O que eu fiz quando você se foi

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 Catharina, ao responder Eduardo decidiu fazer de uma forma diferente. Não deixaria o bilhete na sua mesa, sob o jarro de flores. Ela iria até a sala de Eduardo e lá deixaria o bilhete.

 Precisava antes de uma desculpa para ir até o setor administrativo, e nisso ela já havia pensado.

 Cathy pegou alguns papeis e diria (caso fosse questionada) que  Eduardo os havia esquecido em sua mesa.

 Catharina assim o fez, ninguém pareceu notar a sua presença subindo as escadas e até se aproximar da sala nº 6, ela então bate na porta, vendo que não há ninguém ela abre.

 Por alguns minutos ela para e capta os detalhes daquela sala.

 A mesa e o piso eram de madeira, a parede lateral direita era revestida de um papel de parede que imitava jornal, nela também havia uma estante branca com repartições amarelas, no qual continham livros e pequenos quadros  em forma de porta retratos. Na parte inferior da estante havia um grande vaso branco com uma planta artificial, na qual tinha folhas compridas e finas.

 Ela decidiu colocar o envelope no porta lembretes, mas notou que havia uma foto virada para baixo sobre a mesa, Catharina então desvirou a foto e viu que nela estava Edu acompanhado de uma mulher de cabelos castanhos, lisos e longos, embora não fosse, ela tinha um visual adolescente, usava um all star de cano médio com uma saia rosa plissada.

Cathy poderia pensar que fosse uma irmã ou uma prima de Eduardo, se não fosse a pequena escrita que dizia:

" 09/02 a 05/06 momentos maravilhosos com você meu amor...".

Sem nenhuma ideia concreta, Catharina decidiu que criaria o enredo e nele ela fazia o papel da mulher boba e ingênua que havia se apaixonado por bilhetes de papel.

O que era aquela data? O fim de um relacionamento ou o ceifar de uma vida? 

Sem nada para exigir, Catharina voltou para a sua mesa com o bilhete que não foi entregue.

A redação, o trabalho que ela tanto gostava pela primeira vez teve ao seus olhos as paredes muito acinzentadas e sem graça.

 Ela olhou em volta, todos ocupados, talvez alguém tenha morrido na china ou tivessem coisas mais importantes para se preocupar como por exemplo a última mensagem do grupo  no WhatsApp.

 Mas o que era o problema de Cathy?

Sua imaginação que inventava histórias ou a realidade escondida por detrás da face de uma foto?

Por um momento lhe veio uma antiga frase em sua mente " A vida, se olharmos em volta com fria atenção, não passa de um gracejo vazio e estúpido [1]", mas a frase já não lhe surtia mais efeito, ela sabia bem que a vida não era apenas um gracejo, muito menos vazio e estúpido, a vida era a vida que ela acreditasse que fosse, então era apenas necessário crer em uma percepção que ela se tornaria o que ela quisesse.

 Naquele momento ela decidiu acreditar que no mundo não havia Eduardo Montreal, que no seu mundo havia apenas Cathy, a solitária colunista de jornal.

  Ela chegou em casa, conversou com Freddy, tomou um banho e se deitou.

 Fechou os olhos e nesse momento viu o mundo cinza, ele a levou para um outro mundo, o mundo do seu passado.

 ALGUNS ANOS ATRÁS...

 Era inverno, e um frio congelante cobria todo o território de "Felidae" [2], Catharina está na fazenda da sua avó onde passou parte da sua infância.

Ela brinca sozinha com uma boneca de pano, no seu pulso está amarrado uma espécie de corda de três pontas, algumas lágrimas escorrem dos seus olhos e molham os olhos da boneca.

O Que Eu Fiz Quando Você Se Foi...Onde histórias criam vida. Descubra agora