09

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Acordei no dia seguinte, eu e Guilherme conversávamos, mas sem qualquer intimidade, como se só fossemos parentes mesmo, era apenas conversa cortês, de educação, nada além disso.

Isso me machucava e ao mesmo tempo me deixava confuso. O que eu estava sentindo por Guilherme? Eu tinha medo de pensar na palavra que começava com a letra "A".

Quando foi no final da tarde, a empregada já tinha ido embora e meus pais e meu irmão precisaram sair. Ficamos eu e Guilherme sozinhos em casa...

Tava aquele clima estranho entre a gente. Guilherme estava lendo "O Príncipe" do Maquiavel deitado na cama e eu estava na minha bancada estudando.

Entretanto eu simplesmente não conseguia me concentrar.

Parei de fazer o exercício de matemática que eu estava fazendo e comecei a encarar Guilherme. Depois de algum tempo ele percebeu.

- Que foi? - ele perguntou de forma seca.

Fiquei parado olhando para ele, sem responder, criando coragem para dizer o que eu queria dizer.

Finalmente consegui reunir força suficiente para abrir a boca.

- A resposta é sim. - eu falei.

Guilherme me olhou perplexo.

- Como que é?
- Você tinha me perguntado se eu queria ser seu Pokémon e eu não tinha respondido. Tô respondendo agora. - falei sem graça. - Eu quero ser o seu Pokémon.

Guilherme abriu um imenso sorriso ao ouvir aquelas palavras, largou o livro na cama e veio correndo na minha direção.

- Ahh Dodói... - ele falou, me levantado no ar enquanto me apertava num forte abraço.

Algumas lágrimas começaram a descer do rosto dele.

- Eu desejei tanto ouvir isso de você. - ele falou. - Cara, não consigo acreditar que é verdade.
- Nem eu acredito véi... Mas você mexe comigo, porra, de um jeito que eu não sei explicar...
- Eu serei o melhor dos treinadores. - ele falou sorrindo, fazendo referência à Pokémon.

Então nossas línguas se encontraram novamente e pareceu que havia anos que eu não sentia o sabor daquele beijo maravilhoso.

Eu sentia o toque da mão de Guilherme em meu rosto.

- Meu Pokémon Dodói. - ele sussurrou sorrindo no meu ouvido.

Ficamos curtindo aquele momento romântico durante alguns minutos.

- Espera aí. - falou Gui com cara de quem tava tramando algo.

Ele foi em passos rápidos até a sua mochila Redley e tirou de dentro dela um estojo de CD. Depois ele caminhou em direção ao meu computador.

- Esse CD aqui foi um colega meu lá do Rio que gravou pra mim. - ele explicou. - A família dele é de Fortaleza. São músicas de algumas bandas lá do Ceará. São bem legais.

Guilherme e suas excentricidades, eu pensei.

Ele selecionou a faixa número sete do CD. (Na época essa música nem era conhecida, hoje em dia ela está mais "famosinha", teve algumas bandas nacionalmente mais expressivas que regravaram ela e tal).

Começou a sair um gingadinho gostoso das caixas de som do meu computador.

- Vem que eu vou te ensinar a dançar forró! - falou Guilherme, pegando em minhas mãos.

Era estranho e ao mesmo tempo gostoso ficar de mãos dadas com o meu primo.

- É só você deixar eu te guiar. - explicou Gui.
- Tá, eu vou tentar, mas eu sou meio desastroso quando o assunto é dançar. - e eu era mesmo!
- Eu vou te ensinar e você vai ficar fera. - ele sorriu.

Um dos braços de Gui estava inclinado, de mão dada com a minha mão. O outro braço dele, ele laçou em minha cintura, puxando meu corpo para junto dele.

- Agora coloca o seu outro braço em cima do meu ombro. - falou Guilherme e eu fiz o que ele pediu.

Então ele começou a me ensinar a dançar forró, enquanto meu computador tocava "Chora, Me liga, Implora"

"Não vai ser tão fácil assim
Você me ter nas mãos
Logo você que era acostumada
A brincar com outro coração..."


A música tinha uma melodia gostosinha...

Depois de um tempinho e com muito esforço, eu já tinha pegado o jeito da dança e estava conseguindo dançar de forma razoável. Era uma sensação tão agradável dançar agarradinho com Guilherme e deixar que ele me guiasse, embalado pela música.

Escutamos o barulho do carro do meu pai chegar e então desligamos a música, fomos para sala e ficamos vendo televisão. Nós dois rindo a toa... Era tão bom estar de bem com Guilherme.

Mas tinha o problema da Monise...

O mais coerente era eu terminar o meu relacionamento com ela. Porém eu não podia fazer isso agora, primeiro porque era falta de educação terminar por telefone e segundo porque ela estava num momento difícil, a avó estava em coma e o avô estava em depressão e ela era muito ligada aos avós, sem contar que tinha o vestibular chegando aí.

O mais sensato era esperar o vestibular passar e foi o que eu decidi. De noite, na hora de dormir, conversei esse assunto com Guilherme, só para sabe a opinião dele.

- Acho que depois do vestibular é melhor mesmo. - concordou Guilherme.

Depois disso ele ficou me secando com os olhos...

- Você quer falar alguma coisa? - eu perguntei.
- Bom cara... - disse Gui encabulado. - Você então não é mais namorado da Monise, certo?
- Sim. - respondi.
- Então cara... - ele ficava lindo vermelho. - Isso quer dizer que você tá solteiro... não é verdade?
- Sim.

Ele então olhou no fundo dos meus olhos de uma forma como ele nunca tinha olhado antes.

- Você quer ser meu namorado? - ele perguntou.

Eu retribuí aquele olhar com a mesma intensidade.

- Quero muito. - respondi.

Ele me olhou com ternura.

- Eu te amo meu Pokémon Dodói... Você faz eu perder a referência, você faz eu perder o chão, você me faz perder o bom senso! Cara, você me deixa perdidinho...
- Eu também te amo, meu Pokémon Gui.

Fomos para a minha cama dormir abraçadinho, peladinhos debaixo do lençol.

- Espera! - exclamei. - O despertador!
- Ah é.

Peguei meu celular e coloquei o despertador para 05h45min.

Deitamos de conchinha, meu primo atrás de mim, com uma de suas pernas em cima da minha coxa, me cobrindo.

Fechei os olhos e dormi profundamente, no conforto do abraço de Guilherme.

05h45min tocou meu celular, nos despertando. Dessa vez Gui foi para a cama dele sem eu precisar pedir, foi bonitinho


Você Quer Ser Meu Pokémon?Onde histórias criam vida. Descubra agora