24 horas

Emboscada

                  

Os dias passam como borrões, todo o sentimento de angustia volta com força total me fazendo andar armada até o pescoço para todo lugar que vou. Abraço meu corpo fechando o casaquinho fino de lã quando entro na cafeteria. Por ser perto da minha casa, costumo frequentar bastante aqui fazendo com que a atendente saiba meu pedido decorado.

-O de sempre, Fê? - Monalisa pergunta me fazendo assentir com a cabeça. Meus pensamentos estão tão distantes que ando esquecendo de abastecer minha geladeira.

Como meu croissant e capuccino lentamente sem ter coragem de voltar a andar pelas ruas fria do Rio, não que estivesse gelado, mas usar uma blusa de lã é bem vindo nesta época do ano. Meu celular toca avisando uma nova mensagem no whatsapp.

"Cade você, amor?" Hames pergunta e mando o emoticon de um macaquinho com a mão na cara em resposta.

"Cafeteria da Mona?" Pergunta

"Com certeza. Estou me segurando para não comer uns brigadeiros que estou vendo"

"Não vejo problema, você que se acha gorda. Sabe que seu corpo pra mim está perfeito. Vou voltar, quando chegar me avisa. Te amo,fê"

Respondo com vários corações e beijinhos. Único lado bom de tudo isso foi ter encontrado Hames, não posso deixar de agradecer por ter um homem tão e especial em minha vida.

-Namorado? - uma voz rouca me faz derramar quase todo o líquido da xícara em meu colo. Levanto meus olhos querendo não acreditar em minhas lembranças, seus olhos azuis fixo em mim fazem minha mão tremer e meu olhar varrer o local em busca de alguma ajuda - Nem pense - ri e senta à minha frente - Como vai?

Tento falar algo, mas nada sai. Pretendo gritar ou fazer algo que faça com que as atenções parem em mim, não posso acreditar no que está acontecendo.

- Tem uma arma embaixo do meu casaco e 4 homens lá fora... - fala pegando a metade do croissant que não havia comido - Saudade de comer algo tão banal, acredita?

Acaba de comer e esfrega as mãos limpando-as. Observo cada movimento e penso em ligar para Hames deixando que escute tudo o que está acontecendo.

- No nosso último encontro você falava mais.

-O que quer? - consigo, enfim, dizer sem parecer uma tola. Seus cotovelos encostam na mesa e seu queixo é segurado pelo polegar e indicador.

-Vamos ver... Quero comer tanto coisa que nem sei, talvez beber uma coca... - fuzilo meu olhar no seu e ele da de ombros - Talvez.. So talvez eu queira me vingar de você.

- Você foi o único culpado por ir preso.

-Assim estou ficando mais confortável, agora estamos tendo um diálogo.

-Passar bem - tento me fazer de durona e me levanto pegando a bolsa na cadeira ao lado, James segura meus pulsos me fazendo sentar.

-Já está indo, loirinha? Nem começamos a conversar...

-Não estou para papo, estou indo trabalhar.

-Hm.. Trabalhar - engulo em seco percebendo a burrada que fiz - Seu trabalho me lembra algo... - coça o queixo como se estivesse pensando - Ah... Acho que estou lembrando... - seu olhar fica frio e seu rosto se contorce em raiva - Fiquei quase 3 anos naquela maldita prisão, você sabe a porra que eu vivi la dentro?

James fala no tom normal, mas eu sei que seu real desejo é gritar e esbravejar toda sua raiva. Fico apenas parada o encarando sem ter o que dizer, fico receosa de falar alguma coisa que o faça sacar uma arma e atirar no meio da minha testa.