Parte Quatro: Theres No End

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Frederico

  Os últimos passos para chegar ao topo da montanha branca me tiraram o fôlego. Não havia ninguém no raio de cem quilômetros, procurei por algum sinal de vida nas frestas do relevo, mas a tentativa fora em vão.

  Sento no chão apoiando toda a força do meu corpo na rocha coberta por musgos. A leve fisga de alívio que senti foi lançada para longe quando o sangue jorrou do meu corpo. Em poucos minutos o verde se tornou vermelho, o sangue escorria pela montanha colorindo-a. Levei minhas mãos até o abdômen pressionando o fluxo, mas a pressão deu mais poder a ele.

  De longe uivos e barulhos de patas batendo contra a vegetação se aproximavam. "Eles sentiram o cheiro de sangue", sussurrei. Meu coração disparou. Me levantando tentei dar alguns passos, mas o ferimento não permitiu. Não tenho forças.

  " ZAKI " tentei clamar, mas a rouquidão impediu.

  Latidos. Rosnados. Uivos. A matilha me rodeou. Diversos olhos me fitaram, línguas umedeciam lábios. Um lobo negro de olhos verdes, passava entre os demais, em minha direção, ao se aproximar rosnou, colocou-se na posição de ataque e latiu frente ao meu rosto.

━➸━➸

  Fios de luz aqueciam meu rosto, despertando-me. Sophia ainda adormecia sobre meu braço com uma afeição que pode ser comparada a de um anjo. Levei com calma a ponta do dedo indicador até seu rosto, acariciando-o, começando pela sua sobrancelha, desci na linha do nariz, passando de relance sobre seus grandes cílios, logo em baixo desenhei um coração em sua bochecha quando seus olhos negros abriram penetrando nos meus, por fim sombreei seu sorriso, guardando comigo seu detalhe mais lindo. Coloquei-me mais perto de seu corpo, atraindo seus lábios. A língua de Sophia ia contra a minha, pressionando de um jeito prazeroso, no abdômen sentia unhas arranharem a pele, ela deixou sua marca. Cerrei o beijo para admira-la, imobilizei seu queixo com minha mão, movendo logo em seguida minha língua até seu pescoço.

— Não me abandone nunca mais Frederico Martins.

— Nunca a abandonei, meu amor.

— Prometa-me — replicou.

— Eu prometo, o seu medo nunca irá se realizar.

  Congelei com o estrondo da porta se abrindo, Rafael segurava a maçaneta com os olhos arregalados, sua expressão me causou arrepios, algo não parecia estar nos eixos.

— O chefe te grita.

— Oh fuck...

— Corre neguin, corre.

  Subindo em cima da minha deusa, acelerei não me importando em usar o freio hora alguma. O prédio da AZTLÁN é no centro de GYN, em frente à praça Cívica. A estrutura é moderna, feita de vidro dos pés à cabeça. Cada divisão possui o seu andar, portanto são seis, o primeiro fica a recepção — nomeado pela empresa de andar do inocente —, o segundo em diante é das divisões. Tufão me aguarda no sexto andar. O andar da Coroa.

  A porta do elevador abriu revelando a face carrancuda do meu chefe: Onde esteve?

— Em casa senhor.

— Enquanto me peno te procurando, o senhor dorme.

— Me desculpe.

— Se palavras bastassem eu amaria ouvi-las.

— Posso...

—  CALE A BOCA — gritou —  ESTOU FARTO DE TE OUVIR. MINHA MÃO COÇA QUANDO PENSO EM METRALHAR A SUA CABEÇA — respirando fundo, ele fixou o olhar no relógio e continuou— Sente-se, temos negócios a tratar — abriu uma pasta e espalhou fotos pela mesa —. AFAR está com problemas, 98% das mudas nasceram machos, eles pediram nossa ajuda para mandar mudas fêmeas para estufa em Lesoto especificamente na Cordilheira do Drakensberg. Essa é uma região perigosa, não é só AFAR que vive por lá, existe uma tribo chamada Draken que declarou guerra contra nós. Portanto peço que tome cuidado. Zaki é o nome do Conde que te acompanhará, ele te espera no porto da Bahia, daqui algumas horas, aconselho que corra. Desejo uma boa viagem.

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