Quando Nihal acordou, o sol brilhava espalhando os seus raios pelo céu claro. Era um daqueles dias em que parece que a natureza quer desforrar-se do outono, mas em vão,pois o frio do inverno incipiente persegue-a sufocando seus ardores.
Senar não estava no quarto e Nihal suspirou aliviada: as palavras do rapaz ainda queimavam em seus ouvidos.
Demorou-se na cama mais alguns momentos, então levantou-se e foi encontrar Soana na saleta central.
A maga estava sentada à mesa, entregue à leitura. Ao seu lado havia uma xícara fumegante e um pedaço de pão preto.
– Bom-dia, Nihal. Senta-te e come alguma coisa.
A infusão era deliciosa, sabia a mel, e o pão ainda estava quente. Nihal recuperou o bom humor.
– Se estiveres pronta, vou falar-te a respeito da prova – disse Soana, e Nihal concentrou-se em suas palavras.
"Para saber se vou ou não acolher-te como minha aluna preciso antes ter uma ideia das tuas potencialidades. A magia é em parte uma capacidade inata, e se tu não tiveres esta predisposição eu não poderei ensinar-te coisa alguma. Entende, Nihal, o mago é aquele que sabe entrar em sintonia com os espíritos primigênios da natureza: é deles que ele tira a sua força e os seus poderes. Ele roga à energia vital que impregna o mundo e, se conseguir ser aceito, recebe em troca as suas benesses. A capacidade de comunicar-se com a natureza pode ser aprimorada e afinada, e este é justamente o papel do mestre,mas precisa ser inata. A prova serve para medir esta capacidade."
Nihal estava bastante interessada na conversa, e interrompeu Soana:
– Estás querendo dizer que o mago só o é porque os espíritos naturais assim permitem?
– No começo é isso mesmo – respondeu a maga, satisfeita com a luz de curiosidade que vislumbrava nos olhos da garota. – As fórmulas dos encantos mais elementares nada mais são do que súplicas aos espíritos naturais. Pertencem a esta categoria os encantamentos das curas mais simples, e alguns básicos sortilégios de defesa. Quando se consegue dominá-los sem maiores problemas, passa-se então ao estágio seguinte. – O tom de Soana tornou-se grave. – O escopo final é conseguir dominar a natureza e dobrá-la à própria vontade: a partir daí já não serão os espíritos a guiar a mão do mago, mas sim ele a dominar os elementos com a sua vontade. Pertencem a esta segunda categoria todas as fórmulas ofensivas, inclusive aquelas impostas nas armas. Só quando alguém é capaz de fazer isso pode com todo direito ser chamado de mago.
– E leva muito tempo?
– Depende. Senar é meu aprendiz desde que tinha oito anos de idade, e ainda não está pronto. E mesmo assim, entre todos os magos que conheci, é o que demonstra a mais marcante propensão para a magia. Eu mesma continuo estudando até hoje, pois a natureza é um livro infinito, rico de mistério e de poder.
Estas palavras entusiasmaram Nihal, fazendo-a esquecer que Soana havia falado de anos de aprendizagem. Sentia-se pronta a enfrentar qualquer coisa.
– Está bem, diz-me em que consiste a prova.
– Precisas entrar na Floresta e ali, no lugar mais profundo e apartado, buscar em si mesma a comunhão com a natureza. Concedo-te dois dias e duas noites: se não conseguires neste prazo, quer dizer que a magia não está em ti e terás de desistir. Masse conseguires, começaremos logo o teu treinamento.
Toda a determinação de Nihal derreteu-se como neve no sol. Tinha imaginado que aprova seria dura, mas aquilo que Soana propunha era simplesmente aterrador. Voltou alembrar todas as histórias que havia ouvido a respeito daquele bosque, sobre o fato de ninguém jamais ter conseguido sair vivo de lá e sobre todos os terríveis espíritos malignos que ali moravam. Para não mencionar os criminosos e a pior escória humana que o transformaram em seu lar.
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A garota da terra do vento
AdventureA garota da Terra do Vento, primeiro volume da trilogia Crônicas do Mundo Emerso. A história da jovem guerreira Nihal – única sobrevivente da devastação imposta pelo Tirano à raça de semi-elfos – conquistou leitores da Itália, Alemanha, Portugal, Tu...