Capítulo 2

345 22 26
                                    

It makes you burn to learn

You're not the only one

I left you be a field

Put down your blazing gun

O banco de trás do meu carro estava cheio de papeis, tinha ficado tempo demais na sala de reuniões, então tive que levar trabalho para casa mais uma vez. Estacionei, olhei pelo retrovisor a bagunça que estava atrás de mim, peguei minhas chaves, minha bolsa e saí do carro deixando os papeis lá. Não deveria, caso o prédio do outro lado da rua fosse o meu. Mas não era.

Atravessei com cautela, passei pela portaria e dei um sorrisinho para Harols, o porteiro. Ele já me conhecia de outras datas, então apenas me correspondeu com um sorriso gentil enquanto eu caminhava até o elevador, que não demorou muito para chegar.

Terceiro andar, apartamento número 23. Bati na porta marrom, esperando, enquanto minha respiração começava a ofegar e eu a me perguntar: Que diabos estou fazendo aqui? De novo?

- Caty! Você demorou, achei que não viria mais - encostou no batente da porta, com o braço apoiado mais alto e a mão atrás da cabeça, enquanto a outra continuava na maçaneta da porta. E claro, sempre com aquele sorriso convencido no rosto. - Por que tão séria? - ele disse baixo, sem tirar o sorriso do rosto, como sempre fazia quando repetia isso.

- Demorei para sair do carro, esperava me arrepender ainda lá, mas como sempre, me arrependo já aqui em cima - bufei.

- Ah, ok. Agora chega de conversa mole e entra logo, antes que eu desista.

- Não - baixou a guarda, confuso. - Foi mais um erro. Eu não deveria estar aqui.

Me virei, na intenção de ir embora. Aparecer ali, no apartamento do Adam foi uma burrice! Uma prova de quanto sou fraca, logo eu, que sempre fui de palavra. Quando se trata dele, eu sempre me via correndo atrás do que tinha dito.

- Para de palhaçada, Catherine! - me segurou firme pelo braço, me puxando de volta e para um pouco mais perto.

Me senti entorpecida por um tempo, com vontade de desistir e me entregar, fraca ao sentir aquele aroma de seu corpo e seus músculos se contraírem tão pertos de mim, mas não podia continuar com isso de "essa é a última noite" e nunca ser, de verdade, a última vez.

- Não estou de brincadeira Adam! - me soltei, mas ele não estava muito feliz.

Me puxou para dentro do apartamento e fechou a porta.

- Ah, qual é! Para que da insistência? Você pode foder quantas mulheres quiser, é só apontar que qualquer vadiazinha vem correndo para suas mãos. Mulher é idiota Adam, não importa o quanto ela se faz de durona e nem quanto tempo, no fundo, nem que seja bem lá no fundo, espera ser amada por alguém, de verdade. Já homem... vocês não tem coração, trocam de mulher fácil, basta enjoar.

- Só falta me dizer que agora resolveu virar uma imbecil romanticazinha. Porra, Caty!

- Não, Adam! Eu só cansei. Cansei dessa putaria toda. Até quando vamos nos enganar com isso? Até quando eu vou me enganar com isso? Venho para cá depois do trabalho, a gente transa, vou para casa, me arrumo e sigo para o trabalho até que me sinto carente de novo e volto para o seu apartamento... já faz tanto tempo que virou um círculo vicioso.

Ele mantinha o maxilar cerrado, não estava gostando do rumo dessa conversa. Por ele, eu chegava, nós íamos para cama e no outro dia, no trabalho, passávamos um pelo outro como se nem nos conhecêssemos. Sem contar que não estava acostumado a ser dispensado, nem eu estava acostumada e dispensá-lo.

- Ninguém está se enganando - disse entre dentes.

- Você é um canalha, Adam. Um babaca, imbecil, grosso... um filho da puta desgraçado que não se importa com nada e nem ninguém. Um sem coração. Mereço coisa melhor - despejei as últimas palavras com desprezo. Apenas as últimas.

Senti minha face arder e continuei com o rosto levemente virado enquanto algumas partes ainda formigavam. Adam segurou meu cabelo e puxou para trás, para que eu levantasse a cara e olhasse para ele.

Ah, antes que eu me esqueça: delicadeza não existia para Adam Levine.

- Quem você acha que é para dizer essas coisas? Na minha cara!

- Eu digo pelas costas se quiser, como todo mundo - murmurei e ele puxou de novo, mas tranquei a boca para não sair nenhum som.

- Cuidado com essa linda boquinha Catherine, você é só mais uma vadia! Como disse, basta eu apontar para qualquer outra vir feito cachorrinha para mim, então não venha se achar, trate de baixar essa crista. Porque se não, essa caridade de suprir tua carência, vai ter fim.

- Não ligo - disse firme, o encarando nos olhos como ele fazia. Senti sua mão vacilar no meu cabelo. - Afinal, essa cachorra aqui realmente cansou - me soltei e me afastei, prestes a abrir a porta se ele tivesse deixado.

Adam me puxou de volta, colou minha cintura à dele, uma das suas mãos segurou meu pescoço com tal firmeza que seria impossível escapar, e me beijou, daquela maneira, fazendo um calor fora do comum passear pelo meu corpo e um desejo sobrenatural me invadir quase instantaneamente.

Eu estava prestes a voltar atrás de tudo que acabei de dizer, usar meus gemidos altos enquanto a gente se enroscava na cama, naquele apartamento porco que nem parece de um advogado tão renomado, como um pedido de desculpa, do nosso melhor jeito. Mas ele me soltou.

- Durma com isso agora, Caty. Boa noite - ele sorriu cinicamente como sempre, abriu a porta enquanto eu ainda estava paralisada olhando para seu rosto, e me empurrou para fora do apartamento, me "acordando" ao jogar a minha bolsa que caiu em algum momento da briga.

E então, fechou a porta na minha cara.

Fiquei furiosa com isso! Ele realmente era um canalha e mais tudo aquilo que disse no começo! Maldito!

- Você não consegue levar um fora, né Levine? - gritei praticamente com a boca colada a porta. - Golpe sujo! Foi um golpe muito sujo! - chutei a porta com força, isso fez um barulho estrondoso. Grunhi de raiva.

Olhei para o lado, e um homem de meia idade me encarava próximo à porta do seu provável apartamento. Notando isso, voltei a minha postura, passei as mãos no meu cabelo. Estava completamente descabelada. Respirei fundo e dei um sorrisinho tentando me controlar, andei calmamente até o elevador que, logo chegou e, por sorte, vazio.

Entrei, respirei fundo alguns milhões de vezes, mas acabei soltando um grito para extravasar a raiva, pouco antes da porta se abrir. Harols não estava lá, por sorte. Talvez ele notasse que tinha algo errado apenas de me olhar com aquela postura falsa e passos programados, sempre focando a frente para... sei lá. Não tenho muitas certezas agora, minha cabeça estava a mil, o fato de ele ter me beijado e depois me expulsado de casa me deixou de cabeça para baixo e confusa, com apenas uma única certeza:

A de que eu odeio Adam Levine.

Keep Me Coming Back (pt)Onde histórias criam vida. Descubra agora