Encontro

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Às vezes paro e penso, qual deve ser a graça de ler a história sem graça de um adolescente? Minha vida não tem nada de tão diferente assim de qualquer um de vocês, levo uma vida pacata, com pessoas banais, que acreditam em algo espontâneo e que sim, eu digo que eu realmente não acredito, e esse algo se chama infinito. Por que as pessoas acreditam em algo tão incerto? Algo mais complexo que qualquer outra coisa que podemos acreditar. Eu acho essa história sim, muito pacata, sem graça e sem sentido. Mas fazer o que? Sou apenas, mas um desses jovens clichês.
Mas algo, ou melhor, uma pessoa, mudou algo nessa minha vida. Ela realmente me impressionou, fui quase capaz de acreditar que esse tal de infinito poderia existir. Mas como eu disse anteriormente, o infinito é complexo demais. Mas ela acreditava, em todas essas coisas clichês, bregas, chatas, e, ela amava, e como não amá-la? Minha vida foi tão mais emocionante depois de sua aparição, mas vamos parar um pouco com essas minhas falas toscas e vamos ao rumo de algo mais complexo, algo que realmente me fez ter mais vontade de amar a vida. Bom, então vamos ao início...
Foi no primeiro dia de aula, se bem me recordo, foi em meados de fevereiro, último ano de escola, ultimo ano que eu veria a maioria das pessoas de lá, eu realmente nunca gostei de nenhum deles mesmo, não faria muita diferença assim. Como de costume, sento-me no gramado na entrada da escola até dar a hora, pego meu livro e meu fone, e espero o sinal tocar, e é exatamente nessa hora que Marco chega ao meu lado, estou acostumado a isso todos os dias. Dou uma última olhada no horizonte e já me sinto entrando em uma prisão.
- Bom dia Luke - diz Marco.
-Bom dia- respondo e continuamos a caminhar silenciosamente como sempre fazemos.
Já ia esquecendo-se de mencionar, meu nome é Luke, e você já deve estar pensando naquelas piadinhas de Star Wars do tipo, "Olha lá, é o Luke Skywalker, eu sou seu pai", realmente, muito hilário isso, e eu que o diga ter que aturar isso. Mas a vida se resume a muito mais que um nome, e o que eu mais gosto na vida, são os seus mistérios, e como esses mistérios tem a grande capacidade de deixar a vida mais emocionante e empolgante.
Logo chego ao meu armário e me deparo com algo, ou melhor, uma pessoa que nunca tinha visto antes, ela era tão estonteante, era como se uma luz ressoasse ao seu redor, e percebi que estou sendo clichê, mas como não olhar para algo tão gracioso que você jamais viu igual? Penso em me aproximar e conversar com ela, mas reparo que todos já estão ao seu redor, não apostaria menos, já que ela deveria ser o sonho que todos os garotos quisessem desfrutar, eu seria a última chance desse meu sonho se realizar, afinal, eu sou só mais um menino, mas pra compensar, sou o oposto do que as meninas desejam.
Vejo de relance alguns olhos faiscando para se aproximar dela e me retiro. Afinal não sou muito notável. Estou com meu material em mãos indo pra aula de física, permaneço no meu canto sozinho durante a aula toda, afinal não tenho muitos amigos. Se for contar acho que tenho uns dois. Nem um pouco importante né. Mas eu tinha um pressentimento, um pressentimento clichê de que esse dia seria diferente dos outros, mas ainda não entendo os motivos disso, fazer o que né? Afinal de contas a vida é uma surpresa.
Chegando à aula de física, sentei no meu habitual local de canto e fundo. Dizem que a galera do fundão era a bagunça, em certa parte, eu era a exceção, era como se eu tivesse um círculo de proteção contra essas pessoas, eu sentia como se elas não me quisessem por me acharem estranho, não ligo, nunca quis as companhia deles mesmo.
Sempre fui daquele tipo de pessoa muito fechada para o mundo. Nunca fui me identificar muito com a maioria das pessoas, e nem elas muito comigo. Minha mãe sempre quis que eu tivesse amigos, mas detestava visitas em casa. Na verdade, minha mãe nunca foi de me dar muita atenção, sempre muito trabalhadora e cansada, nem falo o quanto ela é estressada. Minhas notas sempre foram impecáveis, e eu tentava sempre ouvir um elogio quando as mostrava pra ela, mas sempre com aquele papo, podia ter sido melhor, isso era fácil, podia ter tentando fazer outra coisa ao invés dessa simples. Mas vamos voltar a real, ao menino excluído na sala de aula.
Como de rotina, eu estava quieto na minha com meus fones de ouvido, sempre quando um professor se virava para o quadro, eu via bolinhas de papel voando em minha direção, ouvia algumas zoações, nada de tão diferente. Ouço o sinal tocando e vejo que já está na hora do almoço. Será que encontrarei com aquela garota de novo? Tenho que tirar esses pensamentos banais da minha cabeça, até parece que se mesmo que ela me visse ela viria falar comigo. Afinal, não passo de um Zé ninguém. Sento-me e na mesa e vejo Marco e Jenn lá. Na verdade o nome dela é Jennifer, mas ela odeia seu nome, e então a chamou por esse apelido. Mas naquele momento vejo algo que não imaginei ver tão cedo, era ela, aquela menina. Estava cercada de pessoas como antes, ou até mais. Seus cabelos castanhos voavam de uma maneira tão sutil e meiga, seus olhos me afogavam em uma escuridão tão plena e límpida, sua boca era um ímã para qualquer um pela proximidade, eu não sabia mencionar isso de uma forma menos educada do que a quase perfeição, pois não acredito na perfeição.
-Ela deve ser uma próxima líder de torcida, líderes de torcida sempre são populares assim, ainda mais no primeiro dia de aula- Jenn fala como sempre, sem nenhuma sutileza.
Jenn era um tipo de menina calma e meio hippie, era até bonita, com uma voz calma e agradável, seus cabelos loiros ondulados e olhos cinza. Seria uma líder de torcida perfeita, se não fosse sobre os seus conceitos religiosos, que ela achava isso um apelo sexual, pois sempre dizia que os homens que gostam de líder de torcida só querem saber de ter relações sexuais com elas, nem todos... Ok, uma boa parte... Afirmamos que praticamente a maioria, mas também vemos mais do que isso.
Marco era bem centrado, era como eu, uma pessoa de poucas palavras, mas certamente quando falava era algo certeiro tinha um cabelo castanho, meio cacheado, possuía uns olhos na tonalidade mel, uma estatura média alta, e também conhecida como meu melhor amigo. Ainda não falei muito de mim, bem meu nome é Luke, Luke Colb, um nome nem um pouco específico, alto, cabelo liso e castanho escuro, olhos castanhos, e nem um pouco animado com a vida.
Mas de repente, alguém esbarra em mim trazendo-me de volta para a realidade, era ela, pude sentir seus lindos cachos esbarrando rapidamente sobre a minha nuca, e para não dizer que eu já sabia, ela passou direto, sem nem mesmo me notar. Primeiro dia de escola e já frequentando a mesa dos populares, isso realmente é excepcional, na verdade desejo muitas coisas boas a ela, e quem está ao redor dela também, já que não podemos desejar mal ao os outros, não que eu não queira. Mas naquele momento, senti que ela mirou os olhos em minha direção, me senti olhando a um buraco negro, mas a atração que ele me dava era tão ínfima, muito mais além do que eu imaginava, mas para acabar ainda mais com a lucidez de uma pessoa, veio aquele sorriso, aqueles dentes brancos penetrantes, e aquela boca que te atrai. Não hesitei, se você pensa que eu fui lá, está enganado, fiquei vermelho na hora, e a única coisa que consegui fazer foi abaixar a minha cabeça e terminar meu almoço.
Jenn olhou naquele exato momento para mim e já tinha as palavras na ponta da língua, e com um leve risinho em seu rosto não resistiu e falou:
-Vejo que alguém se corou todo por uma líder de torcida- ela ria- mas diz aí, é pra namorar ou você só quer sexo?
