Amor e Seus Crimes

Parte Dois: How Selfish It Is

Frederico

  A sala de reuniões possuía cem acentos direcionados para o púlpito de acrílico com detalhe preto, logo atrás uma imagem do mapa mundial estava sendo projetada na parede. O chão é de uma madeira importada e no canto esquerdo uma haste de metal segurava um quadro branco com algumas palavras escritas: Coroas, Duques, Marquês, Barões e Condes. As caixas de som vibravam com a música "Everything Changes — SOJA ft. Falcão Of O Rappa", na última fileira um grupo de homens acompanhavam a letra. Conforme Tufão se aproximava do microfone, o volume do raggae diminuía, seu vulto chamou a atenção de alguns membros que logo soltou um chiado de 'presta atenção' e em menos de um minuto a sala se tornou um silencio absoluto.

— Bom dia Senhoras e Senhores da AMÉRICA! — a sala não ousou quebrar o silêncio, enquanto Tufão arrumava seus papeis de lembrete em cima do púlpito —.  Convoquei os senhores para esta reunião à pedido do conselho. Decidimos reformar os nomes das divisões comerciais e operacionais. E, durante uma hora eu peço muita atenção, pois não tolero erros e nem confusões no sistema. Agora vou dar três minutos para que achem seus celulares e os desligue —, enquanto desligava meu smarthphone uma mão encostou em meu ombro me fazendo gelar de susto "Só faltava essa...", pensei arregalando os olhos.

— E ai Loki! Que cara é essa? Parece assustado.

— O que tu quer, Bob?

— Está de TPM, irmão? — Sem notar lancei um olhar agressivo, que fez Bob repensar sua frase — Ah, então só queria me sentar ali... — disse ele, apontando para a cadeira vazia que estava ao meu lado direito.

— Foi mau cara, senta aí e desliga o celular se não quiser perder a cabeça...

— Bem, agora que todos desligaram seus aparelhos podemos começar sem interrupções. Como todos nessa sala sabem, nosso sistema comercial é dividido em continentes e como tudo no submundo das drogas é camuflado os nomes também serão. O continente Africano será chamado de AFAR, a Ásia de SET, Oceania de SID, Europa de MARTE, nós a América de AZTLÁN e um novo grupo formado por todos que irá cuidar do Brasil pessoalmente, os chamados SATURNO. Agora tudo o que for passado pelo Brasil será sobre os cuidados de A&S, AZTLÁN + SATURNO — enquanto falava Tufão anotava os tópicos principais no quadro branco —.  O sistema operacional teve drásticas mudanças, agora cada dirigente terá seu brasão de metal, o nosso é o desenho de um pajé com cocar e a cor das penas vai diferenciar as classe. Mas, primeiro vou atualizar o nome das classes. Os chefe serão COROA e a parte metálica da pena não serão pintadas, os pequenos traficantes são DUQUES da pena bege, os jovens lideres são MARQUÊS da pena branca, os infiltrados são os BARÕES da pena verde, o grupo responsável pela exportação terá seu brasão de penas pretas, as mulas não usarão brasão e nem serão informadas sobre nada do sistema, mas o nome de ambos será CONDE.

  A reunião foi encerrada as nove em ponto como o prometido, as luzes estava completamente apagadas quando me levantei e fui em direção ao filtro de água de parede, à medida que aproximei o copo descartável na minha boca pude sentir o sódio sendo neutralizado e a destreza revigorando. Em passos curtos Tufão desceu do púlpito e pude ouvir sua voz de locutor que invadia cada canto, ao seu lado estava alguns admiradores baixinhos que o transformava em um gigante da era de Davi e isso tudo soava tão embaraçoso para mim. Não pude conter o sorriso.

— Sr. Loki, esse sorriso te entregou — disse Tufão, tentando ser simpático.

— Desculpa, não entendi.

— A garota por trás do sorriso tem nome?

— Sim! — engolindo seco — É Sophia.

— Lindo nome — sorrindo sem mostrar os dentes continuou —. Preciso de você para entregar uma carga no porto do Rio de Janeiro. Espero que a Sophia não se importe.