Capítulo 9

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Bati na porta do quarto de Tony e esperei a autorização para entrar. Quando abri o vi deitado na cama, de barriga para cima, observando o teto. Ele me olhou e logo virou o rosto, voltando a encarar o nada.

- Estava esperando para ver quanto tempo você ainda ia demorar para vir aqui – ele disse de maneira bastante fria.

- Estava criando coragem.

Caminhei até sua cama. Ele abriu um espaço e me sentei ao seu lado. Nenhum de nós disse mais nada por alguns minutos. O silêncio parecia mais seguro. Nossa relação andava frágil demais e as palavras tinham o poder de abalar mais ainda o que já não estava muito bom.

Observei seu quarto. Um típico quarto de um rapaz. Bagunçado, cheio de pôsteres de bandas que eu não gostava muito de ouvir espalhadas pelas paredes. Sorri involuntariamente. Por mais que nossa amizade não estivesse muito boa, o dono daquele quarto continuava sendo o mesmo garoto que eu chamava de melhor amigo.

- Do que você está rindo? – Ele atrapalhou meus pensamentos.

- De você.

Ele me olha com uma expressão irritada.

- Veio me ofender mais uma vez? Parabéns, Laura!

- Não é nada disso. É só que ultimamente eu te acho tão diferente do Tony que sempre foi meu amigo. Que fazia parte de praticamente todos os aspectos da minha vida. E ainda assim, olho para o seu quarto e ainda é o mesmo quarto de sempre. O lugar do meu amigo.

- Porque seu amigo ainda está aqui.

Olho para ele e muitas coisas parecem comunicadas naquela troca de olhares.

- Está mesmo? – pergunto. Às vezes penso que não.

- Você também não age mais da mesma forma que antes, sabia?

Paro pra pensar alguns segundos.

- Talvez você tenha razão.

Tony senta na cama e coloca uma de minhas mãos entre as suas. O toque dos seus dedos é quente e parece tão natural. Fecho os olhos ao mesmo tempo aproveitando a sensação e pensando que não posso gostar do que estou sentindo. Meus sentimentos por Tony precisam mudar. Estar apaixonada pelo melhor amigo não traz nada de bom. Os últimos acontecimentos provaram isso.

- Laurinha... – ele diz de uma forma muito suave. – Talvez seja natural mudar. Só que isso não transforma a maneira que eu me sinto com você.

Alguma coisa na forma como ele diz aquilo mexe profundamente com os sentimentos dentro de mim.

- Como é?

Ele me olha sem entender.

- O jeito que você se sente comigo?

Tony sorri e sinto meu coração se apertar mais um pouco. Começo a encarar o chão com medo de continuar olhando nos olhos dele, preocupada que ele possa enxergar toda a verdade dos meus sentimentos.

- Você não devia nem perguntar isso, sua boba. – Ele diz. – Você já devia saber.

Fico esperando que ele diga mais. E então ele continua:

- Quando estou ao seu lado eu me sinto mais feliz. Existe algo em você que contagia, que me faz querer ser melhor. Não importa quem apareça na minha vida, você é e sempre será minha garota. A única que eu posso contar em todos os momentos.

As palavras de Tony tocam meu coração mais do que eu seria capaz de assumir. Sei que não teve nada romântico nelas, mas o carinho com que ele falou foi tão real que é impossível não me sentir especial. Olho para ele e sem resistir ao impulso o abraço.

Tony retribui minha demonstração de afeto me apertando forte contra si. O calor do seu corpo junto ao meu mexe comigo. Antes era tão fácil tocá-lo, abraça-lo sem nenhuma malícia. Agora todas as coisas que eram naturais parecem conter um significado maior.

Me afasto sem jeito e ele não me deixa sair completamente de perto dele, mantendo-me cativa em seus braços.

Olha dentro dos meus olhos e vejo uma emoção forte passar por suas íris. Ficamos nos encarando por alguns segundos que parecem fazer o tempo parar. Toco seu rosto com minha mãe e ele fica muito sério ao sentir meus dedos sobre sua pele. Sua respiração fica mais forte. A minha também. O que está acontecendo?

Sem saber como agir consigo me desprender dos braços dele e sorrio forçadamente.

- Quer dizer então que estamos bem?

Tony suspira.

- Quando é que eu consigo ficar com raiva de você?

Agora dou um sorriso genuíno.

- Fico feliz que está tudo bem – digo. – As coisas nunca funcionam quando brigamos.

Ele me olha com seriedade mais uma vez, uma sombra que não reconheço passando por seus olhos.

- É... Nada funciona.

Sorrio pra ele mais uma vez e volto pra casa um pouco mais tranquila. As coisas podem não estar do jeito que eu verdadeiramente queria, mas pelo menos tenho meu melhor amigo de volta.

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Um Golpe de SorteOnde histórias criam vida. Descubra agora