Victoria

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Em meio às vozes, ela se sentia aérea.



Victoria Flanners estava imersa em seus pensamentos e consultava o celular por baixo da mesa de cinco em cinco minutos. Procurava olhar para os demais na mesa, balançando a cabeça e respondendo, vez ou outra, à algumas perguntas com respostas curtas.



-O que acha, Vicky? - indagou Jeremy Wichman, por fim.



Victoria estava novamente olhando a foto de Harry Lancaster que tinha em seu celular, distraída, quando a mulher ao seu lado previu que algo poderia dar errado, e a cutucou com a perna, trazendo-a de volta à reunião.



-Perdão - disse Vicky, disfarçando a falta de atenção, olhando diretamente para o editor agora - O que você disse mesmo?



Debby Fernandez, a assistente pessoal de Vicky que a cutucara naquele momento de devaneio, respirou aliviada ao perceber que conseguiu ajudar a chefe antes que algo desse terrivelmente errado.



A Vermont Magazine estava entre as de maiores circulação, com seus artigos e matérias de moda, qualidade de vida e de tendências dos mundos dos famosos. E era ali, na redação no centro de Las Vegas, no alto de um grande prédio executivo, que os números de sucesso da Vermont nasciam todas as semanas.



Construída por William Flanners, a revista prosperava desde a sua abertura, e seguira por anos, através do tempo, mesmo após a morte do seu fundador, e agora sobre o comando da sua filha, Victoria, que assumira a empresa aos dezoito anos após a morte dos pais.



Jeremy Wichman, que era o editor chefe da revista, repassou pacientemente tudo o que tinha dito até aquele momento a respeito das edições especiais que iriam ser lançadas em meses.



-A Hammond nos mandou alguns books para escolhermos alguns modelos. Precisaremos de dois rapazes e uma garota, e acho que já encontrei o rosto feminino que precisamos - comentou ele, eufórico - Diamond Lerman.



Jeremy passou a foto da jovem para Vicky. Uma jovem de cabelos negros, olhos escuros e pele bronzeada. De fato uma bela mulher.



-Mas será que ela não é muito jovem? - interviu uma das editoras.



Sentados à mesa, com Vicky, sua assistente Debby e Jeremy, estavam mais cinco editores, e um assistente que tomava muitas notas, Axel Noturne, entretanto somente aquela mulher questionou a escolha.



-Acredito que ela seja madura o suficiente - respondeu Vicky, identificando a indireta por trás daquela afirmação.



Minutos mais tarde, quando a reunião se deu por terminada, Vicky saiu da sala de conferências as pressas seguida de perto por Debby.



A assistente tentava a todo custo andar no mesmo passo que a chefe, que estava nervosa a beça.



A Vermont Magazine era um dos lugares de mais bom gosto em que Debby já estivera. Elas passaram pelos pequenos cubículos com paredes de vidro onde os editores, designers gráficos, colunistas e revisores trabalhavam. Uma enorme e brilhante logo da empresa se encontrava em uma das paredes, brilhando em tons púrpura mesclado rabiscos e traços que remetiam a um croqui. Os materiais de escritório, inclusive as mesas e o piso, eram multicoloridos, e no fundo estava o escritório de Vicky, com janelas viradas para os editores e um espaço de conforto e lazer com poltronas e decoração especial ali a disposição de quem precisasse relaxar.



Debby acenou rapidamente o amigo Ethan Prescott enquanto corria atrás de Vicky, que entrara furtivamente no escritório, deixando a porta aberta atrás si. A assistente entrou e fechou a porta atrás de si.



-Ela não tinha o direito de falar isso - desabafou a jovem, sentando-se estrondosamente na cadeira atrás da mesa de tampo transparente e cheio de materiais - Dedico corpo e alma à Vermont desde que perdi meus pais, e ela ainda me trata como uma criança! Estou de saco cheio disso.



Debby compreendia a exasperação de Vicky. Trabalhava junto a ela desde que precisou assumir a presidência, no tempo que ela era uma estudante universitária que cursava moda. Atualmente, com duas formações, Debby ainda ajudava a presidente da empresa nas suas tarefas diárias e no que se dizia respeito a vida pessoal também. Era a sua conselheira oficial.



-E ainda por cima tem esse palhaço! - exclamou Vicky, jogando o celular sobre a mesa.



Debby sabia quem era o palhaço. Só podia ser Harry Lancaster, o herdeiro com fama de mulherengo com quem Vicky Flanners estava saindo há alguns meses. No dia anterior, ele se envolvera com uma briga de trânsito com Vicky dentro do seu carro. Ela assistiu Harry sendo levado detido e o carro do rapaz sendo apreendido.



-Ele não atendeu, não é? - indagou Debby.



-Não - bufou ela - Estou preocupada, Debby!



-Preocupada com o que? - Debby se sentou numa das cadeiras que estavam em frente à mesa - Rico como ele é, não há fiança que não o liberte da cadeia. Fora que carro como aquele o papaizinho dele deve comprar assim - ela estalou os dedos, como sempre fazia - Gente como ele troca de carro com a mesma frequência que troca de roupa.



-Não é isso, Debby. Acontece que... - e Vicky deixou pairar no ar a explicação que tinha em mente.



-Ah, não! Não espero que seja o que estou pensando! Não vai me dizer que está gostando do galinha!



Vicky ficou sem entender. Debby tinha umas gírias próprias que ainda não compreendia. totalmente.



-Você entendeu o que eu quis dizer - continuou ela, percebendo que Vicky não entendera o que havia dito - Harry Lancaster gosta é de rabo de saia, não é homem para relacionamento, assim como Xavier não era homem para mim.



Vicky por um momento se divertiu com a menção de Xavier, o ex-namorado de Debby, com quem rompera de uma forma não muito amigável. Porém, a respeito de Harry, Vicky ainda estava com muitas consternações em mente. Sabia que Debby estava certa sobre a fama que rondava a imagem de Harry, e ele tinha plena consciência disso quando saíram juntos. Mas ainda sim, ela se envolvera com quase nenhum homem devido à sua vida atribulada.



Provavelmente, seria por causa disso que ela não conseguia tirá-lo da cabeça.



-Vicky, querida - disse Debby, chamando-a de volta à realidade - Tem alguém no telefone querendo falar com você.



Vicky sequer vira o telefone tocar, e enquanto se esticava para pegar o aparelho, decidiu deixar de lado Harry e tudo o mais que fosse relacionado a ele.



-Alô - disse ela, ao celular.



Do outro lado da linha havia uma voz feminina muito familiar à ela, que Vicky reconheceu de imediato.



-Quanto tempo garota! O que tem feito? - disse a jovem surpresa.



Debby estava prestes a sair quando Vicky a chamou de volta. Já havia terminado aquela conversa ao telefone e se encontrava sorridente:



-Tenho novidades! Acho que já encontrei a nossa nova fotógrafa.


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