-Intervenção

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Eu passei mais de um mês confinada por vontade própria no quarto lamentando a morte de Andrew. Não tinha vontade de comer, não assistia mais TV e até mesmo levantar da cama para um simples banho era difícil. Charlie respeitou meu espaço por um tempo, acho que ela percebeu que eu estava mal de verdade.

Até que em uma noite ela declarou intervenção e me tirou da cama à força. Eu tomei banho e ela fez questão de me vestir. Charlie me carregou no colo escada a baixo e me levou até a cozinha que eu ainda não havia conhecido.

-Chega disso!- Ela disse me pondo sentada à mesa- Você não tem comido mais, Elisa! Já passou da hora de superar e esquecer seu passado. EU necessito que você se cuide, não posso te perder.

Ela começou a pegar um monte de alimentos no armário e na geladeira para preparar.

-Come isso por enquanto.- Ela me deu uma colher e um pote com creme de avelã e cacau.

Enquanto Charlie cozinhava às pressas eu brincava mexendo a colher no creme e deixando ele cair no pote novamente.

-Vou te fazer comer à força, Elisa.- Ela disse seriamente.

-Duvido!- Murmurei.

-Duvida?- Ela veio até mim rapidamente, tirou com força a colher da minha mão pegando mais daquele creme no pote e a colocou próxima a minha boca.

Balancei a cabeça negativamente como um bebê que não quer comer. Charlie segurou meu queixo fazendo minha boca focar semi aberta.

-Abre!- Ela mandou.

-Não quero!- Segurei seu pulso.

-Vai ter que comer!- Ela enfiou com dificuldade a colher na minha boca e a tirou- ENGOLE! Se fosse porra você não faria pirraça

Depois um tempo engoli olhando Charlie com cara de brava.

-Ridícula.- Cruzei os braços e olhei para o lado.

-Bem melhor assim.- Charlie soltou meu queixo- Espero que não se repita.- Ela me olhou seriamente.

-Você esta tão doce hoje, deve ter dormido bem- Disse ironicamente.

-Colabore.- Ela piscou para mim e voltou a cozinhar.

Depois de passar um tempo pensando, enquanto Charlie dava atenção ao fogão, eu percebi por fim que ela realmente me amava e estava fazendo aquilo porque queria cuidar de mim.

-Obrigada... Por me tirar da cama.- Disse fitando suas costas largas.

-Isso foi irônico?- Ela me olhou por cima do ombro.

-Não, dessa vez foi de verdade.- Dei um meio sorriso.

-Então espero que agora você deixe eu te dar uma vida de verdade.

-Viver de verdade seria ir pra faculdade, arrumar um emprego, conviver com outras pessoas... Coisas que eu sou privada de fazer por causa do seu ciúme.

-Falamos disso depois.- Seu tom passou de sereno pra sério.

-Não precisamos falar disso. Eu já sei a resposta, Charlie.- Disse conformada.

-Não sabe o que pode acontecer daqui um tempo. Se alguma coisa acontecer comigo não quero que fique perdida...

-Eu acredito piamente na sua cabeça dura.- Disse reparando os detalhes em gesso no teto.

-Se você quer pensar assim...- Ela deu de ombros.

Charlie terminou de cozinhar o macarrão e o pôs para escorrer toda água dele.

CharlieOnde histórias criam vida. Descubra agora