Capítulo Quatro.

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Cada momento é um novo começo.

T. S. Eliot


Já no meu quarto eu andava em círculos, bolando planos para não ter que fazer besteiras no ensaio. Dentro de mim havia uma estranha empolgação, a ideia de ter que fazer um dueto com Orfeu não me descia bem, eu sentia um aroma chamado "encrenca" eu já sabia que minhas emoções não iriam cooperar comigo. Isso me deixava mais apavorado, em instante de cinco e cinco segundos eu olhava para o relógio, sabendo que logo estaria na casa daquele que faz meu coração se contorcer, era 15h30min naquele momento. Eu sabia que tinha que sair agora para não chegar atrasado, mas meu corpo se recusava a se mexer, meus medos afloravam em formas de calafrios.

- Por que eu aceitei fazer isso? Eu poderia simplesmente ter dito um "não" e não teria que me preocupar com qualquer coisa do gênero, eu deveria está à procura de uma fantasia para o baile. - Mas não, cá estou remoendo uma culpa de ter me enfiado nessa loucura.

Quando deu 15h40min eu já estava a caminho da casa dele, de bicicleta chegaria em 10 minutos, mais o pneu da minha bicicleta estava furado e nesse momento ela estava jogada no quintal de trás de casa. Enquanto eu andava erguia muros para conter minhas emoções, a casa do Orfeu, ficava a quatro quadras do meu bairro, mas do jeito que andava parecia quatro mil.

Quando cheguei à frente de sua casa era 16h30min, me xinguei por ter me atrasado, mas ao mesmo tempo era bom, poderia ser que depois desse atraso ele perceba que não sou compromissado e me libere dessa tarefa indesejavelmente desejada, não sei se isso faz sentido, mas que sentido eu tinha? Estava ali por que gostava de um garoto, estava ali por que não consigo vê-lo triste. Quando cheguei à porta da sua casa a porta se abriu automaticamente e de frente estava um rapaz com uma cara irritadiça.

- O Voou deve ter atrasado né? - Disparou Orfeu irônico, sem disfarçar o desgosto por ter me atrasado.

- Perdão. - Disse entre os dentes. - Perdi seu endereço, tive que falar com alguns colegas para conseguir novamente.

- Ah perdeu? - falou levantando a sobrancelha.

- Pois é, acredita?

-Hum... Entendo, olha pode entrar. – Passei por ele, enquanto Orfeu fechava a porta.

- Pode subir para meu quarto – disse ele indicando a escada. - Todo equipamento está lá só preciso pegar só uma coisa na cozinha, ele ficar no corredor, a terceira porta. Balancei a cabeça concordando.

Enquanto subia pensava como seria aquela tarde era primeira vez que vinha na casa dele pelo menos dentro. Ás vezes eu o seguia só para escutá-lo tocando — eu sei isso é totalmente assustador —, Meu coração estava a mil por hora. Ao chegar ao corredor, parei de andar minha atenção que antes estava voltada para meus pensamentos agora se concentrava nas paredes do corredor — as paredes que eram cobertas de fotografias de show e pôsteres de bandas, fiquei imaginando como eram os pais dele, muitas das fotos encontrava eles juntos, me peguei prestando atenção em umas das fotos do Orfeu criança, não devia ter nem quatro anos, ele estava num show com os pais, os mesmos brilhavam de suor enquanto, os olhos do Pequeno Orfeu estavam esbugalhados com choque sonoro que o show estava propiciando mesmo que ele usando aqueles fones que bloqueia ruído —, Sorri, os pais do Orfeu eram bem alternativos, em umas das fotos, eu encontrava dois jovens de bandanas pretas na cabeça usando roupas pretas e fazendo caretas, outras via a mãe dele em trabalho de parto. 

Toda a extensão daquelas paredes eram cheias de momentos de família, tive que dar uma volta completa para ter nitidez de todas as imagens que cobriam aquele corredor, em outras fotos eu via os pais dele suados em cima de um palco, outras eu os vias no parque abraçado, também tinha várias fotos do Orfeu, em uma delas eu encontrava o pai dele ajudando a andar de bicicleta, olhei mais abaixo no final da parede eu via fotos do casamento dos pais deles ambos de preto, sua mãe estava longe de ser uma noiva padrão, seu vestido era preto e longo, com rendas cobrindo seus braços, e na saia tinha nomes de bandas escritos em bordados, e outras os via colocando suas alianças. Fiquei imaginando como seriam seus pais, deviam ser divertidos, seriam ótimas companhias, quando me afastei para ver mais fotos percebi que entre os espaços das fotos, tinham frases de músicas, estavam rabiscadas de giz, umas delas eu reconheci sendo uma letra do Lulu santos. "Eu vejo a vida melhor do futuro" lembrei da música e comecei a cantar baixinhos. Entre outras fotos tinha a frase da canção "Pais e filhos" da Legião Urbana. É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Aquele mural era realmente lindo, me senti tão feliz por te visto um pedaço do mundo do Orfeu, a mãe do Orfeu era que mais parecia com ele. Era moreno de cabelos negros e sorriso travesso o mesmo sorriso dele.

Ao Fim de um Começo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora