Sinal Verde

30 5 1
                                    

A indiferença é um dos piores sentimentos para se lidar. Ela não tem forma, nem cor. Não é como o amor, que pode se transformar em ódio e vice versa. Ela não dá abertura a um abraço, ou a alguns pontapés. Não há contato físico. Não há química. Não há nada senão silêncio. E ainda, esse não gera expectativa; ou mesmo desconforto. A indiferença nada é, senão um limbo dos sentimentos. O qual, não sabemos o quanto irá durar.
Acordei sobressaltada de um terrível pesadelo, imaginando por quanto tempo aguentaria ficar acordada com medo de que outro viesse.
Havia um menino no sonho. Um a quem eu amava. Ou mesmo só acreditava que sim. Eu estava apaixonada. Perdidamente afogada na minha própria ilusão. E ele também estava... Por outra.

E isso é tudo que posso dizer sobre Leon. Quando ele me disse aquelas palavras. Quando ele disse que deveríamos ser amigos. Quando ele apontou para as palavras de outro alguém sobre mim, e reservou seu ciúmes para outra pessoa.
Foi quando ele disse "legal" e eu soube que tudo o que viria a seguir seria mais um relato de sua indiferença.

Ultimamente as coisas não têm seguido padrão algum. E minha vida tem sido cartas endereçadas ao Deus dará. Andei muito frustrada com tudo e realmente me esqueci de que deveria estar estudando pra valer.
Pelo menos, agora, tenho minhas amigas 100%, não estamos mais desligadas e nos encarando com rancor e segredos. Estamos ainda mais conectadas.
De uma coisa eu sei, vou esquecer Leon. E essa será minha maior coragem do momento. Eu não quero me lembrar de toda a angústia. Quero me livrar de todos esses sonhos sem cabimento. E isso só será possível se a realidade mudar, pois realmente acredito que os sonhos reflitam nossa vida, nossos anseios e desejos profundos.

* * * *

12:47
Oiii ~Guida D.
12:47
Já chegou na sua casa? ~Greg
12:47
Aham, e vc?
12:48
Ainda na escola
Meu pai tá conversando com a Olívia
Acho q eles estão flertando... ~Greg
12:49
Hauahauahauah ~Guida D.
12:49
É sério! Kkkk ~Greg
12:49
Aham
E a sua mãe ?! Der Hauahuah ~Guida D.

Digitando. Nada. Digitando... O-ou!

12:51
Ela morreu quando eu tinha 5 anos. :/ ~Greg

_Parabéns, Dal. Você é um gênio. - pensei alto e me permiti respirar fundo.

Online.

12:52
Desculpa, eu não sabia ):

Visualizado.
Visto pela última vez às 12:52.

_Merda.

* * * *

_Dal. Você. Tá. Me. Estressando! - Rita disse pausadamente - Essa sua lamentação tá ficando insuportável!
_Mas, eu sei que esse tipo de coisa não acaba de uma hora para outra! - retruquei, ela tampou os olhos com uma das mãos, buscando dentro de si um pouco mais de paciência. E respondeu, segurando meus braços cruzados.
_Dal, olha. Enquanto eu superava, bem, TUDO. Ahn... Eu percebi que não tem nada a ver e o fato de termos virado amigos ajudou muito.
_Tá.
_Ele me contou algumas coisas.
_Tá. - Respondi de novo mecanicamente.

Ainda não havia contado às minhas melhores amigas sobre o dia anterior. Mas a ideia dele me fazia sorrir. Era possível estar tão confusa em relação a duas pessoas?!?!
Por um lado, ainda doía pensar em Leon e o sonho esquisito não tinha ajudado muito. Por outro, lembrar de Gregório era tão curioso que eu poderia explodir de felicidade, só pelo fato de alguém se interessar por mim.
Rita ainda falava, quando saí do meu transe particular. O que está ficando muito frequente.
_Dal! Você tá ouvindo o que eu to falando?!
_Desculpa, Rita. É que... Sei lá. Aconteceu uma coisa e... - fiquei olhando para ela, com a língua no dente e a boca semiaberta. Mas eu tinha receio.
Como começar a falar de uma coisa sobre a qual eu nem tenho certeza do que foi ou o que é?
_Olha, se ajuda saber, quando você estava muuuuito louca, e encontramos ele, o Gustavo - ela disse com aspas nos dedos e os olhos abobados - ele disse: Uau, ela É linda.
Sorri. Entretanto, não pude disfarçar. Rita viu.
Rita sorriu.
_Ahá! Dal, eu sou sua melhor amiga então por favor vê se me entende! O Gregório te quer! Entendeu? Ele gosta de você. Ele passou duas semanas me enlouquecendo porque ele quer VOCÊ! E o Leon É e SEMPRE VAI SER um mala! Esquece ele e foca no bonitinho de coração grande.
Sorri de novo. Dessa vez com a sobrancelha indagando mais uma coisa...
_Eu to bem com isso. Só vai.
Meus ombros relaxaram, e eu torcia para que algum dos meus órgãos pulasse dentro de mim, porque se eu fizesse isso, seria um pouco inapropriado.
_Okok. Vou pensar!
Rita me olhou incrédula e acrescentou para inflar meu ego.
_Ele fez um grafite declarando que quer te beijar! De novo! E que você é apaixonante!

