Parte Sete: Outlaws

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Sophia

  A cirurgia demorou alguma horas, não sei ao certo quantas, perdi o tempo no segundo cochilo, nem consigo afirmar se estamos durante o dia ou noite. Mas tudo anda muito estranho ultimamente e nada consegue me apavorar mais que essas mensagens, nem mesmo a possível morte do Frederico. Infelizmente, minha última lembrança era de sua palidez que assemelhava a de um defunto, os enfermeiros corriam em volta da maca, apavorados como se a vida deles dependessem de alguma forma do bem estar do paciente. De certa forma sim, porém não daquele jeito.

 De súbito ouvi a voz da enfermeira acompanhada com gritos, vinha do quarto 402. Quarto do Fred. Correntes de calafrios atravessavam meu corpo repetidamente, o medo da perda fez com que eu andasse sem perceber, quando retomei a consciência estava abrindo a porta aos poucos, foi quando me deparei com um homem de preto. 

 "[...] Aztlán longe, se me permitir, te entregarei tudo o que tenho e te ensinarei tudo o que sei."

 Um grupo de aproximadamente vinte homens de terno preto marchavam até mim, sem pensar duas vezes corri em direção a saída de emergência, entre o desespero e o medo, pulei alguns degraus até chegar ao térreo quando de relance olhei para trás; cinco pistolas com silenciadores apontavam para minha cabeça. Naquele curto espaço de tempo lembrei como adorava gritar para os sete ventos que eu sou dona de mim, do meu futuro, dos meus sonhos [...] mas o que ninguém nunca teve coragem de dizer é que sou uma completa otária, ninguém é dono de si ou de seus sonhos, nós somos escravos  de quem pode comprar nossas vidas, seja com balas em nossos crânios ou até mesmo com suas forças que nos tornam seus fantoches que seguem conforme sua dança.

 Uma pressão repentina invadiu meu ombro tornando o peso do meu corpo de quilo para tonelada em fração de segundos, a dor era tão forte em um local especifico do ombro quanto era no deslocamento do braço, sem nem uma coragem apertei o local que queimava minha carne por dentro, em meio a preces tentei me convencer de que tudo aquilo não fora um tiro e sim uma dor repentina, porém o meu antebraço coloriu-se de sangue e naquele momento tive que aceitar o que estava acontecendo, tranquei então todo o sentimento em uma caixa de vidro e guardei-os em um local da minha mente chamada esquecimento, criando coragem para me levantar e sair correndo até o táxi mais próximo.

  ━➸━➸ 

  Era a quarta campainha que tocava, não tenho certeza qual dessas casas é a que procuro, mas me lembro da rua e de alguns detalhes que a compõe, o sol quente sempre vivido me lembrava toda hora que estava presente intensificando os sintomas: pressão baixa, boca seca, corpo fraco e vontade de dormir até formar conchinha com a eternidade. Alguns instantes após meu grunhido uma mulher que passava por mim se assustou com o rastro de sangue, de passo em passo a senhora me guiava, minha visão naquele ponto determinado do tempo não passavam de borrões coloridos.

  — Apenas mais um passo e poderá se sentar no sofá — disse ela —. Sou enfermeira, cuidarei de você pode ficar tranquila. Estou umedecendo um lenço com clorofórmio, será como um analgésico em quantidade certa você perderá os sentidos e não sentirá nada, ok?

  Com os dentes cerrados, sussurrei — OK. 

  ━➸━➸ 

  "TRIIIIIM, TRIIIIIM, TRIIIIIM, TRIIIIIM, TRIIIIIM, TRIIIIIM, TRIIIIIM"

  O "TRIIIIIM" do despertador me incomodou muito, tive uma súbita vontade de atira-lo contra a parede sem pestanejar, entretanto uma dor vindo do meu ombro me arremessou ao chão, pressionando obtive sucesso em combater parcialmente a dor, contudo trouxe o fluxo de sangue novamente. 

— Calma,   — disse Rafael — está segura agora —. Me ajudando a retornar à cama, ele tirou o curativo, refazendo-o por completo, infelizmente senti cada furo daquela vez — Pronto.

— Tenho muitas perguntas— replicou Sophia — e preciso de repostas.

— Todos temos, Sophia, mas isso não significa que teremos respostas.

— Eu preciso delas, Rafael! E preciso agora. 

—  Está sendo muito hostil com a pessoa que julga ter respostas — disse sorrindo.

—  Desculpa. A dor me transforma e uma fera selvagem — gracejou. 

—  Durma um pouco — disse se retirando.

—  Aztlán — sussurrou, conseguindo logo em seguida o olhar fúnebre de Rafael junto com uma expressão transtornada —, conheci o homem dono do sobretudo e capuz negro como a escuridão. Ele prometeu — gemendo: senti uma fisgada de dor — entregar e ensinar tudo que sabe.

 Em tom melancólico, disse abaixando o olhar— o tiro, foram eles que te feriu.

— Sim.

— Você corre perigo... muito perigo. Precisa fugir!

— Não irei a lugar algum sem respostas.

— Respostas essas que não aguentará — dominado por um ar sombrio continuou —, é o tipo de pessoa que treme com a primeira verdade.

— Deixe-me provar que está errado.

— Não posso! Não podemos arriscar...  — engoliu seco — Então tá... faremos dar certo...  Mas antes precisa me prometer que vai seguir todas as minhas instruções.

—  Tem a minha palavra.

Amor e Seus CrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora