Capítulo V

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A imagem da menina do vestido azul voltava frequentemente à mente de Lorenzo. Ele não sabia o porquê, mas ela era diferente; ele queria muito saber mais sobre ela. Queria saber por que estava as plantas do jardim, o que gostava de fazer e se sua cor favorita era azul mesmo.

Nos próximos dois dias, ele tirara alguns minutos de seu almoço para procurá-la, mas a busca era em vão. Ela não estava em lugar algum.

Continuou trabalhando no jardim por mais uma semana inteira, até receber a promoção para trabalhar em outras partes do castelo. Aquilo foi, além de uma surpresa, uma grande honra para Lorenzo. Era tudo o que ele mais queria - além de ver Camila mais uma vez.

A empregada que havia recebido Lorenzo em seu primeiro dia disse que ele começaria a trabalhar nos estábulos, e se o rei gostasse de seus serviços, ele seria promovido novamente, mas dessa vez, diretamente a mordomo.

Logicamente, Lorenzo não tinha gostado muito da ideia de precisar limpar as bostas mal cheirosas que os cavalos costumavam fazer, mas não podia reclamar demais. Ainda era parte de seu sonho. Algum dia ainda poderia ser um soldado. A vida tinha altos e baixos, todos precisávamos nos conformar.

Ele voltava para o interior do grande castelo real quando ouviu um estranho e melódico som vindo de um cômodo um pouco escondido pelas escadarias. Por mais que soubesse que não devia o fazer, Lorenzo não pôde conter sua curiosidade e deu uma espiada para dentro do quartinho.

Ele não podia acreditar. Era ela.

Seus longos e finos dedos percorriam teclas brancas e negras de um instrumento enorme. Lorenzo já ouvira falar dele – e talvez até tivesse ouvido aquele sonido que ele produzia -, mas nunca tivera a oportunidade de ver um com os próprios olhos.

- Hmm... - Camila gemeu, fazendo uma sequência perfeita, até que errou um acorde. - Merda.

Ela se debruçou sobre o instrumento, que fez vários sons horríveis. Quando ela levantou o olhar, deu um saltinho e Lorenzo concluiu que fora ele quem havia a assustado.

- Oh, meu Deus. - Ela se levantou e cobriu o rosto corado com as mãos. - Certo, você não ouviu isso.

- Ah, er, desculpe-me – ele atropelou as palavras, sem saber se deixava o local ou tentava finalmente ter uma conversa com a menina, além de ter contato com o instrumento ainda desconhecido. - Hmm, a Senhora se refere ao palavrão, ou o pequeno erro no último acorde? Ou quando deitou sobre as teclas?

- Sobre tudo isso. E, por favor, pode me chamar de "você".

- Mas sou seu criado...

- Não interessa. Ainda não me casei, e não gosto de pensar nisso...

Lorenzo apenas concordou com a cabeça e esperou que as palavras lhe viessem à mente.

- A Senhora... Quer dizer, você, estava tocando o que? - o homem dos estábulos questionou, aproximando-se devagar da menina das flores.

- Estava treinando uma escala, mas, ao que parece, não estou indo muito bem. - Camila voltou a se sentar no banco com assento de couro.

- Não, você estava indo bem. Só errou um acorde – Lorenzo tentou replicar e a princesa bufou.

- É esse o problema. Eu não posso mais errar. Meu professor já está cansado de me ver repetir esse mesmo erro durante toda essa semana. E eu estou cansada de repetir esse erro!

- Posso te ajudar de alguma maneira? - ele se ofereceu, sem saber se seria mesmo útil.

- Não sei como poderia ajudar. São meus dedos que travam nessa parte – ela riu nervosamente.

- E se... - Lorenzo começou a dizer e Camila levantou as sobrancelhas, esperando que continuasse. - E se você fosse minha professora por hoje? Dizem que ensinando nós aprendemos, e também treinamos.

- Ta bom. Senta aí - ela ordenou, e foi estranho que ela realmente estivesse seguindo o que Lorenzo solicitara. O moreno se sentou e esperou que a princesa lhe dissesse o que fazer. - Agora... Ache o dó central.

Lorenzo arregalou os olhos ao ouvir a ordem. Ele hesitou um pouco antes de afundar várias teclas, pretas e brancas, sendo um fracasso.

- Você não faz nem ideia de qual é, não é? - a garota riu, observando os cabelos do homem dos estábulos balançando de um lado para o outro. - Tudo bem, eu vou te ajudar.

Camila escorregou para o lado de Lorenzo, cobrindo as mãos dele com as suas. Aquele toque fez Lorenzo gelar e enrijecer. Seu coração batia tão rápido e ele agradecia com todo o coração de não ter um pênis de verdade naquele momento.

- Olhe, aqui nós temos as notas mais graves. - Ela guiou as mãos dele para o lado esquerdo do piano. - E essas são as mais agudas. - Ela fez os dedos de Lorenzo apertarem as teclas mais à direita de seu corpo. - Agora ache a que está bem no centro.

Ele contou cada tecla e dividiu o número resultante por dois, encontrando a central na vigésima quarta branca. Camila ouviu com orgulho o som do piano, parando para observar o leve sorriso de Lorenzo. Ela não entendia bem o porquê, mas seu coração batia mais forte e o toque de suas mãos fazia que ela quisesse mais, mesmo sem saber o quê. Ele não era tão alto e másculo quanto os outros homens que a princesa já vira, mas seus olhos, seus cabelos, tudo a atraía. Ela queria ficar perto do novo amigo o tempo todo.

- Princesa - alguém pigarreou da porta, e os conhecidos se afastaram. Lorenzo se levantou, posicionando-se ao lado do instrumento.

- Oi, Garrett – Camila bufou, apoiando a cabeça em sua mão.

- Espero não ter atrapalhado nada, mas o Rei estava à sua procura. - Ele avaliou Lorenzo de cima a baixo, com um semblante enojado.

- Que ótimo. Diga a ele que logo vou a seu encontro. E, Lorenzo, obrigada pela ajuda. Vou conversar com meu pai e tentar te trazer mais vezes para nossas aulas de piano. - Camila piscou disfarçadamente para o amigo, que se encolheu, tímido.

- Tudo bem. - Garrett se retirou rapidamente.

A morena suspirou, passando a mão no cabelo e andando de um lado para o outro. De repente, ela parou e disse:

- Certo... Sente-se, preciso te ensinar uma música.

- O quê? Por quê? - Ele obedeceu, um pouco relutante.

- Meu pai vai querer provas de que você é competente o suficiente para ser meu professor.


Once Upon A Dream (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora