Um raio rachou o céu com um estrondo ensurdecedor. Catarina não estava na entrada do castelo, mas tinha guardas na entrada principal. Felizmente ja sabíamos o que fazer, e começaríamos por seduzi-los. Quer dizer... Anabella iria fazer isso. Henrique estava com um ar meio incomodado. Não consigo entender como ele se apaixonou tão facilmente por Anabella. Mas olhando por outro lado, eu me apaixonei por Anna desde a primeira vez que a vi.Ela estava se inscrevendo para participar de uma aula que seria relizada em um domingo. Eu estava lá porque ia apenas falar com uma coordenadora a respeito de um rapaz que havia jogado meu livro preferido na panela de óleo das coxinhas no refeitório, mas acabei por me inscrever também na aula de domingo. Mesmo sendo um dia morto para mim, ia valer a pena ficar olhando para ela no decorrer da aula. O grande problema é que ela não apareceu e acabei inventando uma dor para sair mais cedo e voltar para casa.
Caminhamos em direção a entrada do castelo. Anabella mudou algumas partes de sua aparência. Ela estava ruiva agora, com uma camisola, que sinceramente, não estava tão indecente, mas parece que para eles isso é estar quase nua por completo. Algumas feições mudaram em seu rosto, como as sobrancelhas mais arqueadas, traços pretos delineavam seus olhos e seu nariz estava um pouco mais afinado. Ela estava irreconhecível.
Enquanto ela caminha em direção aos guardas, começa a fazer cara de desespero, e tenho que admitir, ela é boa nisso. Em menos de segundos seus olhos ja estavam lagrimando e suas bochechas estavam vermelhas. Então ela começou soluçar. O som de seu gemido, não era tão intenso, pois Catarina podia ouvir, mas era tão convincente que nem precisava de tanto barulho.
- Socorro! - Ela estava arfando, parecia estar com falta de ar, mas era apenas encenação. - Por favor. Me ajude. Vim de uma província distante. Estou muito... muito... - Desmaiou nas mãos de um dos guardas e os outros três foram ver o que estava acontecendo.
Claro que não havia necessidade de todos irem acudi-la, mas parece que todos queriam a oportunidade de olhá-la. Se fosse um homem, provavelmente não seria dessa forma, por isso ela não deixou Henrique ficar encarregado dessa parte. Claro que ele não iria seduzi-los, iria apenas chamar a atenção de alguma forma, mas Anabella conhecia o jeito daqueles guardas, especialmente aqueles três. Ela teve uma história em especial com eles, mas é algo lamentável, tão lamentável que ela preferiu não entrar em detalhes. Mas deixou bem claro que não foi uma coisa boa.
Enquanto eles a levavam para um local mais confortável, onde ela poderia ficar deitada, saímos de onde estávamos e corremos para dentro do castelo. Estávamos descalços, mas o chão do palácio estava tão limpo que nem havia como se encomodar. Como se uma simples sujeira nos pés fosse ofuscar nosso maior problema no momento.
Corremos para dentro de um corredor. Seguimos correndo na ponta dos pés, pois estávamos muito expostos em um local como aquele. Tinha várias portas pelo caminho, porém poderíamos ter a má sorte de entrar em uma e dar de contra com Catarina.Tudo estava indo bem, porém no meio do caminho ouvi uma voz familiar que fez eu parar imediatamente. A voz da moça com a qual eu passei a maior parte das aventuras de minha vida, a voz de Anna. Era inconfundível. Queria abrir a porta no exato momento em que a ouvi, mas quando estava dirigindo minha mão em direção à maçaneta, Henrique segurou meu braço.
- Nem pense nisso.
- Me solta! Ela está aqui dentro. - falei em um tom de voz mais alto do que deveria.
- Idiota! Fale mais baixo. Ela vai nos ouvir.
Obviamente foi burrice da minha parte, mas queria tanto ver Anna segura perto de mim que nem pensei a respeito.
- Desculpe! - Admiti que estava errado. - É que...
- Shh! Venha para cá rápido. Ela está vindo. - Henrique me puxou para trás de uma coluna do mesmo lado da porta na qual Anna está atrás.
Anna abriu a porta, como previsto. Queria correr e conversar com ela, mas Henrique e Anabella me matariam se eu o fizesse. E pelos olhos de Anna, ela também mataria.
- Catarina, você não acha que está demorando? - Anna pergunta à Catarina, que logo sai de dentro do quarto.
- Esse garoto te ama. Deve estar com muitas dificuldades de passar pelos guardas.
- Azar o dele. Não é problema meu. Você devia tê-lo matado quando podia.
- Eu sei. Mas tinha uma coisa que me impedia.
- O quê poderia impedir você? Você é tão poderosa, bonita e malvada. Podia simplesmente levantar esse galho velho e matá-lo naquele momento.
- Não vamos mais falar disso. Ja disse que não podia. Senão já o teria feito. Pare de me questionar, é o melhor que você faz.
- Você acha que está falando com quem?- Anna está claramente irritada. - Escuta aqui...
- Escuta aqui você. Já não consigo mais aguentar suas ideias inúteis. Trouxe você para meu lado, mas não para ficar enchendo minha paciência. Já estou ficando esgotada com sua prepotência.- Catarina interrope Anna, que logo em seguida cai de joelhos no chão e começa a reclamar de dores na cabeça.
- Meu Deus! O quê você está fazendo? Ta doendo muito. Por favor! Pare!- Anna tenta falar chorando. E em seguida desmaia.
- Você é uma tola estúpida. Acha que pode me dizer o que fazer. Idiota! Não vejo a hora de me livrar de você. É uma pena que eu tenha que esperar seu namoradinho aparecer e junta-los para matar os dois juntos. - Catarina fala com cara de nojo, e desprezo olhando para Anna no chão. Dá uma pausa e a rodeia. - Tenho que confessar que você é linda. A outra inútil da minha filha não está aqui para me ceder um pouco de sua juventude. Posso tirar de você. Pelo menos você vai me servir para alguma coisa.- Catarina aponta o dedo indicador para Anna e vai guiando-o até encostar na testa dela.
Naquele momento percebo o que ela irá fazer, e a única coisa que pensei foi em sair dali e quebrar a cara de Catarina, mas parece que Henrique já previa o que eu iria fazer, pois começou a apertar mais o meu braço. Estávamos lutando em silêncio, como ele era maior do que eu não consegui me soltar. Parei de fazer força para tentar me soltar, mas ele continuava apertando o meu braço.
- Ela vai matá-la! - cochicho.
- Catarina não vai matar Anna. Ela precisa dela viva.
Olho para ver Catarina e Anna, ela ainda está com o indicador em sua testa. Anna estava muito bonita, não estava mais com uma aparência de menina doce e inocente. No mundo "real" ela raramente parecia doce e inocente, mas quando tive a oportunidade de falar com ela, só um pouquinho, mudei imediatamente minha visão sobre ela. Não queria acreditar, tanto que não acreditei quando ela disse que me amava, mas não dava mais para fugir. Lágrimas começaram a querer descer de meus olhos, mas eu as segurei. Ela estava usando um vestido preto, colado até a cintura, tinha uma abertura que começava um pouco acima de um dos joelhos e usava um sapato preto alto que ia até o fim de seu tornozelo. Ela estava usando uma maquiagem muito pesada. Batom cor de vinho, e olhos muito delineados. Seus cabelos não estava mais enrolado, estava liso e batendo um pouco acima de sua cintura. Sei que o cabelo foi obra das bonecas. Mas o resto, com certeza não foi.
Henrique tinha razão, não podíamos fazer nada, só esperar até que ela vá embora para pegarmos Anna e tentar mudar o pensamento dela. É muito difícil ficar olhando aquela cena. Virei e arfei, abaixando a cabeça e deixando as lágrimas caírem livremente.
Deixei cair uma faca que estava em minha cintura. Com o baque no chão, juntei-a imediatamente e segurei bem forte para não cair de novo. Pelo visto Catarina ouviu, e comecei a ouvir passos na direção da coluna onde estávamos. Se Catarina perceber que estamos aqui, todo nosso plano vai por água abaixo. Os passos se aproximam mais e mais e nossos corações acelerando cada vez mais. Será que tudo ia acabar aqui? Com Anna desacordada e fraca não temos chances com Catarina.
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Princesa de Godava
FantasyA garota mais popular da escola e o nerd desengonçado. O que parecia impossível torna-se necessário. Anna e Jorge veem-se obrigados a se aturarem em uma incrível jornada, cheia de fantasias e aventuras, ciúmes e brigas. Em um Reino encantado complet...