Dick Declair olhou dos d'Franklin para mim, de mim para os d'Franklin, então para sua mulher e filho. Muito enigmático, era impossível saber o que se passava pela sua cabeça. Até que soltou uma sonora gargalhada, que timidamente foi acompanhada pelos outros - exceto por mim e Alan.
- Vejo que não perdeu o humor, Vivian! Sentem-se, por favor. - Richard falou meio a risos.
- Vou pedir para que Jane traga algo para vocês beberem. - Acrescentou Rosana, saindo apressada.
Olhei para Alan, perguntando-lhe o que fazer. Ele simplesmente deu de ombros, tão perdido quanto eu. Mike d'Franklin me encarou seriamente e disse duramente:
- Quem é você, senhorita? Eu não sei que tipo de brincadeira é essa, Dick, mas minha Ana está bem ao meu lado.
Richard encarou sério o amigo, digerindo suas palavras.
- Você está usando meu vestido. - Ana se pronunciou pela primeira vez, me fuzilando.
Abri minha boca para começar a falar, quando Rosa retornou. Vi nela o que minhas palavras seguintes significariam para os Declair: desapontamento, traição, mentiras.... Respirei fundo, me levantei, esqueci dos sentimentos dos outros e comecei a falar.
- Sim, eu estou, Ana. Muito obrigado, eles têm sido muito uteis. Confesso que no início os detestava, são pesados, dificultam a movimentação, mas me acostumei. Sr. Declair, Rosana, me desculpem, eu não sou a Ana. Meu nome é Meredith Snigler, não sou daqui.
- Eu não estou entendendo, querida... - Rosa disse docemente, me induzindo a explicar melhor o que ainda não havia se concretizado em sua mente.
- Eu não planejei nada disso, juro. Creio que ninguém em sã consciência planejaria tal ato... - Fui interrompida por Mike.
- Oras! Se mentiu sobre ser a Ana, por que acreditaríamos agora que diz a verdade? Impostora! Como pode?
- Quieto, Mike, deixe-a se explicar. Você também me deve explicações do porquê a Ana, a de verdade, não estava aqui. - Dick pronunciou sério.
- Obrigado, senhor. - Agradeci o Declair e comecei a contar minha história. - Eu não fazia a mínima ideia de onde estava. Vim aqui pedir informações. Julia me atendeu e achou que eu era a Ana. Perdida e incomunicável, decidi pegar o lugar dela por um tempo, pelo menos até que a verdadeira aparecesse. Foi errado, eu sei, entretanto, a sobrevivência falou mais alto.
Rosana me olhou, completamente magoada.
- Imagino que você não seja primo da Ana, correto, sr. Alan? - A Sra. Declair perguntou ao meu irmão.
- Não, não sou. Meredith e eu somos irmãos. Ahn.... Como posso explicar? Eu precisava encontrá-la para irmos para casa. Porém, ir para casa não é tão simples para nós, por isso embarquei na mentirinha da minha irmã. Me desculpem, mesmo.
- De onde vocês são, afinal? - Dick perguntou.
- De longe. - Alan e eu respondemos em uníssono.
Jeremy permanecia em silêncio. Eu não ousava olhá-lo, mas imaginava a mágoa estampada eu seu rosto.
- E quanto a vocês? - Dick perguntou se referindo aos d'Franklin.
- Você sabe como são essas crianças.... - Começou Mike, usufruindo de toda sua lábia de vendedor. - Ana, em sua inocência de menina, se "apaixonou" - ele frisou as palavras gesticulando aspas com os dedos - por um soldado. Fugiu com ele, mas conseguimos alcançá-los e convencê-la de que aquele tipo de sentimento é passageiro e que a melhor coisa a se fazer era casar com Jeremy Declair. - O homem soltou uma sonora gargalhada. - Que bom que tudo já passou! Agora podemos prosseguir com o casamento como planejado.
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Perdida no tempo
RomanceMeredith Snigler acaba sendo cobaia de um experimento de seu irmão cientista, Alan, e devido a um erro vai parar no século XVIII. Toda sua rotina de festas, nada para fazer e despreocupações acaba ali. Sem ter como se comunicar com Alan, a jovem lon...