Reyna

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-Você está incrível esta noite.

Esse foi o melhor elogio que Reyna conseguiu emitir sem que deixasse transparecer o embaraço que era estar diante de Peter, que era seu amigo desde criança, mas forma de um homem que fazia seu pulso acelerar.

Passou as palmas das mãos suadas no roupão enquanto encarava Peter, que a surpreendera com aquela visita. Claro, já eram íntimos, moravam no mesmo apartamento e dividiam a mesma rotina, mas de alguma forma, daquela vez, era diferente. Talvez fosse pelo o que Morgan dissera na última noite ou pelo modo como Peter a defendera diante de Circe, dizendo que se casaria com ela na primeira oportunidade.

-Espero não estar atrapalhando - disse ele, gentilmente, fazendo menção para sair.

-Não, você nunca atrapalha - disse Reyna, percebendo a reação do amigo - Por favor, fica.

As palavras fluíram da boca dela com uma naturalidade estranhamente familiar.

Peter assentiu com a cabeça e se sentou na cadeira diante à dela. Ele parecia nervoso, Reyna percebeu pela forma com que apertava os dedos das mãos até os nós ficarem brancos.

Diante aquele homem, a garota pensava sobre a vida que levaram juntos. Inseparáveis desde o primeiro momento em que se conheceram, a amizade que eles nutriam até parecia com aquelas dos filmes onde as pessoas faziam de tudo pelo amigo, o que, pensando bem, estava bem próximo da realidade deles.

Compartilharam muitos momentos felizes da infância em Mattsville, porém também a dor ao perder membros importantes da família tão cedo. Reyna e o irmão Percy perderam ambos os pais, Gabriel e Felicia Vinner, no mesmo acidente que matou o pai de Peter, Bryan Hoss, quando tinham oito anos de idade, e Percy, quatro.

Peter pegou em sua mão com o mesmo afego de sempre, o que trouxe de volta à mente de Reyna lembranças quase esquecidas.


-Vamos, Reyna, só falta mais um pouco!

-Não vou conseguir - disse a garota Reyna, de dez anos, quase escorregando - Peter segura a minha mão!

Com a pequena mão estendida no ar, Reyna pensou que fosse cair, mas no último momento viu-se salva ao sentir dedos se entrelaçando aos seus e um toque familiar que lhe deu um ânimo extra.

-Não vou deixar você cair - disse ele, emitindo um murmúrio de exaustão ao terminar de içar a amiga.

Naquela tarde de verão, o sol se assemelhava com uma lâmpada incandescente de um abajur gigante no firmamento a derramar sobre a superfície uma massa de calor. Estavam na casa da árvore que havia no jardim da que a gentil senhora, Iolanda Wetlan, mandara construir após assumir a guarda das crianças Vinner.

Reyna ainda arfava deitada sobre a superfície de madeira enquanto via o risonho Peter de dez anos com os cabelos ruivos a grudarem no suor do rosto e os olhos azuis refletindo a luz do sol por trás dos óculos.

-Está tudo bem com você? - perguntou ele, preocupado - Está machucada?

-Não - respondeu a garota - Você me salvou. Eu quase cai.

-Eu não ia deixar isso acontecer, Reyna. Não gosto de vê-la machucada.

-Ah, conta outra! - respondeu ela, com sarcasmo.

O jardim de Iolanda Wetlan era conhecido por toda a Mattsville por causa do pomar onde cultivava várias frutas de mudas que o senhor Wetlan trouxera de várias partes do mundo em suas viagens. Peter entregou a Reyna um punhado das amoras pretas que trouxera consigo na subida e insistiu, com a boca cheias das frutinhas pretas:

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