Um amor premeditado

A tarde na biblioteca

Cheguei da escola , cansada e chateada por ter tido um dia chato e por não ter visto Ricardo por lá. Tomei um banho, vesti uns calções jeans e uma blusa vermelha de alças , calcei umas melissas pretas, comi um iogurte natural e voltei a sair, não me apetecia nada passar o resto da tarde em casa.
Lembrei-me de que vivo em Luanda, não há muita coisa para se fazer por aqui, e eu não vejo piada na maioria dos divertimentos que para muitos jovens, são bué fixes.
Resolvi ir à biblioteca, nada como uma ida à biblioteca para relaxar depois de uma manhã chata.
Quer dizer, a biblioteca é tipo um dos lugares com que mais me identifico. Eu sou louca por livros, histórias, de amor, romance, aventuras, terror, ficção... E o que dizer sobre o cheiro dos livros que paira no ar?
É "extasiante" estar aqui, principalmente quando há muitos livros novos e desconhecidos...

Eu estava a meio do livro "Se eu ficar" da autora americana Gayle Forman, narra a história de Mia Hall, uma adolescente de 17 anos que está em coma após o acidente que matou seus pais e seu irmão mais novo Teddy. Pelas próximas 24 horas, Mia precisa compreender o que aconteceu e escolher entre ficar e viver ou então morrer, um livro sem dúvidas muito interessante.
Preferi acabar de lê-lo antes de partir para uma próxima aventura literária.
Procurei uma mesa vaga e sentei-me, segurei o livro com a mão esquerda, cruzei as pernas, tirei uma maçã verde da minha bolsa (eu amo maçã verde), segurei-a com a mão direita e fui me deliciando enquanto viajava na história...
Eu estava muito entretida... Não seria qualquer coisa a desviar a minha atenção daquela história melancólica. De repente, ouço uma voz masculina e sedutora, reconheci-a, mas não de todo, sabia que era uma voz familiar mas não sabia de quem era, parecia vir de trás da estante de livros que estava a poucos passos do lado direito da minha mesa. Pensei em levantar-me e ir ver quem era, mas permaneci quieta, só a observar fixamente, estava desejosa para que a pessoa saísse de trás da estante e se revelasse mas isso não aconteceu. A voz foi se afastando, ficando cada vez mais longe até que desapareceu por completo.
Insatisfeita, resolvi tomar uma atitude! Fechei o livro, levantei-me e iniciei uma busca pela pessoa da voz que despertou-me interesse.

Fui até a estante, olhei e lá não havia ninguém.. Olhei para os lados e não via ninguém conhecido... Andei até ao fim do corredor e nada, fui para o outro corredor, andei até ao fim e só via funcionários e pessoas desconhecidas... Preferi voltar para a minha mesa, comecei a caminhar em direção à mesa quando de repente, ouço a voz, vinda do meu lado esquerdo , virei-me e não vi nada, ninguém, segui na direção de onde vinha a voz , vinha de trás de uma enorme estante de livros.
Abrandei o passo, fui-me aproximando lentamente, o meu coração ficou aos pulos, a medida em que eu ia me aproximando, cheguei na estante mas não dei a volta para ver quem estava do lado de trás, tirei o livro que estava na minha frente para poder observar a parte de trás, através da estante.
Tomei um baita susto!!!
Vi dois olhos super concentrados os meus , dei um grito e um pulo para o lado direito, bati numa estante e alguns livros caíram.

Na verdade, não me assustei pelo facto de ter me deparado com aqueles olhos, o susto teve aquela proporção porque aqueles olhos eram os olhos do Ricardo. Eu só pensava: QUE MICOOOO!
Senti muita raiva de mim naquele momento. "Já não basta gostar do boy, tenho que persegui-lo na biblioteca e fazer má figura"
-Disse eu à mim mesma.

Ele saiu de trás da estante e veio na minha direção.
Perguntou se eu estava bem.
"Bem" de certeza que não era a melhor palavra para descrever-me naquele momento. Super encabulada, não consegui dizer uma palavra, respondi que sim abanando a cabeça.

"Não podia ser mera coincidência, eu andei a manhã toda com o pensamento virado para ele e ele decide ir à biblioteca justamente no mesmo dia que eu, alguma coisa né?!" Pensei eu , cheia de esperanças...

Ajoelhámos-nos e começamos a apanhar os livros.
Ele olhou para mim e disse: Porquê que te assustaste tanto quando me viste do outro lado?

"Tudo que eu menos queria era falar com ele, eu estava tão nervosa que de certeza ia dizer uma estupidez ou alguma parvoíces, o que me envergonharia ainda mais"

Porém, respondi: Eu não estava à espera de ver-te. E tu, porquê que estavas com o olhar tão fixo exactamente na minha direção?(imaginei todas as respostas românticas possíveis) e ele respondeu: -Bom.. Tu puxaste o livro que eu estava prestes a tirar da estante, foi inevitável não olhar para a tua direção..

Ah, alegria de pobre dura mesmo pouco, não é? Acho que ele nem deve lembrar que somos da mesma universidade e que temos professores em comum.. Mas enfim.

Fiquei tão tensa que até perdi a vontade de continuar a ler , de continuar ali... Arrumamos os livros, ele foi numa direção e eu fui noutra. Voltei para a minha mesa, peguei no meu livro, na minha bolsa e dirigi-me para a saída.
Saí da biblioteca, fui para o estacionamento, andei até ao meu carro, abri a porta, estava prestes a entrar para o carro quando de repente ouço alguém gritar o meu nome, ERA O RICAAAAAARDOOOOOO! Quase morri de emoção, gritei dentro de mim "ELE SABE O MEU NOME..."
Não demorou muito para ele estar bem do meu lado, e disse: Enquanto estávamos a falar, eu estava a tentar descobrir de onde é que te conhecia, agora lembrei-me, somos colegas, certo ?!

"Não me adiantava de nada dar uma de orgulhosa e fingir que não sabia"
Respondi: Sim, não estudamos no mesmo pavilhão, nem somos do mesmo ano mas temos uns tantos professores em comum..
Ele: Sei disso. Ja tive que ir buscar avaliações minhas à vossa turma várias vezes, no ano passado, o mesmo vai acontecer neste ano, aqueles professores fazem uma confusão do caraças.
Eu: pois é...
Ele: Como é que te chamas mesmo?
Eu: Nera. Nera Marine, e tu és o Ricardo.
Ele sorriu e disse: Como é que sabes o meu nome?
Eu: Ah, a pergunta é:"quem é que não sabe o teu nome"
Ele sorriu mais uma vez e disse: Não sabia que era assim tão conhecido..
Eu: Bom, pelo menos la na universidade , és...
Ele: Olha, eu tenho que voltar para a biblioteca, porquê que já vais tão cedo?
Eu: Ah.. Tenho coisas a fazer.
Ele: Ok, entendo.
Eu: Yup.
Ele: Então, dá-me o teu número, pode ser?! Pode-se dar o caso de eu precisar de falar contigo por alguma coisa, sabes?! Temos professores em comum e tal ... E é sempre bom ter companhia para ir à biblioteca.
EU NÃO PODIA ACREDITAR NO QUE TINHA ACABADO DE ACONTECER!!! RICARDO BETTENCURT TINHA ACABADO DE PEDIR O MEU NÚMEROOOOOOOO...

Mas mantive a calma.. Dei-lhe o número, ele tentou despedir-me com um beijinho no rosto maaaaas, hahá, tinha chegado a minha vez de ser difícil dificílima. Barrei o beijo dele, estendi a mão e despedimo-nos com um aperto de mãos.
Entrei para o carro, voltei para casa e só pensava que afinal o dia não tinha sido tão mau assim...
Estava ansiosa para que ele me enviasse alguma mensagem ou ligasse, dormi à espera de um sinal dele e nada.
Só de pensar que seria feriado no dia seguinte e que não haveria escola, a minha ansiedade aumentava... Mas não perdi as esperanças.