Parte Oito: Red Right Hand

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Frederico

  Ao fechar os olhos minha alma adentra nas ruínas do palácio dos meus sonhos; paredes desmontam enquanto o jardim é redecorado com destroços, quão próximo me aproximo do salão principal o fétido odor de corpos decompostos invadem as narinas, causando desprazer e um forte pesar. Seguindo em frente me aprofundo no subsolo: brisa suave se mistura com o aroma de madeira queimada, afastando de leve a fadiga que me dominava. Simultaneamente noto uma mulher tomada parcialmente pela sombra da lareira, seu olhar se degradava entre o antônimo "amor e ódio", por um breve momento, tive a impressão que fora ele - o ódio- responsável pela faísca que deu origem a essa chama ardente, e toda essa cena me punia severamente sem ao menos me explicar o porquê.

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  As cadeiras foram preenchidas tão rápido quanto o vinho era esgotado da minha taça, por outro lado, me sentia seco como a caatinga do nordeste, já que todo líquido que consumia a mulher do lado de lá do salão evaporava com seu olhar opressor; para ser mais preciso era como degustar um drink com uma dose de insignificância e dois cubos de gelo. 

  Os músicos que estavam no palco começaram a subir para o céu como um gif, as mesas rodavam e o gosto do vinho se transformou em álcool puro. Foram tantos sinais, mas finalmente consegui entender que estava ficando bêbado quando tropecei nos meus próprios pés ao me levantar.

 Uma mão direita extremamente delicada, com as unhas pintadas de vermelho se oferecia para me ajudar. Olhando para cima percebo ser aquele "olhar" , que possuía uma súbita lembrança das mulheres dos anos '20, uma mistura de fúria e indiferença. A expressão continuava congelada, como se nada a abalasse, mas ao observar suas mãos por um milésimo de segundo, ela movimentou sua cabeça suavemente, como se estivesse me apressando a tomar uma decisão. E eu tomei...

  Ao chegar em meu quarto, notei haver problema em meu curativo; a blusa pintada de vermelho entregava o ponto aberto pelo tropeço: "Atirem sempre para matar, pois os mortos não causam problemas", era o Lema dos irmãos Kray que sempre ao lado de seus "rapazes de estimação" tomaram conta do submundo da Inglaterra, durante a década de 50. Nos anos dourados foram proprietários de imóveis luxuosos e frequentado pela alta sociedade, transformando-se em um gangster celebridade.  — soltando os botões da minha camisa, ela perguntou: Onde se encontra o material do curativo?

  — Armário do banheiro.

 — Mais é claro! — franziu a testa, debochando de si, logo após sentou-se ao meu lado na cama, começando um novo curativo: Foram verdadeiros gangster.  

  — Quem?— questionei quase irritado por não entender aonde queria chegar.

— Os gêmeos Kray! — respondeu com a agilidade e elegância do óbvio —  Cresceram em um subúrbio londrino, com um infância pobre, criado pela mãe e avô, pelo fato de seu pai ter sido obrigado a se afastar da família, por ter fugido do exército britânico e ter sido taxado como desertor. O grande ensinamento de sua mãe foi tratar os menos afortunados com valor e esse foi o estopim do sucesso dos irmãos. Aos 19 se tornaram profissionais de ringue, ganharam notoriedade e até um pouquinho de fama, foi quando Ronnie apresentou sinais de esquizofrenia e Reegie os surtos de raiva. Tempos depois Reegie foi expulso do exército e através disso começou a trilhar seu caminho no submundo junto a seu irmão.

— Onde quer chegar? — olhando fixo em seus olhos, intensifiquei: Aonde?

  Com uma afeição terna e mãos tênue, murmurou um som quase inaudível — Até o final, se parar de me interromper — examinando a situação, pisquei e dirigi o olhar para baixo em um sinal de desculpa — Ronnie era homossexual assumido, porém isso o tornava mais forte e temido. Em 1965 Reegie casou-se com a irmã de um camarada, contra a vontade de sua família e com várias promessas jogadas ao vento. Francis Shea, subiu ao altar para se casar com o homem de seus sonhos Reginald Kray, o doce Kray, porém com o tempo descobriu que seu contrato matrimonial sempre foi com Reegie. O verdadeiro gangster. Em pouco tempo a relação ficou difícil, com isso afastou-se de Francis, na tentativa de reatar o casamento comprou duas passagens para Ibiza. Porém o suicídio de sua esposa foi pouco antes da viagem, com uma overdose de pílulas. Com esse caso, Reegie enlouqueceu esfaqueando um criminoso em público, com vária testemunhas e vitimas prontas para entregar os gêmeos, foi o suficiente para prende-los. Ronald morreu em um hospital psiquiátrico e Reginald foi solto poucos meses antes de morrer com um câncer em estágio terminal em sua bexiga. Essa foi a história dos irmãos Kray. — pressionou meu abdome para colar a fita na gaze, dando um beijo em cima, finalizou: Agora entende aonde quero chegar, ô doce Frederico?

 — Como sabe meu nome?  — aproximando o suficiente para encostar nossos lábios, ela sussurou: como é possível não saber o meu?

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⏰ Última atualização: Oct 26, 2018 ⏰

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