Capítulo 12 - parte 1

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POV Hermione
Com muito esforço consegui agir normalmente
perto dos meus supostos amigos até o último
dia de aula. Os gerânios que recebi ainda não
haviam murchado, mas mesmo assim executei um
feitiço de estase para que eles permanecessem
vivos. Aquelas flores me traziam uma sensação
de conforto imensurável. No momento, elas
estavam cuidadosamente guardadas em uma
bolsa de mão, que descansava em meu colo,
enquanto eu lia o Profeta Diário no Expresso de
Hogwarts, fazendo o máximo para ignorar os
outros habitantes da cabine. Junto às flores,
havia apenas a minha varinha e a carta que
recebi.
Mesmo tentando todos os feitiços de
identificação que eu conhecia, não consegui
descobrir que me enviou aquelas palavras. A
caligrafia havia sido adulterada por um feitiço.
Algo me dizia que quem escreveu a carta era
alguém que eu conhecia e gostava muito, mas
eu não fazia ideia de quem podia ser.
No dia seguinte ao que ouvi a conversa de
Harry, Ron, Gina e Neville, fui me encontrar
com Draco. Contei a ele o que aconteceu, e meu
primo quis mais do que nunca azarar os
grifinórios. Mostrei a ele a carta, e apesar de
também não saber quem podia ter escrito
aquilo, Draco concordava com cada palavra.
Passamos um bom tempo conversando - apenas
conversando - e meu priminho me aconselhou a
não fazer nada impensado; a não mostrar que
eu sabia o que eles pensavam de mim. Por esse
motivo é que eu estava com meus "amigos"
agora.
Eu mandei um bilhete para meus pais (Bellatrix
e Tom) dizendo que estava indo para a casa dos
meus pais trouxas para explicar a eles a
verdade, e que depois gostaria de vê-los. Papai
me respondeu poucas horas depois, dizendo que
era para eu tomar o tempo que precisasse com
os trouxas, que não era para eu ligar para
qualquer coisa que os traidores de sangue
dissessem - como ele ficou sabendo sobre isso é
um mistério - e também me enviou uma taça
que continha o símbolo de Hufflepuff, dizendo
que quando eu estivesse pronta para vê-los, eu
devia dizer a taça, que ela se transformaria em
uma chave de portal e me levaria a Mansão
Malfoy.
Saindo de minhas lembranças, vi que Lilá estava
sentada no colo de Ron, os dois praticamente se
comendo enquanto os outros conversavam
normalmente. Revirando os olhos, peguei minha
bolsa e corri para fora da cabine, querendo
espaço entre mim e eles. Segui para a cabine
dos monitores, torcendo para ela estar vazia.
Para minha infelicidade, ao abrir a porta me
deparei com Draco se agarrando com Astoria
Greengrass, uma sonserina do terceiro ano.
A menina pulou para longe de Draco, ficando
completamente vermelha, e passou correndo por
mim, em direção ao corredor.
- Desculpa - disse a Draco, me jogando na
confortável poltrona da cabine.
- Herms... - meu primo começou, mas fiz um
sinal para que ele parasse com a desculpa.
- Não é como se nós dois tivéssemos algo sério.
Eu te amo, Draco. Mas como meu primo, parte
da minha verdadeira família, e apenas assim.
Ambos sabemos que vamos nos casar com quem
nossos pais quiserem. O que tivemos foi apenas
diversão.
- Assim você quebra meu coração! - ele
respondeu dramático enquanto vinha se sentar
ao meu lado e me abraçava. Revirei os olhos,
batendo em seu ombro levemente. - Como você
está?
- Além de morrendo de raiva, e me segurando
a cada instante para não azarar ninguém?
Estou curiosa para saber quem me mandou
aquela carta, ansiosa para contar a verdade a
Jean e Paul, torcendo para meu aniversário
chegar e eu fazer 17 anos logo, confusa sobre
as decisões que tenho que tomar nessas
férias... Quer que eu continue?
- Não, não precisa - ele riu. - Não esquece que
eu estarei sempre aqui quando precisar.
- Que fofo! - brinquei apertando as bochechas
dele. - Obrigada Dray!
Passamos alguns minutos em silêncio, cada um
imerso em seus pensamentos, até que um
sorriso malicioso surgiu em meu rosto.
- Astoria? Sério Draco? Ela não é muito nova?
- provoquei.
- Só dois anos a menos que nós - meu priminho
respondeu, tornando-se imediatamente uma
bola vermelha, de tão corado que estava.
Levantei uma sobrancelha. - Eu gosto dela. De
verdade. Não é só ficar e aproveitar. Eu
conheço Astoria desde que ela nasceu, e acho
que eu sempre gostei dela. Era mais inocente
antes, sabe? Brincávamos juntos e essas coisas
de criança, mas então, no ano novo, quando
fomos ao baile do Ministério, ela estava tão
linda! E não era mais uma criança... Fiquei
morrendo de desejo. Você não imagina minha
surpresa quando ela retribuiu o beijo agora a
pouco. Pensei que fosse me dar um tapa na
cara... Eu estou apaixonado Herms! - sério? Eu
ri. Estava na cara que Draco amava mesmo
aquela garota. - Eu ainda vou convencer meu
pai a me fazer casar com ela...
- Se você quer mesmo isso, acho que você devia
ir atrás dela. Do jeito que Astoria saiu daqui,
ela está morrendo de vergonha. Se você a fizer
guardar segredo, eu até te deixo contar que
sou sua prima, apenas para te ajudar a
explicar a ela por que a sua demora.
- Obrigado Herms! - ele gritou animado, deixou
um beijo em minha testa e correu atrás da
sonserina.
Fiquei feliz por ele, e como as coisas pareciam
fáceis. Queria que fosse assim comigo.
Apenas voltei para minha cabine quando já
estávamos chegando à estação.
- Não acredito que você ficou com ciúmes do
Ron e da Lilá - disse Harry enquanto eu pegava
minha mala.
- Quê? Não! - respondi indignada.
- Não minta Hermione. Todos nós vimos você
sair correndo quando eles começaram a se
beijar. - Potter continuou.
Não me dediquei a formar nenhuma resposta.
Permaneci em silêncio até o trem parar, e segui
os outros pela barreira para o mundo trouxa.
Despedi-me rapidamente dos Weasley e de
Potter, e arrastei meus pais para o carro.
- E então Mione? Como foi o ano? - perguntou
Paul ao volante.
- Turbulento - respondi depois de muito
pensar. - Vocês se importam de chegarmos em
casa antes de eu contar tudo? Tenho muita
coisa para falar.
- Claro querida - respondeu Jean. Ela e meu
pai passaram a viagem falando como foi o ano
deles, alguns casos engraçados de pacientes e
os simpósios que eles participaram. Uma hora
depois, mais ou menos, chegamos em casa. - Vá
descansar. Quando a janta estiver pronta eu te
chamo, e depois você tem a noite toda para nos
contar sobre o seu ano.
Concordei e subi as escadas para meu quarto.
No primeiro ano, nas férias de natal, descobri
que o rastreador não é tão potente como fazem
parecer nos livros de regras da escola e do
ministério. Desde que nenhum trouxa visse
nada, e contanto que fossem magias
inofensivas, eu conseguia usar minha varinha
tranquilamente. Com algumas palavras minha
mala escolar estava desfeita e cada coisa estava
em seu devido lugar. Me joguei na cama e
fiquei observando o teto, que há anos possuía o
mesmo feitiço que o salão principal, mostrando
a mim o céu do lado de fora.
Sem que eu permitisse, lembranças dos
momentos que passei com meus amigos desde o
primeiro ano começaram a correr por minha
mente. Primeiro momentos felizes, mas estes
logo foram substituídos por situações que,
quando aconteceram, eu não dei atenção.
Estavam sempre lá, escondidos no fundo da
minha mente, mas nessa hora tudo voltou como
uma enxurrada. Ron várias vezes me chamando
de rata de biblioteca e cabelo de vassoura.
Harry dizendo ter pensado em alguma coisa
brilhante, sendo que fui eu quem deu a ideia
em primeiro lugar. Gina só falando comigo para
dizer o quanto Harry era lindo. Neville apenas
querendo ajuda em alguma lição.
Havia os momentos em que os outros Weasley me
ignoravam, menos Percy, é claro. Luna parecia
inventar as coisas quando estava perto de mim
de propósito, apenas pare me deixar irritada.
Às vezes qualquer um deles deixava de falar, ou
mudava de assunto quando eu chegava perto.
The snow glows white on the mountain tonight/
A neve brilha branca na montanha esta noite
Not a footprint to be seen/ Nenhuma pegada a
ser vista
A kingdom of isolation/ Um reino de isolamento
And it looks like I'm the queen/ E parece que
eu sou a rainha
The wind is howling like this swirling storm
inside/ O vento está uivando como esta
turbulenta tempestade interior
Couldn't keep it in, heaven knows I've tried/
Não foi possível mantê-lo, Céu sabe que eu
tentei
Eu devia ser muito cega mesmo para nunca ter
reparado.
Eu me sentia usada, traída.
Lágrimas escorriam por meu rosto, mas eu não
me importava. Abracei minhas pernas, ficando
em posição fetal, e deixei que a dor tomasse
cada vez mais conta de mim. Antes era fácil
ignorar tudo o que eu havia ouvido, pois eu
estava na escola; eu tinha que esconder de
todos o que eu sentia; eu tinha Draco ao meu
lado, e mais alguém que eu sabia que me amava.
Mas em casa, sozinha e protegida, eu apenas
não conseguia me segurar. Aquilo machucava
tanto! Nunca antes pensei que palavras
pudessem fazer tanto estrago... como eu
estava errada. Como eu fui ingênua! Eles se
aproveitaram de mim por anos, da minha
inteligência e da minha bondade. Eles me
fizeram amá-los e considerá-los uma segunda
família.
Não sei quando comecei a gritar, apenas percebi
que o fazia quando Jean e Paul entraram
correndo no meu quarto. Ao ver meu estado
minha mãe me abraçou e meu pai sentou ao meu
lado, esfregando as mãos em minha perna.
Quando meus soluços diminuíram, passei a
contar aos dois o que havia acontecido. Disse
sobre os sonhos de Harry, as aulas de
oclumência, a visão que Potter teve de Sirius,
quando nos levei a Floresta Proibida, nossa ida
ao Ministério da Magia, e por fim a conversa
que ouvi.
Ao terminar, meus pais estavam possessos. Eles
estavam indignados que meus amigos, aqueles
que eu sempre protegi, tivessem feito isso
comigo. Ouvi-los praguejar e concordar comigo
apenas me deixou pior, e me fez voltar a
chorar. Jean disse que ia terminar de fazer o
jantar, e Paul me abraçou e ficou mexendo em
meus cabelos.
Com o carinho que recebia e em meio às
lágrimas, dormi. Depois de tanto tempo, estava
tudo escuro novamente. Eu me sentia tão
pequena, e eu estava sozinha e morrendo de
medo. Senti que alguém me abraçou. A pessoa
era muito maior do que eu, levando em conta
que todo o meu corpo podia se acomodar contra
o peito dele tranquilamente. Ele - eu tinha
certeza que era um homem - me passava uma
sensação de segurança incrível, mas algo não
me deixava não ter medo. Contra minha
vontade, fui separada dele. Comecei a gritar,
eu não queria perdê-lo, deixá-lo. Eu precisava
imensamente dele. Continuei a gritar,
chamando por um nome que eu não conseguia
entender. Então eu acordei.
Assustada de mais por mais uma vez ter
presenciado o antigo pesadelo, sentei na cama e
abracei os joelhos, me encolhendo o máximo que
podia, e tentando sentir mais uma vez aquela
segurança que o homem me passava.
Eu não havia parado de chorar. Agora estava
tudo misturado. A dor da traição e o pesadelo.
Eu preferiria morrer a continuar tendo que
enfrentar tudo aquilo.
Desci as escadas sem me importar com minha
aparência derrotada. Jean e Paul estavam em
silêncio na cozinha enquanto arrumavam a
mesa.
- Já acordou Mione? - meu pai perguntou ao
me ver escorada na porta.
- Pesadelo - respondi simplesmente.
Jean deixou um beijo em minha cabeça. -
Sente. Vamos comer enquanto você se acalma.
Depois quero saber as coisas boas que
aconteceram esse ano com você.
Fiz o que ela disse. Como era nosso costume,
comemos em silêncio. Depois nos dirigimos à
sala, onde meus pais se sentaram
confortavelmente no sofá, e eu me acomodei em
uma poltrona de frente para eles. Comecei
contando sobre Umbridge. Não era exatamente
algo bom, mas mos rendeu algumas
gargalhadas, e fez meu humor se estabilizar
um pouco.
- Não sei como dizer isso, então vou ser direta.
Eu menti a vocês quando disse que ia passar o
feriado de final de ano com os Weasley. - eles
me olharam curiosos - Eu fui para a casa dos
meus pais. Dos meus pais de sangue.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Jean, e eu
corri me sentar entre eles no sofá. Contei da
carta que recebi antes do primeiro passeio a
Hogsmead, e de como conheci minha mãe. Contei
que conversamos e que ela não era a bruxa que
todos pintavam. Expliquei sobre a minha
família, e o quão bem eu me senti ao abraçar
meu pai pela primeira vez.
- Eu só quero que vocês saibam que eu amo
vocês. - eu disse quando terminei de falar tudo
o que sabia dos meus outros pais - Eu não nasci
de vocês dois, mas vocês nunca deixarão de ser
meus pais também. Vocês me criaram e me
ensinaram a ser quem sou hoje. Isso nunca vai
mudar. E não quero que vocês temam. Já falei
com meu pai, Tom, e apesar da política de puro
sangue dele, ele sabe o quanto vocês significam
para mim. Nenhum dos Comensais fará qualquer
coisa a vocês, e assim que eu for vê-los,
pedirei para que alguém venha blindar a mente
de vocês, para que assim ninguém possa ver
nada do que conto a vocês, e para vocês dois
estarem mais seguros.
- Você se preocupa de mais conosco - disse
Jean ao me abraçar.
- Nós é que devíamos ter certeza de que você
ficará bem, e não o contrario - Paul completou.
Sorrimos.
Escondi minha dor o mais fundo que pude, e me
permiti ficar apenas ali, junto aos dois. Depois
de mais algumas perguntas que respondi, meu
pai ligou a televisão e colocou no National
Geographic. Assistimos a um documentário
muito interessante sobre a história do planeta
Terra. Ao voltar ao meu quarto horas mais
tarde, tomei imediatamente minha poção, e era
impossível eu dormir melhor.
Don't let them in, don't let them see/ Não os
deixe entrar, não os deixe ver
Be the good girl you always have to be/ Seja a
boa menina que você sempre teve que ser
Conceal, don't feel, don't let them know/
Oculte, não sinta, não deixe que eles saibam
Well, now they know/ Bem, agora eles sabem
Ao levantar no dia seguinte, me propus de boa
vontade a acompanhar meus pais na clinica
odontológica e ajudá-los no que fosse
necessário. Eu não queria ficar parada e
permitir que a dor que senti antes voltasse.
Quando voltamos para casa comecei a fazer as
lições que os professores passaram para as
férias. Como sempre, não era muita coisa, e eu
sabia que logo terminaria para poder ter o
resto do verão livre. Domingo, como meus pais
não trabalham, fomos a um parque durante a
tarde, fazer piquenique.
Conforme os dias passavam, minha dor pela
traição daqueles que se diziam meus amigos se
tornava cada vez mais raiva e desejo de
vingança. Eu prometi a mim mesma que nunca
mais derramaria uma lágrima sequer por eles.
E cada um que falou mal de mim, que me
insultou e me traiu, estava ainda mais perto de
sua morte.
Diziam horrores sobre o Lorde das Trevas, mas
nunca alguém poderia dizer que ele mentiu.
Cada um de seus seguidores sabia exatamente o
que estava fazendo, e por que motivo. Meu pai
nunca traiu um aliado. Nunca deixou que
alguém morresse sem propósito, ou sem
vingança. Ao contrário dele, Albus Dumbledore
manipulava cada integrante de sua Ordem da
Fênix; ele deixou Harry de propósito na casa
dos tios para que o menino-que-sobreviveu
tivesse raiva e ódio. E como consequência,
Harry transformou-se na pessoa horrível,
mentirosa e mesquinha que é hoje, se achando o
único herói do mundo bruxo, o salvador da
nação.
Eu havia dito que só escolheria um lado depois
que conhecesse bem minhas opções. Eu não
tinha mais nenhuma duvida sobre o que queria.
Meus pais, minha família, eles não eram
perfeitos, e nunca disseram isso. Eles lutam
por uma causa, uma crença. Eles têm fé que
vão conseguir, e fazem o seu melhor para isso.
Eu sabia que ainda havia muito que aprender
sobre essa guerra, mas depois de 15 dias que
fiquei com meus pais trouxas, minha decisão
estava tomada. Nenhum pingo de
arrependimento poderia me assolar.
Let it go, let it go/ Deixe ir, deixe ir
Can't hold it back anymore/ Não posso suportar
mais
Let it go, let it go/ Deixe ir, deixe ir
Turn away and slam the door/ Viro e bato a
porta
I don't care what they're going to say/ Eu não
ligo para o que eles vão dizer
Let the storm rage on/ Deixe a tempestade de
raiva acender
The cold never bothered me anyway/ O frio
nunca me incomodou de qualquer maneira
Arrumei minha mala em alguns poucos minutos.
Despedi-me de meus pais prometendo que
voltaria para vê-los antes de ir para Hogwarts.
Encolhi minha mala e guardei-a no bolso de
minhas vestes. No último segundo resolvi
guardar meus gerânios na bolsa que eu levava.
Segurei a taça e deixando meu poder livre,
disse que queria ir até meu pai. Tudo a minha
volta começou a rodar me deixando um pouco
enjoada. Assim que me recuperei, olhei para
frente e vi que estava perante meus pais e
mais seis homens. Tio Luc e Severus Snape
apenas me encararam em silêncio, enquanto
isso, os outros quatro, que eu não fazia ideia
de quem eram, levantaram e apontaram as
varinhas para mim.
Antes que qualquer um deles pudesse dizer
alguma maldição, virei para meu pai, que me
observava curioso e ansioso e disse "Eu já fiz
minha escolha." Ele sorriu verdadeiramente,
mesmo estando na presença dos outros.
- Maya! - minha elfa atendeu o chamado
instantaneamente - Guie minha filha até o
quarto dela e tenha certeza de que ela tem
tudo o que precisa. Eu e sua mãe te
alcançaremos o mais breve possível, Hermione.
Acenei, e sem dizer mais nenhuma palavra,
segui Maya que saltitava na minha frente
enquanto passava por corredores e subia
escadas. Só depois de muito garantir a elfa que
eu estava bem, e que não precisava de nada, foi
que consegui ficar sozinha. Aumentei minha
mala, deixei-a em um canto, conjurei um vaso
na mesinha de cabeceira e coloquei os gerânios.
Tive tempo suficiente de relembrar onde cada
coisa ficava - havia algumas/muitas roupas e
sapatos para mim dentro do armário e livros em
uma estante - e pude admirar a vista da minha
janela tranquilamente antes que a porta
voltasse a abrir.
Meus pais entraram, e Bella veio imediatamente
me abraçar.
- Como você está? Maya nos contou o que
Potter, Weasley e Longbottom falaram. Eu e
seu pai realmente pensamos que eles eram seus
amigos. - mamãe me prendeu mais forte em
seus braços, e eu precisei fazer um grande
esforço para me separar dela e abraçar meu
pai.
- Eu estou melhor agora - respondi - E, de
certa forma, isso foi bom. Agora eu sei quem
eles realmente são, e eles vão pagar pelo que
falaram. Eu não estava mentindo quando disse
que já fiz minha escolha. Eu estou do lado de
vocês nessa guerra. Até o fim.
