3 SOANA

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No dia seguinte Nihal estava ansiosa para partir. Levava consigo uma pequena bagagem e uma reserva de pão, queijo e frutas que Livon a forçara a conduzir apesar de a viagem ser breve. 

De pé no meio da loja, ouvia mais uma vez os conselhos e as recomendações de Livon. 

– Basta seguir a estrada que sai da cidade rumo ao sul, não há como errar. 

– Sei, tu já disseste. 

– E comporta-te. Soana é uma pessoa severa, não penses que vais levar a vida fácil que tens comigo. 

– Não vou me perder, serei uma boa menina e só haverá elogios para ti. Está bem? 

Livon estalou-lhe um beijo na testa.

 – Está bem. E agora vai, antes que mude de ideia.

 – Adeus, velho. Quando voltar, num passe de mágica vou arrumar direitinho esta bagunça! 

Ao aproximar-se da porta, como quem não quer nada Nihal pegou uma espada qualquer entre aquelas que acabavam de ser forjadas. 

– Nihal? 

A mocinha virou-se com ar inocente. 

– Sim?

 – A espada. Não me parece ter-te dado a permissão para ficar com ela. 

– E tu me deixarias sair por aí sozinha sem ao menos uma arma para defender-me? 

Livon suspirou e rendeu-se.

 – É só um empréstimo. 

– Claro! – disse Nihal, e saiu da loja saltitando. 

O caminho abria-se diante dela reto e seguro, sem qualquer possibilidade de erro. Anova espada defendia o seu flanco e, à medida que penetrava na estepe, Nihal começou a sentir-se em paz consigo mesma; até a ideia da desforra, que até então dominara a sua mente, estava pouco a pouco ficando mais branda. 

Avançava entre a grama alta, na leve bruma matinal, e sentia o outono penetrar em seus ossos. O espetáculo da natureza sempre tivera o poder de acalmá-la. Ao mesmo tempo, no entanto, quando estava sozinha, era tomada pela costumeira melancolia serpeante e sutil, e aquele estranho murmúrio interior voltava a exigir a sua atenção.Naquela manhã também, enquanto caminhava na névoa e o único som que a acompanhava era o dos seus passos esmagando as folhas secas, era como se vozes distantes a solicitassem com seus chamados baixinhos. Todas as sensações que àquela altura já se haviam tornado habituais companheiras para Nihal. E ela não se preocupava: aprendera agostar daqueles sussurros como de velhos amigos.   

  Depois de algumas horas de marcha rápida os primeiros sinais da Floresta apareceram ameaçadores diante dela, e pôde vislumbrar um casebre justamente no limiar das primeiras árvores. Era feito de simples tábuas de madeira, e realmente muito pequeno. Nihal ficou decepcionada: esperava encontrar algo melhor em se tratando de uma grande maga. 

Aproximou-se da porta um tanto amedrontada. Ficou parada ali em frente por alguns momentos. Nenhum barulho se ouvia lá dentro: talvez não houvesse ninguém, chegou a esperar. Então deu de ombros para livrar-se das últimas hesitações e bateu. 

– Quem é? – perguntou uma voz. 

– Sou Nihal. 

Silêncio, depois o barulho de passos ligeiros chegando, e finalmente o rangido da porta que se abria. 

Nihal viu-se diante de uma mulher realmente muito bonita. Alta e feminina, cabelos morenos a emoldurar um rosto ao qual uma leve palidez dava um toque de solenidade,olhos negros como carvão, lábios cheios e rosados. Vestia uma longa túnica de veludo vermelho. 

A garota da terra do ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora