Eu não suportava mais ficar presa em meu quarto, precisava sair, mas havia cerca de dez reportes com as câmeras apontadas diretamente para nossa casa, todos queriam uma foto, alguma notícia de algum membro da nossa família.
Meu pai era o prefeito da cidade de Virgília, qualquer passo em falso dele ou de algum parentesco próximo do prefeito, era motivo de holofotes.
Noite passada, meu pai foi flagrado saindo com uma suposta mulher loira chamada Roberta. Para mim a presença de Roberta na vida de meu pai já era comum mas para o povo de Virgília não. O prefeito era apaixonado pela primeira dama Eloiza, que tinha um filho adorável chamado Charlie e a amável Arabella, mas não era assim.
O casamento de meus pais é apenas uma imagem passada para a população da pequena cidade, minha mãe não queria perder o trono de primeira dama e meu pai quer continuar forçando a ideia da família feliz, mas estava se tornando o oposto.
Meu pai apresentou a Roberta para mim antes de oficializar a relação com ela para a família.
Admirava a forma que ela passava o batom vermelho forte em seus lábios carnudos com suas calças de coro e seus cabelos bagunçados loiros, também, admirava sua prova de amor de ficar com meu pai e passar a ser chamada de amante já que eles não se assumiram o relacionamento, ela não ligava para os outros e sim o que a se satisfazia.
Roberta era jovem, tinhas seus vinte e cinco anos, mas ela contou-me que sente uma queda por homens mais velhos, talvez seja por isso que está com meu pai.
Toda madrugada, eu fugia pela janela do meu quarto que se deparava para o fundo da casa, onde não havia repórteres e assim facilitava minha fuga.
Costumava passar noites na casa da árvores com Eleanor e Gregório, nós adotamos a casa abandonada da arvore á cinco anos como nossa, Gregório ia para lá quando estava precisando fugir de seus problemas, e Eleanor vivia mais ali do que na sua própria casa, ela é o nosso ponto da droga, nos leva bebidas e cigarros quando precisávamos.
Era três e trinta e nove da madrugada, coloquei minha jaqueta jeans e um batom vermelho tentando imitar Roberta, claro, não ficava tão bom em mim quando ficava nela mas eu gostava de cores fortes para destacar meus lábios.
Peguei minha mochila de cima do criado mudo e coloquei em minhas costas, abri a veneziana de vidro calmamente evitando o barulho e então pulei.
Olhei para o lado direito onde dava para frente de nossa casa e também onde todos os reportes costumavam ficar e então segui caminho para a porta dos fundos da nossa casa.
Sentia um vento balançar meus cabelos e sentia-me livre de todas as ordens que eu não costumava cumprir, atravessei a rua e desapareci em uma mata onde havia uma trilha feita por nós três para ter acessos a casa da árvore, desviava de alguns galhos e algumas teias até finalmente chegar.
Subi as escadas de improviso e abri a pequena porta da casa me deparando com Eleanor lendo " Nunca apague a luz" um livro pela qual ela já deve ter lido mais de quatrocentos e cinquenta vezes, larguei minha mochila no canto da casa e peguei seu isqueiro e roubei uma metáfora de seu casaco jeans igual o meu.
- Cadê o Gregório? - Perguntei.
- Shhhhhh - Ela diz sem tirar os olhos do livro - Estou lendo.
- Você já leu esse livro várias vezes está na hora de comprar outro - digo-lhe esticando minhas pernas em cima da sua.
- Dane-se quantas vezes eu já li, Stephane é a melhor autora de todas - ela pausa sua leitura e então pega uma metáfora, coloca entre os dentes e a liga - Ela me entende, você pode não acreditar mas ela escreveu esse livro para mim.
Eu sorrio e então digo-lhe.
- Meu pai foi flagrado com a Roberta.
Ela larga o livro ao seu lado e deita se sobre meu colo.
- O que esse povinho de Virgília achou sobre isso? - ela pergunta.
- Uma catástrofe, a família perfeita foi desmoronada por uma loira suposta amante de meu pai.
Ouço a porta ranger, e visualizo a ponta do cabelo castanho escuro de Gregório.
- Pensei que você não iria vim hoje - Eleanor diz ao se levantar.
- Eu sempre venho, você sabe - ele diz largando seu celular no chão.
- Eu não aguento mais essa pressão de minha tia, ela fica me impressionando a entrar numa universidade pela qual eu não quero - ela bufa - Preciso de uma festa.
Gregório sorri, e bebe um gole de vinho na garrafa.
- Tenho uma festa para nós irmos - ele anuncia - Sábado que vem.
- Onde? - Eu pergunto-lhe.
- A festa do Gabriel, Os Vespas vão tocar lar - ele responde.
Supostamente eu tinha uma queda pelo vocalista do Os vespas, a voz dele me acalmava e seu timbre fazia-me flutuar com os pés no chão.
Eu não poderia perder a chance de ir ao show deles, e não ia perder.
- O guitarrista da banda é muito gato - Eleanor comenta
- Vocês vão querer ir? - Gregório pergunta.
- Lógico - Eleanor diz.
- Arabella? - Gregório volta a mim
Eu confirmo com a cabeça liberando a fumaça de minha boca.
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Arabella
RomanceSou uma mentirosa compulsiva, não tenho culpa se sou boa nisso, existe uma certa diferença entra a mentira e a personagem que crio para a população de Virgília. Por culpa de meu pai ser prefeito dessa cidade, tenho que ser algo que não sou. Me torno...