- Você não sabe como ouvir essas palavras me
deixa feliz - meu pai disse voltando a me
abraçar. - Eu nunca deixaria de te amar,
mesmo que no fim você escolhesse Dumbledore e
Potter, mas nada me faz mais contente que
saber que minha filha estará ao meu lado.
Agora, eu quero te apresentar a algumas
pessoas.
- Quem?
- Os homens que estavam na reunião quando
você chegou - minha mãe respondeu enquanto
saiamos para o corredor.
- Darei um jeito para que você aprenda tudo o
que precisa saber sobre essa guerra. - papai
disse ao meu lado - Por enquanto, eu tenho
muitos seguidores, não apenas aqui no Reino
Unido, mas em outras partes do mundo também,
e chega um momento que apenas um homem não
é o suficiente para controlar tantas vontades.
Para isso eu tenho um circulo interno. Os sete
Comensais que fazem parte dele são chamados
de Cavaleiros de Walpurgis, e cada um é
responsável por uma coisa. Sua mãe está ao
meu lado, controlando as missões e estratégias.
Severus, como você já sabe, é nosso principal
espião, e Mestre de Poções. Lucius é
responsável pela seleção dos novos Comensais e
seu treinamento antes de prestarem o
juramento e receberem a Marca Negra.
Rodolphus Lestrange lidera os Comensais
americanos, e seu irmão, Rabastan, os
africanos. Alexander Selwyn é responsável
pelos Comensais da Ásia e da Oceania, e por
fim, Christopher Avery, pelos da Europa.
"Os sete são, entre todos, os que mais têm
minha confiança e respeito. Cada um deles
conduz sua missão da melhor forma possível.
Quando você chegou, estávamos no meio de uma
reunião de progresso, onde eles me informam
tudo o que aconteceu no último mês. Depois
continuaremos."
Papai apenas parou de falar porque estávamos
na porta da sala de reuniões. Entramos e as
conversas pararam. Tom sentou-se na ponta da
mesa, minha mãe ao seu lado direito, e fez um
gesto para que eu sentasse na cadeira vazia, ao
lado esquerdo de meu pai. Do meu outro lado
estava o tio Luc, e na minha frente o
professor Snape.
- Agora, mais formalmente, esta é minha filha,
a herdeira de meu reinado, Hermione Black
Riddle. - meu pai apresentou. Com exceção dos
meus pais, os outros Comensais bradaram ao
mesmo tempo "Princesa", me deixando corada e
sem saber o que fazer. Acabei optando por
apenas um aceno de reconhecimento. - Onde
estávamos antes que Hermione chegasse?
- Se me permite My Lord... - começou um dos
Lestrange. Eu sabia quem era apenas por sua
semelhança ao irmão.
Eles ficaram conversando por algum tempo, mas
eu não prestei muita atenção. De vez em
quando eu ouvia algo interessante e parava de
divagar para entender o que estava sendo dito.
Eu estava feliz por estar em casa, e queria
poder fazer alguma coisa para ajudar. Quando
Severus começou a falar, automaticamente meu
cérebro se focou em prestar atenção em suas
palavras.
- As pessoas estão começando a voltar para o
lado de Dumbledore, agora que o Ministério
admitiu que o Senhor está de volta. Fudge
mantinha contato constante com Dumbledore,
mas ainda não sabemos como Scrimgeour vai se
portar agora que está assumindo a presidência.
Em relação à Ordem, por enquanto estão
tranquilos. Pessoalmente, arrisco dizer que
estão perdidos, sem saber o que fazer ou por
onde começar. - Snape falava tranquilamente,
sua voz arrastando as palavras e fazendo
arrepios passarem por meu corpo. - Ele tem a
intenção de levar Potter para uma visita a
Slughorn em alguns dias, ainda não sei
precisamente quando, na esperança de que o
garoto faça o professor abdicar sua
aposentadoria.
- E conhecendo Horácio como conheço, ele
aceitará, nem que seja apenas para conquistar
Potter e levá-lo para seu clube. - meu pai
suspirou - O que o velho pretende fazer com
você, Severus?
- Assim que Slughorn for contratado, serei
anunciado como o novo professor de Defesa
Contra as Artes das Trevas.
- Ótimo! Irei apreciar muito se você for capaz
de manter um olho em nosso colega, Horácio.
Ele sabe de mais... E também tenha certeza de
saber tudo o que se passa pela mente de Potter.
- Com prazer My Lord.
- Mais alguma informação para me dar
Severus?
- Uma última. Ontem à noite Dumbledore disse
que eu tenho que escolher um ajudante para o
ano letivo. Além das aulas, o velho está
prevendo que vou precisar de ajuda com as
poções que preparo para o castelo e para a
Ordem, além, é claro, que minha carga horária
como espião deve aumentar esse ano. Ainda não
dei uma resposta.
Meu pai sorriu e me encarou por um momento.
Vi que minha mãe ficou tensa.
- Sua escolha obvia, para o velho, deve ser
Draco, que além de ser seu afilhado é muito
próximo a você. Mas pedirei que escolha
Hermione. Dumbledore ficará feliz por você
estar interagindo com alguém do "trio de
ouro", e ele sabe muito bem que Potter e
Weasley não tem capacidade de aceitar um
trabalho extra preparando poções.
- Tom... -minha mãe começou, mas papai fez
um sinal para ela ficar quieta e continuou a
falar.
- Na verdade, eu estava mesmo precisando de
alguém para ensinar algumas coisas a
Hermione. Ela estar de ajudando será uma
desculpa perfeita para que você possa treiná-la
durante o ano letivo.
- Será uma honra, My Lord - ao contrário do
que pensei, Snape parecia muito contente com a
missão, e não aceitou ser meu... tutor apenas
para cumprir a ordem de seu lorde.
- TOM RIDDLE! - minha mãe gritou assustando
a todos na mesa. Eu me impressionei por ela
chamar seu nome na frente dos outros
comensais, e eles pareciam tão abismados
quanto eu. - Agora, você sabe muito bem a
minha opinião sobre esse assunto. Existem
muitas pessoas que podem ensinar Hermione.
Ela é inteligente, vai aprender rápido, e temos
as férias para isso. Não é necessário que ela
passe mais tempo ainda ao lado de Snape...
- Bella - tio Lucius interrompeu, deixando-me
extremamente curiosa para saber por que
mamãe não gostava da ideia de eu estar perto
de Severus. - Ao menos que vocês já estejam
planejando tornar público o assunto, eu te
aconselho a manter a boca calada, e discutir
com seu marido em particular.
- OLHA AQUI LUCIUS MALFOY! NÃO É PORQUE
VOCÊ É MARIDO DA MINHA IRMÃ QUE VOCÊ TEM
O DIREITO DE FALAR COMIGO ASSIM! - será
que custava alguém me explicar o que estava
acontecendo para minha mãe estar com tanta
raiva?
- Bellatrix! - meu pai chamou. Enquanto meus
pais se encaravam, eu podia jurar que eles
estavam conversando silenciosamente. Mamãe se
sentou, e apesar de claramente estar se
segurando para não voltar a gritar, ficou
quieta. - Não vou mudar minha mente. Severus
está indo para começar o treinamento de
Hermione amanhã. Mais tarde conversaremos
Bella, mas você sabe que já adiamos isso por
muito tempo. Nossa filha faz 17 anos em dois
meses.
Mamãe acenou resignada, e eu fiquei ainda
mais curiosa.
- Alguém pode me explicar o que está
acontecendo? Por que o professor Snape não
pode me ensinar o que quer que seja, mãe? E o
que tem de tão importante em eu fazer 17?
- Depois do seu aniversário, você atingirá a
maioridade. - respondeu meu pai totalmente
ignorando a pergunta sobre Severus. - Eu sei
que pelos meses que você usou o vira-tempo no
seu terceiro ano, você já possui mais de 17
anos, mas apenas no dia do seu aniversário é
que seu rastreador vai parar de funcionar
totalmente. E, a partir desse dia, você poderá
casar.
Gelei. Eu sabia que meus pais acabariam
arrumando um casamento arranjado para mim,
mas não imaginei que seria tão cedo. Eu ainda
tinha dois anos antes de me formar em
Hogwarts. Eu ainda não havia sido capaz de
superar minha paixão infantil por meu
professor de poções. Professor esse que me
encarava sem receio, analisando cada reação
minha perante a notícia.
- Não se preocupe meu bebê. Seu pai pode ser
um monstro às vezes, mas não vou permitir que
você se case antes de terminar seus estudos...
Ou até que você mesma marque a data do
casamento. O que vier antes.
Mais uma vez me surpreendi com a reação e a
intensidade da minha mãe.
- Venha Hermione. - Bella me chamou
levantando-se - Você pode terminar essa
reunião sem a nossa presença. - ela disse ao
meu pai, beijou seus lábios, e me arrastou para
fora.
- Estou no mínimo surpresa - eu disse assim
que fechamos a porta atrás de nós.
- As reuniões entre os Cavaleiros são bem mais
tranquilas. Como Tom explicou, nós somos os
Comensais mais confiáveis. Os únicos que seu
pai sabe que não estão indo traí-lo algum dia.
Assim sendo, não precisamos manter a pose de
bruxos das trevas ao redor deles. No fim,
somos todos humanos.
Era essa humanidade que havia me pego
desprevenida desde a primeira vez que vi meus
pais. Essa humanidade que acabava com
qualquer teoria de Dumbledore. Somos todos
humanos.
Fomos para a biblioteca onde tia Narcisa e
Draco estavam conversando. Assim que me viu,
minha tia veio correndo me abraçar. Depois dos
costumeiros cumprimentos, Draco veio me
abraçar. Ele estava mais feliz do que a última
vez que o vi, no Expresso de Hogwarts. Tão
feliz que ao me abraçar, me tirou do chão e
rodou comigo em seus braços.
- Dray! - gargalhei e bati em seus ombros até
ele me colocar no chão. - Posso saber para que
tanta felicidade?
- Adivinhe!
Pesquisei em minha memória assuntos que
poderiam deixar meu primo tão feliz quanto ele
estava. Apenas uma coisa me veio em mente.
- Astoria Greengrass?
- Exatamente! - ele sorriu e voltou a abraçar
a tia Ciça. - Segui seu conselho aquele dia no
trem, e fui falar com ela. Depois, quando falei
com meu pai, ele concordou que os Greengrass
são uma ótima família. Vamos jantar na casa
deles hoje. Se tudo der certo, logo após meu
aniversário ficaremos noivos. Claro, tenho que
esperar até ela completar 17 para o casamento,
mas vai passar rápido.
- Fico feliz por você. - e eu realmente estava
feliz por ele, mas não conseguia ficar
totalmente tranquila sabendo que eu vou casar.
- Vamos Mia - minha mãe disse vindo se sentar
ao meu lado. - Não se preocupe com isso. Por
mais que eu odeie admitir, seu noivo não
poderia ser melhor para você. Confie em sua
mãe, você não vai se decepcionar. Eu posso não
ser a favor do seu casamento agora, mas é pelo
simples fato de que não quero te perder. Não
agora que eu acabei de ter minha bebê de volta.
- Quem é ele? - perguntei com a cabeça baixa.
Eu não pretendia fazer drama, mas depois de
tudo o que eu estava passando nesses dias...
Levantei o olhar a tempo de ver minha mãe e
minha tia trocando um olhar estranho.
- Não posso dizer. Não ainda.
- Por que não? - explodi. - Qual é o problema?
Eu já sei que você e meu pai me arranjaram um
casamento cheio de conveniências. Vai me dizer
o que agora? Que ele é velho? Gordo? Feio?
Sadista?
Para minha raiva, Narcisa Malfoy começou a
rir.
- Ele não é feio, e muito menos gordo. Ele
apenas é um...
- CIÇA! - mamãe gritou. - Não estamos te
contando, pois existem muitas coisas a mais
envolvidas. Vocês estão comprometidos desde
que você nasceu, e...
- O QUE?! - foi a minha vez de gritar.
- E a única coisa que você precisa saber por
enquanto - Bella continuou sem dar atenção ao
meu grito - é que ele te ama. E isso é muito
mais do que todas as noivas puros-sangues
podem desejar.

Don't be fear of the darknessOnde histórias criam vida. Descubra agora