24 horas

Jantar

Assim que abro meus olhos vejo uma linda caixa em cima da mesa, paro um pouco pensando do porquê do "presente" e acabo lembrando: é hoje.  Não vou mentir que tentei adiar o máximo possível, todas as vezes que me imaginei em sua companhia sentia um estranho frio na barriga, uma sensação nada agradável.

Após tomar o café da manhã, tomei banho e comecei a ler um livro. A curiosidade de olhar dentro da caixa só apareceu próximo a hora de me arrumar, com certeza seria mais alguma fantasia sem noção que ele me faria usar. 

Diferente de tudo que pensei, o vestido - preto, longo com um decote profundo nas costas e um fenda em minha perna esquerda - me deixou intrigada sem saber ao certo o que ele pretendia com aquilo. Após ficar devidamente pronta, apesar de não conter maquiagem ou perfume, fiquei esperando sentada na cama um pouco ansiosa. Tudo bem que já fizemos isso antes, mas, agora, teria que o enganar, fazendo-o pensar que estou submetida aos seus encantos.

Theodora aparece com um sorriso diferente no canto da boca, ela me olha e apenas concorda com a cabeça em um sinal claro de elogio. Andamos pela casa deserta, ao chegar no final do corredor subi um escada que continha ao fim uma grande porta de ferro fechada.

-Está trancada – falo enquanto tento abri-la.

-Ele jaja vem – fala voltando a andar pelo mesmo corredor que vinhemos.

É, realmente ninguém acha que eu possa fugir daqui.

Continuo parada sem ter coragem de bater na porta, minhas mãos começam a suar frio quando escuto passos atrás de mim, antes mesmo de me virar já reconheço seu cheiro.

-Desculpe, acabei tendo que sair para resolver um pequeno problema – fala parando logo atrás de mim – Pode me dar licença? – pergunta fazendo com que fique mais nervosa, porque está tão simpático?

Me afasto o dando passagem, a escada é estreita fazendo com que nossos corpos colem quando passa por mim, permaneço com os meus olhos no chão sem ter coragem de encara-lo.

Entro no terraço admirando o pequeno jardim a minha frente: uma grama curta com algumas flores bem distribuídas. Ao notar a vista percebo que nenhuma outra propriedade fica por perto, onde será que estamos? Olho para o lado e vejo James parando a frente de um tenda, ela é toda branca com uma mesa simples ao meio e uma grande almofada no chão, como se fosse um colchão. 

-Não vai chegar perto? – pergunta me tirando do torpor.

Caminho lentamente olhando para meus pés descalços, agora reparando noto que ele também está sem sapatos. Assim que chego na tenda percebo o grande tapete que a envolve, deve ser por isso a falta de calçados.

-Vem cá – olho em sua direção reparando demoradamente em seus trajes: uma calça branca dobrada na canela, um pouco acima dos pés, e uma blusa de botão longa também branca de um tecido leve com a manga presa no seus bíceps  – Vem cá, anjo.

Caminho lentamente ao seu encontro, ele se abaixa ligando uma pequena caixinha de som, uma música um pouco conhecida e antiga começa a tocar.

-Juanes, A dios le pido - diz pegando minha mão e me puxando para seu corpo – Vamos dançar um pouco.

-Não sabia que dançava – digo enquanto coloco minha mão em seu ombro.

-Graças a Deus falou, pensei que seria um monólogo a noite toda – começa a balançar me levando ao ritmo da música, apesar de não saber dançar muito, ele conduz muito bem fazendo com que me sinta à vontade - Un segundo más de vida para darte / Y mi corazón entero entregarte (Um segundo a mais de vida para te dar / E meu coração inteiro te entregar) – sussurra em meu ouvido enquanto coloca a mao em minhas costas nuas fazendo com que mova o quadril junto ao dele - Y que si me muero sea de amor/ Y si me enamoro sea de vos / Y que de tu voz sea este corazón / Todos los dias, yo, a dios le pido(E que se eu morro seja de amor / E se me apaixono seja por você / E que de tua voz seja este coração/ Todos os dias, a Deus eu peço) – me abaixa colocando levemente seus lábios nos meus.