Realmente Jenn não poupava palavras quando o assunto fosse tudo que não a envolvia, é realmente, ela era a pessoa que conseguia fazer você pagar os piores micos que você podia imaginar. Sabe o que é ela se perder de você e mandarem te anunciar em frente a uma loja de lingeries dentro de um shopping? Se você não sabe, é melhor continuar não querendo saber. Ela sabe te deixar mais insano do que pensa.
- Mas e você e o Greg? Foi realmente só amor ou não se esqueceu do sexo?- digo fazendo-a abaixar a cabeça com vergonha.
-Não se esqueça de que ele gosta de sadomasoquismo- Marco quase a faz enterrar a cara dentro do almoço.
-Vocês são os amigos menos confiáveis que alguém poderia ter- ela ri- e vocês sabem que eu e o Greg não rola, e nem rolou nada.
-Mas isso foi antes ou depois de ele te falar que era sadomasoquista?- incremento e ainda sou agredido por uma batata frita na cara que Jenn me jogou.
-Antes sua peste- e ela ainda continua a rir.
Digamos que não somos os amigos mais normais de todos, mas algo que sabemos muito bem fazer é um zoar com a cara do outro. Formamos um trio muito bom, eu sendo o tímido, Marco sendo o calado, e por ultimo, mas não menos importante, Jenn, a melhor pessoa quando o assunto é constrangimento em público.
Uma vez, no meio da praça, estávamos nos três, Marco abaixou para amarrar os sapatos, digamos que ele deixou o cofrinho a amostra, Jenn, sem más delongas tirou uma moeda sei lá de onde, acho que foi de Nárnia ou sei lá, pôs ela nas nádegas de Marco, e digamos que na hora de ela botar ela gritou bem alto na praça, ele está contando com a caridade de vocês seus trolhas, então doem moeda ao nosso cofrinho ambulante, e o chutou para frente o deixando muito vermelho.
Mas voltando ao cotidiano, vou avançar um pouco esse dia entediante, fomos cada um para a sua aula, e no final como o de costume, sento no gramado de entrada esperando as aulas extracurriculares de Jenn e Marco acabarem, digamos que a escola neste horário está praticamente vazia, mas uns 20 minutos antes das atividades deles acabarem, algo me ocorreu, era ela, caminhando sozinha pela escola e sentando ao meu lado com aquele sorriso encantador.
-Oi- ela me fala em um tom tão natural, um tom em que ninguém nessa escola nunca falou comigo.
-Oi- fico vermelho na hora, e ela notou isso.
-Não precisa ficar com vergonha assim não, mesmo que isso seja bem fofo, sou só uma garota normal como qualquer uma aqui.
-Na verdade, nenhuma menina popular seria exatamente normal, ainda mais quando vem falar com um dos excluídos.
-Não te acho estranho, você só tem o seu jeito meio mais na sua, e eu também não sou essa menina tão chamativa quanto os outros acham que sou. Eu só quero ser normal.
-Você é normal, eu poderia dizer até mais que isso.
Naquele momento uma buzina toca.
-É a minha mãe, preciso ir. Então, nós vemos de novo amanhã?
-Claro, porque não?
-Nos vemos amanhã então - ela se levanta com um sorriso no rosto, e me dá um leve beijo na bochecha e vai em direção ao carro.
Aqueles foram os segundos de encontro mais felizes em toda a minha vida. Isso pode não ser certamente um encontro e tudo mais, mas esses minutos deveram ser guardados para toda a minha vida, pensei em dizer eternidade, mas nenhum ser é eterno.
Uns minutos depois Marco e Jenn aparecem para irmos embora, e eles me encontram meio que em transe. Mas o que eu posso fazer se esses foram os minutos mais perfeito de minha vida? Conto-lhes toda a história e a Jenn começa a cantarolar no meio da rua: "Luke está apaixonado, Luke está amando, um amor infinito o está esperando"; foi naquele momento que me virei e encarei Jenn, não pude me conter em dizer:
-Infinitos não existem, nada dura para sempre, nós já viemos a terra com uma data de validade pré-definida, ou seja, tudo termina na morte.
Caminhamos o resto do caminho calado, até que cada um se divide em direção a nossas casas. Deito em minha cama e penso em somente uma coisa, será que amanhã ela estará a me esperar?

Por que infinito?Onde histórias criam vida. Descubra agora