Capítulo 7 - A surpresa

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Acordei no outro dia, ao som do despertador. Não recordava de tê-lo acionado. Ainda deitada, estiquei o braço para desligá-lo. Esperei um tempo para poder sair da transição sono-realidade. Passei a mão no cabelo para afastar uma mecha caída na minha testa. Sentei sonolenta na cama, para levantar.

-Ahhhh!                                                  

Gritei, ao me deparar com três crianças sentadas a minha frente. Tapei de imediato a boca, para não ter a visita indesejável de algum vizinho reclamando. Eram duas meninas e um menino de mais ou menos, um ano. Encaravam-me com seus olhos negros e inocência, mas o pavor que senti fez-me levantar no mesmo instante.

Corri até a sala para pegar meu celular, que estava ao lado da T.V. Liguei desesperadamente para Jeniffer que não atendeu. Retornei. Sem resposta. Encolhi-me no sofá, sem saber o que fazer. Verifiquei a hora no telefone, deduzindo que Jeny estivesse na loja. Respirei fundo, tentando acalmar-me.

-“Julia...”                                                

Grunhiu a voz as minhas costas. Girei lentamente a cabeça em direção à varanda, pois sabia quem chamava.

Meus olhos arregalaram-se de pavor ao ver Azrrael segurando uma das crianças, por uma perna só.

-“Julia...”                                             

  Outro chamado, vindo agora da porta de entrada. Uma cópia do monstro, mantinha a outra criança de cabeça para baixo. Com o canto do olho, vi um terceiro individuo de frente ao fogão, em posse do garotinho. Ele o segurava na mesma posição dos outros; a diferença era a panela de água quente, borbulhante. Pus-me a gritar, mas não conseguia ouvir o som de minha própria voz. A figura demoníaca começou, então, a descer lentamente o menino, aproximando-o cada vez mais da panela. Seus olhos diabólicos refletiam o contentamento em meu desespero. Como se percebesse o perigo que corria, a criança começou a chorar e debater-se.

-“Ajude-o! Ajude-o, Julia!”                       

Suplicavam as vozes, em minha mente. Senti-me impotente.

Um forte estrondo fez a porta escancarar-se, e a figura que estava parada ali, se transformou em fumaça. Meus berros tornaram-se audíveis novamente. Azrrael voltou a sua atenção para a entrada, sumindo num piscar de olhos. Em choque, permaneci grudada ao sofá.

-Julia! Acorde! Vamos!                        

O toque suave da mão e a voz doce trouxeram-me de volta. Tiago me fitava, aflito.    

-Tudo bem... Já acabou.                  

Dizia, acariciando meus cabelos caídos nos ombros. Notei que alguns moradores bisbilhotavam curiosos. Minutos depois Tiago me dera uma dose de água com açúcar, enquanto tentava driblar a advertência do síndico. Deitei no mesmo lugar onde estava, fechando os olhos. Desejei sumir, naquele momento. Senti um par de olhos sobre mim, o que me fez abrir os meus.

-Se quiser conversar...                         

Tiago falou, sentando-se na mesa de centro, à minha frente.

-“Ele” ia matar aquela criança.

Murmurei serena e com olhar fixo.                                               

-“Ele” iria jogar o menino na panela de água quente... Iria matá-lo na minha frente e eu não poderia fazer nada...

As lágrimas, agora poucas, voltaram a molhar minha face. Tiago me abraçou, sem hesitar.

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