Quando Rita disse aquelas palavras, não pude deixar de pensar no efeito que elas tiveram no dia anterior, na suspensão de Gregório.
E, para falar a verdade, eu não havia pensado nisso com afinco. Eu nem mesmo me lembrava disso.
Deixei Rita onde estava e dei alguns passos em direção à parede próxima ao banheiro feminino. Mas não havia mais nada. Talvez, alguma impressão de tinta ainda marcava, ou, talvez aquilo fosse só alguma lembrança.
O zelador havia feito um bom trabalho.

Olhei para trás e Rita sorriu com toda sua esperteza. Ao seu lado, Gregório. Voltei a olhar para Rita sem entender muito bem. Mas, quando olhei no fundo dos olhos daquela mala sem alça,  eu percebi. Ela já sabia o que tinha acontecido naquela sala dos professores. E também no corredor.

Sorri sem jeito e fui até os dois. Finalmente, me tocando de que eles, de algum jeito, estavam amigos, MUITO amigos.

Gregório e eu não nos falamos desde aquela conversa catastrófica, na qual descobri a mais triste situação que, provavelmente, ele havia vivido.

_Ei. - ele disse sorrindo.
_Oi. - retribuí.
Rita me olhou ansiosa e deu sua deixa:
_Ahn... Vou subir. Tchau!
Olhei para ela irritada, torcendo o bico para ela entender que:
Não me deixa aqui sozinha com esse...
Olhei para o menino de cabelo castanho bem na minha frente, que ria sutilmente.
Gato.

_Oi - eu disse de novo.
Ele riu.
_Pensou?
Fiquei um pouco confusa com a pergunta, mas antes que pudesse tentar desvendá-la formulei:
_No que?
Ele riu de novo.
Gato.
_Em sair comigo. - sorri sem jeito, pensando de fato na pergunta reciclada.
_Talvez... Tenho recebido muito essa pergunta ultimamente - tentei parecer engraçada, no entanto ele me olhou um pouco inquieto.
_To sabendo. Eu vi o Nardo te chamando pra sair, ontem.
_Ah é? - entre levantar uma das sobrancelhas, sendo sedutora, e sorrir timidamente, sorri timidamente. Por dois motivos:
1. Sou extrovertida em vários aspectos, mas não consigo me soltar totalmente falando com um paquera em potencial.
2. Cai entre nós? Um olhar sedutor não é o tipo de teatro que eu administro. Ele provavelmente acharia que eu estava com gases.

_Sim. - Ele disse oco. - já era difícil não poder falar com você, mas ver aquele abutre em cima de você acabou me deixando sufocado.
Não sei o que foi que deu em mim... Coloquei uma mão em sua nuca e o beijei. Rápido. Sem pensar. Pode se dizer que quem estava perto só perceberia se estivesse olhando com muita precisão.
Gregório sorriu sem os dentes. E era realmente um largo sorriso, de modo que ele envolvia até mesmo seus olhos. Depois, ainda com essa curiosa expressão, ele se virou e saiu em direção às escadas.
Ok. O que foi isso?
Ele parou seu andar tranquilo e se virou 180°, dizendo:
_Legal, te pego às sete!
Ri feito uma idiota sem entender o que estava acontecendo e morrendo de vergonha pelo fato de que agora todos sabiam que eu tinha um encontro. Comecei a andar para o lado contrário. O que não fazia sentido porque eu deveria estar subindo com ele para as duas últimas aulas.

Ao olhar para trás, lá estava ele. Observando-me com ternura. Apertei os passos, quando o sinal tocou e com pena dele por me esperar muito.

Subimos juntos. Lado a lado.

Exatamente como na primeira vez em
que nos falamos.
Dessa vez, não tinha mágoa, vinda de Matheus ou de Leon. Meu coração batia rápido, e meu rosto fervia. E caminhar ao lado dele, na nossa paz mútua, me reconfortava.
Foi quando percebi.

O silêncio era nosso aliado.

O Número 8Onde histórias criam vida. Descubra agora