Sessão de fotos

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- Tive de vir a pé, por isso vesti roupas mais confortáveis - Dulce explicou, adivinhando seus pensamentos.

- Você veio andando, com esse tempo? Por que não tomou um tá... - ele interrompeu-se, já sabendo a resposta. Ela não tinha dinheiro para o táxi. - Podia ligar, que eu ou Mayim iríamos buscá-la.

- Ah, não. Eu precisava andar um pouco - ela respondeu- Queria ter algum tempo para refrescar a cabeça, esquecer os problemas com os negócios.

Colocou a capa com as roupas sobre a mesa e abriu o zíper. Havia uma série de blusas de diferentes estilos e cores.

- Imaginei que iríamos tirar fotos somente da cintura para cima, por isso trouxe algumas blusas - informou.

Christopher decidiu começar as fotos com Dulce usando uma blusa de gola alta, muito simples, que valorizaria o brilho das pedras.

- E meu cabelo? - ela perguntou.

- Deixe-o preso, mas não severo demais. E use tons neutros na maquiagem.

- Você sabe mesmo o que quer - ela comentou, sorrindo. - É bem mais do que consigo com a maioria dos meus clientes.

Saiu em direção ao vestiário, a fim de se arrumar. Mayim suspirou quando ficou a sós com Christopher.

- Por que ela desistiu de posar? - perguntou. -É tão bela .Poderia ter feito uma fortuna.

- Esta é uma pergunta que cansei de me fazer - ele tornou. - Às vezes penso que, se ela não tivesse desistido, nós...

Interrompeu-se. Ia dizer que, se Dulce tivesse continuado como modelo, talvez eles não tivessem se divorciado. Era uma coisa estranha para se pensar, e também não era verdade.

- O que ia dizer? - Mayim insistiu.

- Acontece que Dulce fez fortuna como dona de agência de modelos - ele falou, tentando disfarçar.

- Você parece bastante orgulhoso dela.

- E não deveria ser?

- Não precisa ficar na defensiva. É que sempre tive a impressão de que você fazia pouco do trabalho dela na agência. Costumava referir-se a ele como um hobby, lembra-se?

Christopher franziu a testa. Ele se lembrava.

- Eu pensava que, quando ela descobrisse o quanto seria complicado comandar uma agência, retornaria à carreira de modelo. E estava errado.

Christopher percebia agora que, embora tivesse encorajado Dulce a abrir a agência, não fazia muita fé em sua habilidade. Havia esperado que se cansasse daquela aventura e realmente ficara surpreso quando ela começara a ganhar dinheiro. Fora então que havia cessado de lhe dar apoio moral e quando seus problemas de relacionamento de fato começaram.

Dulce voltou ao estúdio alguns minutos depois, tendo se transformado numa mulher sedutora e tentadora.

- Meu cabelo está bom? - perguntou, num tom profissional que destoava daquela imagem de sonho.

"Perfeito", Christopher queria dizer. Tudo nela era perfeito, desde os cabelos ruivos e sedosos, até à boca cheia e úmida, seguindo pelas curvas insinuantes e bem-feitas de seu corpo.

- Aham- ele respondeu, tentando não encará-la. - As joias estão naquela mesa. Pode colocar o jogo que está à direita - instruiu.

Dulce colocou as joias, mostrando-se fria e profissional. Tais modos começavam a irritar Christopher, pois desejava pensar que ela estivesse tão nervosa quanto ele.

- São lindas! - Dulce falou, admirando os brincos de rubi. - Está pronto para fotografar?

- Tudo pronto. Pode se sentar naquele banquinho, no centro do salão.

As joias combinavam com ela, Christopher pensou, mas isso ele já sabia. Tudo o que Dulce usava lhe ficava bem.

- Vire de perfil - ele instruiu. - Ótimo, agora, descanse o cotovelo no joelho, coloque a mão sob o queixo...

Trabalhar com Dulce era um prazer, em termos de eficiência e sensualidade. Ela parecia ler sua mente, sabendo exatamente o ângulo que ele procurava. Perdia pouco tempo dando instruções ou fazendo ajustes, por isso as fotos eram tiradas com rapidez. Ao mesmo tempo, era um prazer olhar para ela, admirar os contornos de seu rosto, iluminar seus cabelos de forma a criar sombras e brilhos.

Toda vez que Dulce olhava diretamente para a câmera, Christopher sentia-se tomado por uma desconfortável excitação. Embora sua mente lhe dissesse que ela dirigia aqueles olhos verdes-água para a câmara, seu corpo respondia que era ele quem recebia o olhar. Como um reflexo condicionado, Christopher se excitava.

As quatro primeiras séries de fotos terminaram num tempo recorde. Faltava apenas uma, e Christopher congratulou-se por ter conseguido manter a devida distância daquela modelo enlouquecedora. Porém, o desconforto provocado por sua ereção aumentava a cada instante.

Enquanto Dulce retirava o colar e bracelete que haviam acabado de fotografar, Mayim olhou no relógio.

- Preciso ir ver meus negativos na câmara escura - avisou. - Se necessitarem de mim para qualquer coisa, é só gritar. - E saiu, sem maiores explicações.

- Espere, Mayim... - Christopher chamou, em vão.

Dulce também não gostava da perspectiva de estar a sós com o ex-marido, naquelas circunstâncias. Havia sentido a maneira como a olhara, durante as fotos, acariciando-a com o olhar da mesma maneira suave e gentil que, ela sabia, costumava fazer com as mãos.

Toda modelo experimenta, mais cedo ou mais tarde, uma atração por seu fotógrafo, mas, quando este homem era Christopher, por quem seu corpo ardia e ansiava, a situação tornava-se bem mais complicada. Porém, ainda faltava uma série de fotos, e, como boa profissional, ela tentou esconder sua agitação interior.

Try Again (Vondy-Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora