Orgulho = Rejeição

2.7K 162 2
                                    

- Muitas coisas estão erradas. A mais significativa delas é que ainda estou aqui, assim como minhas caixas.

- Isso eu percebi - ele afirmou, pousando o queixo na mão e esperando paciente que ela continuasse. Dulce levantou-se e começou a caminhar pela pequena sala, que estava ainda menor devido às montanhas de caixas empilhadas.

- Bem, aconteceu o seguinte - ela começou, mostrando-se muito abatida: - cheguei da Europa hoje de manhã e descobri que Luke Castellan deu um desfalque na agência.

- Como? Não vá me dizer que aquele exemplo de eficiência andou trocando alguns números na contabilidade.

- É bem pior do que isso. Ele limpou tudo e desapareceu. É claro que estava ocupado demais em me roubar para arranjar algum tempo livre para levar minhas caixas para o outro apartamento, por isso... - deu de ombros - aqui estou.

Christopher permaneceu em silêncio por um longo momento.

- Você está brincando, não é? - perguntou, mesmo sabendo que era verdade. - Quer dizer que aquele loiro metido, bajulador, na realidade é um ladrão?

- É o que parece.

Ela olhou para as próprias unhas, vendo que o esmalte começava a descascar nas pontas, mas não ligou. Christopher percebeu aquilo e concluiu que a situação devia ser mesmo muito crítica.

- Você vai... vai ter de declarar sua falência? - ele perguntou, cauteloso.

Dulce endireitou-se, erguendo a cabeça:

- É claro que não! - respondeu, decidida. - Não vou permitir que ninguém destrua minha empresa. Annie e eu fizemos uma lista de todos a quem a agência deve dinheiro. Liguei para eles e expliquei pessoalmente a situação. Para aqueles que não quiseram me dar algum tempo, paguei com dinheiro da minha conta particular. O banco vai me conceder uma pequena linha de crédito, e Annie já está atrás dos nossos devedores. As portas continuarão abertas. - Porém, no final de seu discurso, um pouco da animação desaparecera. - É claro que, agora, tenho apenas sete dólares e cinquenta e três centavos na minha conta... - juntou, num fio de voz.

- Nem sei o que dizer. - Christopher desejava tocá-la, confortá-la de alguma maneira, mas não sabia como começar.

Dulce tinha o hábito de fechar-se em si mesma quando estava com problemas, e ele jamais conseguira atravessar as barreiras que ela erguia.

- Não precisa dizer nada - ela declarou. - Não é um problema seu, especialmente agora. Na verdade, nem estaria incomodando você com estas coisas se não fosse pelo fato de precisar ficar aqui, esta noite. Para ser franca, estou sem dinheiro e cansada demais para fazer outros arranjos. Mas, se permitir que eu passe a noite aqui, prometo que irei embora amanhã mesmo.

As palavras foram ditas de maneira casual, mas não o suficiente para enganar Christopher. Era óbvio que ela estava desesperada. Ficou observando-a, impotente para ajudá-la, enquanto percebia que seu autocontrole se desvanecia. Dulce virou-se rapidamente, mas ele chegou a ver que seus olhos estavam úmidos. Aquelas lágrimas o deixaram alarmado.

A única vez em que a vira chorar fora na noite em que decidiram se divorciar, e nem mesmo então ela lhe dera a oportunidade de consolá-la. Havia corrido para a porta e desaparecera durante horas, até retornar calma e tranquila. Mas não havia qualquer sinal de que ela iria sair, agora.

Ainda assim, Christopher reprimiu o impulso de tomá-la nos braços e deixá-la chorar em seu ombro. No fundo, sabia que, se o fizesse, Dulce o rejeitaria, orgulhosa demais para aceitar consolo.

Try Again (Vondy-Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora