Iolanda

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Aquele jovem andava tranquilamente na rua quando sentiu que estava sendo seguido. Não havia explicação ou motivo, apenas sabia que alguém estava atrás de si. Era seu instinto.

Rapidamente, apressou o passo, e ao virar a esquina olhou para trás.

A rua estava deserta e tranquila aquela hora do dia.

Agachado atrás de um carro, Percy pegou o celular e ali notou algo desesperador. Estava prestes a sair correndo quando uma figura sombria surgira do nada e agarrou-lhe o braço direito.

Ele se levantou no susto e agora olhava diretamente para a sua perseguidora.

-Espero que não esteja se escondendo de mim, Percy - disse humildemente a senhora de idade que segurava seu braço firmemente com sacolas de compras na outra mão.

-Estava planejando uma surpresa - sorriu o jovem, desajeitado - Mas a senhora não caiu nela.

Iolanda Wetlan se divertiu com a resposta do garoto.

-Terá que treinar muito para algum dia me assustar. Sabe, não construí a carreira que tenho caindo em todas as traquinagens dos meus jovens.

Ambos começaram a rir enquanto Iolanda passava parte das sacolas para o garoto carregar.

Percy Vinner era um jovem de estatura mediana, pele branca, olhos claros e cabelos castanhos. Tinha um corpo relativamente forte para um rapaz de vinte anos de idade.

Porém, a gentil senhora de idade de quase setenta anos, traços italianos e feição amável, e pulso firme, Iolanda Wetlan, a tutora que cuidara de Percy e da sua irmã desde a morte dos seus pais, notou algo diferente no visual do rapaz.

-É a minha miopia - começou ela, encarando firmemente aquele ponto específico do corpo do rapaz - Ou você fez algo no seu cabelo?

Sorriu como quem é pego com a boca na botija.

-Na verdade, tingi eles de loiro - disse ele, de forma sucinta e cuidadosa.

-E por qual motivo? - indagou ela, da mesma forma.

-Ah, não vá me dizer que já se esqueceu! - disse o rapaz - É para aquele musical que a minha trupe está organizando há meses. Saio de casa para ensaiar todos os dias, mãe. Vai bancar a desatenta agora?

Iolanda adorava quando ele a chamava de mãe, principalmente tendo em vista a falta que a mãe biológica do rapaz fazia para ele e a sua irmã, Reyna Elizabeth Vinner. Ela já não estava mais na cidade, porém ainda sim sentia que ela estava embaixo da sua asa.

Iolanda trilhara uma memorável carreira como diretora da escola da cidade. Acolhera muitas crianças no seu coração de mãe, porém os órfãos filhos de Gabriel e Felicia Vinner eram especiais. Eles perderam os pais há dezesseis anos atrás, quando ainda eram muito jovens, e fora ela que os acolhera.

O acidente também matou o pai de Peter Hoss, que ficou na cidade sozinho com o avô paterno, porém também era um filho do seu coração.

-Só estava brincando. Testando seu álibi - confidenciou a mulher.

-É policial agora também? - questionou o jovem sorridente.

-Não, só uma mãe que preza e cuida das crias.

Mattsville se encontrava pouco movimentada aquela hora do dia. Localizada no interior do estado de Nevada, há poucos quilômetros de Las Vegas e de outras cidades importantes, o pequeno município sequer chegava a aparecer no mapa devido ao seu pequeno tamanho.

Estavam os dois agora, passando pelo centro comercial quando Iolanda encontrou do outro lado da rua um veículo negro que lhe chamou e muito a atenção. O vidro fumê escondia uma pessoa, porém a sombra da sua fisionomia estava mais do que aparente.

-O que tem nessas sacolas?

Iolanda demorou alguns instantes para perceber que Percy fizera uma pergunta.

-Coisas para o seu aniversário. Está cada vez mais próximo, não está?

-Mais três dias, e completo vinte e um anos. O tempo passa rápido... - o garoto não teve tempo para completar seu pensamento pois quando deu por si, Iolanda já estava a passar sacolas e mais sacolas para as suas mãos.

-Vá na frente que daqui a pouco chego em casa. Esqueci de comprar algo. Guarde as compras!

-Pode deixar - concordou ele, sorridente, beijando-lhe na bochecha direita - Não demore!

E lá se foi Percy, com as duas mãos cheias de sacolas. Iolanda se apressou e atravessou a rua, em direção ao carro negro.

Quando o rapaz virou a esquina, o veículo fez menção de sair quando Iolanda se interpôs na frente dele.

Ela sequer tremera ao ser quase atropelada.

Chegou na janela do motorista e bateu no vidro com os nós dos dedos.

Parte do vidro desceu, revelando uma cabeleira ruiva e um par de óculos escuros.

-Já percebi que está seguindo meu menino há semanas - disse Iolanda nervosa, apontando o dedo para a mulher dentro do veículo - É melhor parar com isto, ou chamo a polícia!

-Experimente - desafiou ela, dando partida no motor e em seguida saindo a toda, deixando para trás uma nuvem negra de poluição.

Iolanda estava furiosa, entretanto, uma dor intensa se abateu em seu corpo, na região do tronco. Silenciosamente, repetia a si mesma para não fraquejar ou se curvar diante aquelas coisas.

Precisava ser forte por Percy e Reyna.

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