A chuva caia forte, acompanhada de trovoadas e ventos furiosos. Sob um grande guarda chuva, difícil de segurar devido ao vento, Agnes e Arthur seguiam depressa pelas ruas detrás da sua, rumo ao final da vila, onde começava um vasto campo sombrio.
Ressentida, Agnes desabafou:
- A culpa é minha! Terminei com ele hoje, de um jeito totalmente estúpido. Falei como se o ano que passamos juntos não tivesse significado nada. Claro que ele não receberia muito bem...
- Nada bem você quer dizer. - falou Arthur, ríspido.
- É, nada bem... Ele não aceita que eu quero ficar contigo agora. - ao escutar isso, Arthur sentiu seu coração pesar. - Quer dizer... Eu sabia que ele não ia entender, mas nunca imaginei que ele faria uma coisa dessas.
- Rá! Um namorado ciumento inconformado com o término da relação... Nada mais ridículo e comum... - disse o garoto,consigo, tentando acobertar a culpa de si mesmo.
- O que disse?
- Nada, nada. Só pensei alto... - e logo que, ao longe, avistou a silhueta capenga do galpão, coroando o alto dum morro, ele exclamou: - Olha lá! Dá pra ver que a luz está acessa!
Um rio traiçoeiro separava-os do objetivo, e para atravessá-lo havia uma ponte precária de madeira e cordas, que balançava ao vento. Estando Arthur à frente, cuidadosamente iniciaram o percurso por ela: qualquer passo em falso os lançaria direto na correnteza feroz do rio...
Quando já tinham passado da metade da ponte, a ventania tornou-se mais violenta. Intensificara-se tanto, que arrebatou de uma vez o guarda chuva de Arthur, e quase fez a ponte girar 90° graus no ar, obrigando-os a se agarrarem com todas as suas forças nas cordas para não despencarem rio abaixo. Enquanto a ponte ia de um lado a outro, como um barco viking fora de controle, Agnes gritava apavorada. E Arthur murmurava uma prece aos deuses, pedindo proteção.
O vento acalmou-se, e logo a ponte começou a diminuir o embalo. Apenas quando ela estabilizasse por completo, é que seguiriam adiante. Mas não tiveram tempo, o lado do qual vieram desabou. O abalo quase derrubou Arthur, e lançou Agnes num ponto frágil da ponte, onde ao pisar para tentar reequilibrar-se,arrebentou, deixando uma de suas pernas penduradas.
Nos moldes tradicionais de pontes,quando um dos lados desabara,já era para Arthur e Agnes terem caído com ponte e tudo no rio, mas a que se encontravam possuía uma armação superior de madeira e cordas que, mesmo em estado precário, suportou o abalo provocado pelo vento, salvando-lhes a vida.
"Não vai aguentar muito...", pensou Arthur, preocupado, observado o estado da armação, enquanto Agnes implorava socorro.
- Aguenta Agnes! - berrou ele, pondo-se em pé com cuidado. - Já chego aí!
Guiando-se pelos pontos que julgava mais seguro, alcançou a menina e, apoiando-a em si, ajudou ela a levantar e a sair da ponte. Tudo com muita cautela. Mal deixaram a ponte, a armação que a sustentava ruiu e ela veio abaixo, sendo devorada pela correnteza do rio.
Delicadamente, o jovem deitou Agnes na grama encharcada, sob a forte chuva, e perguntou:
- Tudo bem contigo?
- Sim... Só a minha perna... Tá doendo...
Ao mirar a perna dela, viu-a esfolada, toda ensanguentada, em meio ao jeans retalhado. Vendo acara de espanto do outro, a guria largou aflita:
- Tá feio, né? Deixa ver como tá...
Mas o rapaz não permitiu:
- Fique deitada. E quieta. Sei quem pode nos ajudar...
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Sob Olhar das Erínias
Novela JuvenilAté onde você seria capaz de chegar por vingança? Arthur, um jovem Wiccano, mal voltara a sua antiga escola na pequena Vila Elza, e logo tornou-se amigo da explosiva Agnes Carvalho. Mas ao descobrir que ela é a namorada de Cristhian, com o qual poss...