão.
Ouvi o último barulho das correntes e dos braceletes se soltando do meu corpo.
E o último barulho daquela madrugada que eu ouvi foi o do meu corpo se chocando com o chão e logo em seguida o de Luccas.

 Segredo MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora