Deseja-me

Tyler

Tyler previra que Margaret Strausser sairia de si no instante em que pisassem na Ecstasy, mas ainda assim, se surpreendeu com a reação da mulher.

Mal descera do carro naquela noite, e já fora abordado pela mulher.

-E aí, sr. Hammond? Ele está lá dentro?

O "ele" era Harold Strausser, o marido da socialite. E, "lá dentro", era o cassino Ecstasy.

Naquela noite, como em qualquer outra na cidade de Vegas, o enorme prédio estava com a fachada toda iluminada e, mesmo de fora, era possível ver que o lugar estava a todo vapor.

A Ecstasy já era famosa em toda Las Vegas, e seu cassino e boate atraíam quase que toda a massa de pessoas poderosas da cidade, que iam para lá esbanjar seu dinheiro nos jogos ou com as atrações da boate.

Tyler Hammond já se imaginou muitas vezes como um daqueles homens ricos mas tinha plena noção de que isso estava longe de se realizar. Estava necessitando desesperadamente de preencher sua cabeça com outras coisas além das memórias ruins que o dinheiro lhe trazia, e para isso, estava trabalhando como detetive particular.

Com vinte e seis anos, estava há dois afastado da polícia, onde adquiriu experiência suficiente para atuar como detetive. E seus serviços eram muito requisitados na cidade por pessoas influentes, seja para levantar informações de alguém ou para seguir os passos de alguma pessoa nas noites de Vegas.

A cidade do pecado era um ótimo lugar para os que trabalhavam na sua área.

Ao entrar no luxuoso hall seguido por Margaret Strausser, ele já temia a cena que a presença deles iria causar. A mulher que pagara seus honorários estava nervosa, e temia que ela esganasse o marido.

O cassino estava lotado naquela noite, e a animação dos jogadores estava impregnada no ar. Uma música tocava ao fundo acompanhando a melodia das máquinas caça-níqueis e dos jogadores nas mesas. As garçonetes transitavam por todo lado, e o som dos homens das mesas de jogos anunciavam os números das roletas e os vencedores de cada jogada. De onde estavam, viram o fliperama, também lotado.

O carpete vermelho ao seus pés quase não era sentido visto que Margaret praticamente voava sobre este tamanha a ansiedade para flagrar o marido. Receberam suas comandas, e as boas-vindas ficaram pela metade enquanto corria tentando acompanhar a mulher. Parecia que ela farejava o cafajeste do homem.

Mesmo passando rapidamente pelo Salão Dourado, ambiente conhecido por ser onde as maiores apostas eram feitas nas mesas de pôquer e blackjack, Tyler pensou no quão lucrativo fora esse investimento de Circe Mallone, a antiga top model que se aposentara a poucos anos, e agora estava se dedicando ao negócio das apostas. Fizera uma reforma radical naquele prédio e inovara no seu cassino, com mais opções de jogos, e na boate, com dançarinos de ambos os sexos, determinada a por um fim nas diferenças e calar a bocas dos difamadores que riram da sua ideia.

Margaret Strausser passou de um estado de euforia para um de explosão quando encontraram seu marido. Passando direto pelo corredor de acesso vindo do cassino, lugar onde uma charmosa mulher de cabelos cor de mel se esfregara em Tyler que gentilmente se afastou, se viram diante à famosa boate do cassino Ecstasy. Era uma noite temática ali que recebera o nome "A Magia da Sedução", e Tyler logo percebeu o motivo.

O detetive já havia entrado algumas poucas vezes naquele lugar, mas nunca tivera a oportunidade de fazer isso em uma das noites temáticas. Uma névoa de gelo seco estava emanando daquele lugar onde estavam dispostos os palcos menores, que estavam decorados com adereços que imitavam ramos, arbustos espinhosos e flores, além das árvores decorativas dispostas pelo salão de onde saíam feixes tecnicolor e fumaça.

"Circe Mallone transformou esse lugar em uma floresta encantada", Tyler pensou.

Tudo ali recebera algo que lembrasse uma floresta mágica, sejam cogumelos gigantes, árvores velhas, canhões de luz disfarçados de coruja, tapetes de grama sintética e no teto brilhavam estrelas de mentira e uma lua falsa. Definitivamente, serviço completo de um profissional. Estavam de parabéns.

Eram pouco mais de onze da noite, e já haviam muitos clientes com copos de drinques coloridos e esfumaçantes, e os dançarinos já empenhados em suas próprias performances.

Garotas e rapazes com máscaras dançavam sobre os palcos. Todos estavam com roupas em tons escuros como preto, roxo e azul, mas com adereços vermelhos e brancos em meio as fantasias. Capas esvoaçantes, chapéus extravagantes e roupas de época se misturavam ao som da batida eletrônica que embalava a todos.

-Ali está ele! - apontou Margaret para um homem em meio a multidão que assistia à uma das dançarinas sobre uma das mesas.

A mulher havia contratado seus serviços para investigar o marido, o infiel Harold Strausser, empresário famoso no estado de Nevada. Tyler o seguira por dias, e o vira ir para a Ecstasy noites atrás, sem o conhecimento da esposa. Ao saber disso, ela decidira pegá-lo em flagrante.

Não conseguiu impedir a furiosa mulher traída de sair em direção ao marido, já preparando uma tempestade quando colocasse as mãos nele.

Harold arregalou os olhos quando viu a mulher, e já havia se levantado para tentar acalmá-la quando levou um estrondoso tabefe no rosto. Tyler se surpreendeu, assim como a dançarina de cabelos roxos vestida de feiticeira de RPG que parou de dançar e boa parte das pessoas a volta. Soltando fogo pelas ventas, a reação estrondosa já era aguardada por eles.

-Harold Strausser, seu canalha, filho da mãe! Não acredito que teve a coragem de fazer isso comigo!

Seja lá que o for que o marido pretendia dizer, ficou entalado na garganta quando ela começou a estapeá-lo com a bandeja que estava na mesa. Tyler tentou segurá-la ao passo que Harold tentava escapar das garras da mulher e a dançarina de cabelos roxos descia da mesa.

Os seguranças já estavam se aproximando enquanto Margaret gritava tudo que palavra de baixo calão para o marido.

-Então é isso, Harold? Está me trocando por uma prostituta! Sua...

Nesse momento, a mulher mudou de alvo, decidindo atacar a dançarina. Começou a puxar algumas mechas dos longos cabelos roxos da garota. Ela gritava tentando se esquivar, e Margaret insistia em puxar-lhe o cabelo e dar-lhe chutes na canela.

Tyler notou os seguranças se aproximando e deixou que eles pegassem a mulher raivosa, afastando da garota que caiu no chão.

-Por favor, é melhor se retirarem daqui - disse Diggory, impassível.

E ele viu quando eles levaram Margaret ainda irada sobre os ombros seguidos por Harold, que lhe lançou um olhar reprovador, mas ele nem se importou: apenas cumpriu com o seu trabalho.

A garota que fora atacada pela esposa ciumenta ainda estava no chão quando Tyler se abaixou para ajudá-la. Era uma jovem que aparentava não ser mais velha que ele, usando um diminuto vestido preto colado ao corpo e uma capa com capuz.

A canela de Bella doía no ponto onde a maluca chutara e precisou da ajuda do rapaz para se erguer do chão.

-Desculpe por tudo - disse ele - Não sabia que ela ia reagir daquela forma.

-Sem problemas - respondeu a jovem - Já estou acostumada com isso.

Tyler estava olhando para a jovem quando um rapaz chegou por trás. Este era louro, usava uma camisa branca sob um sobretudo negro e um chapéu coco na cabeça.

-Se machucou, Bella? - a voz de Ycaro demonstrava a preocupação que ele sentia.

-Só está dolorido onde aquela vaca me chutou - respondeu ela, se apoiando no ombro do irmão - Só não foi pior graças a ele, caso contrário a maluca teria arrancado todo o meu cabelo.

Tyler percebeu quando a garota o indicou para o irmão. Ele se parecia muito com ela, e esboçou um sorriso ao olhar para ele.

Ycaro apertou calorosamente a mão de Tyler, e sorrindo agradeceu:

-Obrigado por ter defendido a minha irmã.

-Por... nada... - gaguejou Tyler.

-Muito obrigado - disse Bella, que o abraçou e beijou-lhe a bochecha.

Quando Bella e Ycaro se viraram para sair da boate, Tyler se dirigiu ao bar onde pediu um drinque dos mais fortes. Estava suando frio, coração batendo acelerado em seu peito e não conseguia tirar da cabeça o que havia acabado de acontecer.

"O que está acontecendo comigo?", perguntava sua mente embora seu coração já soubesse a resposta. Era desejo.