Acordei de um pulo. Ofegante, olhei para o relógio em minha mesa de cabeceira. Ele indicava nove e meia da manhã. Levei as mãos à cabeça, que latejava forte, segurando-a. Resultado da bebedeira passada. A partir daí, não consegui dormir. Permaneci deitada repassando o sonho decorrente. Não foi a primeira vez que tive um pesadelo daquele tipo. Tinha 14 anos, se me recordo bem, quando estava no mesmo local da noite anterior, só que era dia, e o sol brilhava com tanta intensidade, que ofuscava a figura esguia na extremidade do outro prédio. Bem, isso foi há oito anos, por tanto, não lembro de todos os detalhes. Dei mais uma olhada no relógio e espantei-me ao ver que, havia passado trinta minutos em devaneios.
Aproveitei o domingo para fazer uma faxina em meu apartamento. Isso ajudou a manter a mente livre de más recordações. À tarde, liguei para Jeniffer e marcamos de nos encontrar no Parque 13 de Maio.
Como morava próximo ao local combinado, esperei sentada perto da lagoa artificial, feita para os répteis, pássaros, e seres aquáticos. Além de ter um playground, o parque também contava com uma pequena variedade de animais da fauna brasileira, para serem apreciados. O ambiente estava cheio, também não era para menos. Domingo era o dia de esquecer, por algumas horas, a rotina metódica levada durante a semana. Observei as pessoas que por ali circulavam. Havia muitas crianças, jovens e vários casais apaixonados. Pelo menos, pareciam. Senti certa inveja deles, tanto do lado familiar, quanto, principalmente, do lado amoroso. Desde que cheguei aqui eu nunca tive um relacionamento duradouro. Foram apenas lances, de dois ou três dias. O mais longo durou três semanas. No inicio eu não me importava. Como agora morava na cidade grande, achava que esse era seu ritmo, e para não parecer careta, atrasada ou “matuta”, tratei de seguir a linha. Hoje, no entanto, me vejo vazia e fria, ao mesmo tempo. O rapaz da boate, Felipe, foi o primeiro com quem saí, depois de um regime de oito meses. O último me decepcionou tanto, que decidi dar um tempo, para avaliar melhor o que andava fazendo da minha vida amorosa. Se minha mãe, como católica rigorosa que é, visse o comportamento liberal que sua querida filha adotara, a qual ela fez questão de fazer a primeira comunhão, diria que fui ao Recife para "satisfazer os desejos da carne". Hunf! Apesar de não ser tão religiosa como minha mãe, pois para mim religião é algo muito subjetivo, essa questão fez com que eu ponderasse um pouco.
Após alguns minutos de espera, Jeniffer finalmente veio ao meu encontro. Aproximou-se com um sorriso sorrateiro, sentando do meu lado esquerdo do banco.
- Gostei de ver, garota!
Ela foi logo dizendo.
- Você e aquele bonitão de ontem, botaram pra quebrar, na boate.
Não pude conter o riso, que saiu de forma tão espontânea, que a própria Jeny me acompanhou.
- O nome dele é Felipe.
- Que seja! Pelo menos, te tirou da fossa.
Arregalei os olhos e explodi em risos novamente, pela forma natural que ela proferiu.
- Também não é para tanto, amiga! Mas, Jeny... Tem algo que quero te contar e peço, por favor, que não compartilhe com ninguém, principalmente com Breno!
- Tudo bem, eu juro!
Ela falou, cruzando os indicadores em formato de um “x”, beijando-os em seguida. Jeniffer era a minha única amiga, aqui. Conhecemo-nos no primeiro dia de trabalho na loja, há exatos dois anos. Só podia confidenciar a ela, as coisas que me ocorriam. Então, contei tudo o que aconteceu, assim com, o sonho. Esperei por uma reação ... Qualquer que fosse! Mas ela manteve-se pensativa e em silêncio.
- É a primeira vez que isso ocorre?
Perguntou depois de alguns segundos.
- Ter visto aquele homem sinistro sim, mas tive o sonho quando criança. Só que, de forma diferente.
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Vindos do Além
Paranormal"Nunca pensei que um dia, viesse a ser responsável por milhares de almas. A missão suicida, a qual fui designada, transformou todo o conceito que eu tinha sobre o mundo oculto".