Capítulo 9

1K 128 11
                                    

Os últimos 10 dias foram um tanto quanto divertidos para mim. Irritar Jeremy tem sido cada vez mais prazeroso, ainda mais agora que ele aprendeu a provocar de volta. Ele não se exaltava como fez na primeira noite e levava na esportiva. Porém ainda discutíamos muito, uma vez que Jeremy insistia em reprimir o que pensava.

Também consegui convencer a Sra. Declair de que não precisava de uma dama de companhia.

Entretanto a cada dia que se passava minha preocupação aumentava. Eu sabia que cedo ou tarde Ana chegaria e, quando isso acontecesse, as coisas ficariam feias para o meu lado. Até lá eu aproveitaria a companhia dessas pessoas tão gentis.

Nunca fui muito religiosa, mas comecei a pedir a quem quer que fosse que Alan percebesse seu erro. Assim que Ana chegasse eu estaria arruinada, sem lugar para ir. Seria bem difícil achar outra casa esperando uma noiva que fugiu com um soldado.

Com o passar do tempo, meu estoque de coisas do século XXI começou a se esvair. O primeiro foi o desodorante. Eu detestava feder, portanto quando percebi o fim se aproximando, tentei resgatar um dos meus momentos "nada para fazer" que passei no WikiHow. Consegui me lembrar especialmente de como fazer desodorante pois achei escassos os ingredientes: bicarbonato de sódio, amido de milho e óleo de coco. Vamos ver se funciona!

Pela manhã, fui até Julia que havia me dito no dia anterior que iria em Chipping Campden e que eu poderia ir com ela. Lá eu acharia o que precisava.

- Bom dia, Julia! - A cozinheira estava totalmente imersa numa tarefa. - Já está pronta para irmos?

- Ai, meu senhor! - Julia deu um leve pulo e colocou a mão no peito, se virando para mim. - Quer me matar de susto?

- Hoje não. - Sorri travessa. - Que horas vamos?

- Ai, querida, eu sinto muito, mas não poderei ir. - Não consegui evitar soltar um grunhido. Eu não quero feder, Julia. - Acalme-se, Ana. Podemos ir outro dia.

- Quando? - Perguntei, derrotada, suspirando.

- Semana que vem, talvez? - Quase engasguei com minha própria saliva. Eu não quero feder, Julia.

- Não pode ser tipo... amanhã? - Fiz a cara mais fofa que tinha e esperei pelo sim.

- Não, Ana, não pode. Mas, se quer tanto assim, pode acompanhar Jeremy. Ele irá para aquela área.

- Sabe onde posso encontrá-lo?

- Talvez em seu quarto. Apresse-se, a Sra. Declair avisou que ele iria logo cedo.

Segui o conselho de Julia e, para não ficar correndo pela casa como uma louca a procura de Jeremy, me dirigi a entrada da casa, onde constatei ter acertado meu palpite: havia uma carruagem esperando.

Cumprimentei o cocheiro chamado Mark e entrei na pequena porta. Me acomodei no banco e observei a minúscula bolsinha que carregava. Era púrpura, assim como meu vestido - sim, combinando - e do tamanho de uma bolsa de moedas. A abri e havia um pouco de dinheiro que eu havia pegado com a Sra. Declair. Apanhei uma das moedas bronze na mão. Nela havia a imagem do rei George III de um lado e um brasão do outro, com a seguinte frase "In memory of the good old days"*. Comecei a imaginar o que fez o rei G. III querer colocar tal frase nas moedas, quando fui interrompida pela porta sendo aberta por Jeremy.

Ele estava de preto e fechava as abotoaduras do pulso esquerdo. Quando levantou a cabeça, seus olhos se arregalaram um pouco.

- Bom dia, Jeremy. Se não se importar irei com você a Chipping Campden. Há algumas coisas que preciso comprar. - Sorri, o encarando. Ele só estreitou os olhos, provavelmente imaginando as segundas e terceiras intenções por trás dos meus atos - não o culpo, pois com base nos últimos dias ele tinha muito do que desconfiar -, e se acomodou no banco a minha frente. - Bom dia, Ana. O que precisa comprar lá? Eu mesmo posso pegar para você.

Perdida no tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora